A Fantástica Fábrica de Arrocha

Ele não é Willie Wonka, não vive cercado de Upa Lumpas, mas operando apartir de uma simples lan house, de uma cidade minúscula do interior da Bahia, deu um chocolate nos empresários de grandes gravadoras que ganham mega salários para não conseguirem reiventar o sistema de distribuição de música.


Eis O CARA

Estamos falando de Marcelinho Inho, um cara que com a persistência de quem acredita em suas idéias, fez com que sua comunidade no Orkut, a Acervo Arrocha fosse não apenas fundamental na divulgação do ritmo, como uma importante vitrine para que bandas novas fizessem sucesso.

O ano era 2003 e Marcelinho começou a trabalhar na lan house Infoline, uma das primeiras a pipocarem na cidade de Itamaraju, situada a pouco mais de 100 Km de Porto Seguro. O Arrocha era na época um gênero novo, mas que cada vez mais adquiria predominância nas praias. Era o som do verão nos últimos dois anos. As pessoas curtiam as férias, gostavam das músicas, mas ao voltar pra casa, nada de achar algo para baixar e seguir ouvindo.


Marcelinho na Lan House

Tinha Axé, Brega, Forró, Pagode, mas nada de Arrocha. O pessoal de fora passou a recorrer então ao Marcelinho da lan house, que comprava os discos nas barracas dos camelôs, convertia em mp3 e enviava via MSN. Marcelinho começou a ficar famoso. Sua lista de contatos começou a bombar. Só que as luzes da ribalta começaram mesmo a apontar para sua pessoa quando surgiram os servidores gratuítos.

Era tudo que o lazarento precisava pra parar de perder horas e horas aguardando o final do "enviar arquivo". Criou a comunidade Acervo Arrocha e passou a disponiblizar os discos pra galera baixar, no esquema dos tópicos fixos para cada banda. Só que no começo foi foda. Como sua fama ainda era relativa, os arquivos que não eram baixados no período de dez dias, o Rapidshare, que era o servidor que era usado, apagava impiedosamente. O coitado, do alto de sua obstinação, chegou a passar cinco madrugadas enfurnado na lan house subindo seus arquivos.


Não bastasse todo esse trabalho, Marcelinho ainda tinha que aguentar doidinhos insones com TOC

Seus pais passaram a ficar preocupados, o pirralho não estudava, trabalhava no que eles consideravamm um emprego sem futuro e ainda por cima passou a não dormir. Para complicar ainda mais as coisas, no final de 2007 a Infoline fechou as portas e Marcelinho se viu no Olho Offline da Rua. Só que Marcelinho é um idealista que acredita na sua causa em prol da divulgação Arrocha, o gênero baiano mais discriminado pela mídia, ele não desistiu. Passou a clandestinidade. Postava seus Arrochas apartir da lan house em que seu imão trabalhava, sem que o patrão sequer sonhasse que seu estabelecimento estava sendo usado para revolucionar a musica popular brasileira.


Alimentando a carcaça depois de uma madruga de uploads

Existe um deus grego chamado Dionísio. Dentre outras atribuições referentes a este deus, consta que ele é o deus das festas, das danças, da cachaça e da putaria. Depois de um ano e meio de muito esforço, parace que Dionísio abriu seus olhos para a passoa física de Marcelinho e falou para consigo mesmo:

- Vou fazer deste menino uma pessoa jurídica. Que eu cegue se não farei esse viadinho virar uma figura estourada!!

A comunidade começou a crescer vertiginosamente, tornando-se fundamental para o sucesso e reconhecimento de artistas como Bonde do Maluco, Trem Bala e Edu & Maraial. Claro que nestas alturas do campeonato Marcelinho já sabia de sua importância no meio, porém, por uma questão de honra, não aceitava ajuda financeira para divulgar banda nenhuma.


Gravando shows pra postar na comunidade

Um encontro casual, no entanto, foi decisivo para a profissionalização e institucionalização da comunidade. No final de um show, quando foi pedir CDs para postar na comunidade, Marcelinho foi abordado por Tenente Ramos, produtor de Edu & Maraial e Trem Bala. Ele o acolheu e lhe abriu os olhos:

- Rapaz, não tem o mínimo cabimento você ficar aqui implorando discos. Você não faz idéia da sua importância para Movimento Arrocha. Você tem direito a tudo isso daqui, camarote, camarim, viver entre os artistas!

Apartir de então a comunidade Acervo Arrocha passou a ter patrocinadores e Marcelinho pode jogar na mesinha da cozinha a primeira nota de cinco Reais e dizer:

- Ó mãe, quem foi mesmo que disse que Orkut é coisa vagabundo?


Agora no showbusiness, acompanhando a banda Fuska Virado

A gota d'água, por assim dizer, para que a comunidade fincasse definitivamente sua bandeira na história do Movimento Arrocha, foi em 2009, através de um telefonema de nada mais, nada menos que Dan Ventura, cantor e compositor do Bonde do Maluco, a principal banda do gênero. Depois de uma longa conversa os dois passaram a ser amigos, com o Bonde dando uma substâncial ajuda financeira, de modo que desde então, Marcelinho passou a viver única e exclusivamente de sua comunidade.

Hoje, de Marcelinho da Lan House, passou a ser a celebridade conhecida por Marcelinho Inho e o figura vive na estrada, acompanhando bandas, tomando cerveja na conta dos outros, afinando o bilau de tanto traçar gostosonas, num caso de união entre o útil e o agradável jamais visto na história desse país.


Colhendo os louros da fama, cercado de beldades e com amplos poderes de escolha

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