A mais nova funkeira do Rio não vem dos morros. Cunhada de João Gilberto e filha do conhecido dentista Olympio Faissol, a cantora Heloísa Faissol anda fazendo sucesso no Youtube com a música "Dou pra cachorro". Aos 38 anos, depois de ter sido estilista, acrobata, atriz, pintora e bailarina, a socialite resolveu cantar funk safadinho, chocando a família e o high society.
- Estou sem falar com minha família desde o ano passado. Tenho um irmão diplomata que está achando que eu estou doente - conta, às gargalhadas.
Heloísa vem sendo chamada de a nova Narcisa Tamborindeguy, de quem ela até admira a "autenticidade", mas acha que falta pé no chão. O outro apelido é Heloísa Quebra-Mansão.
Mas, por que agora a música? Por causa do Chico Buarque, ela exclama. Na tentativa de conquistá-lo, Heloísa escreveu textos, cartas, poemas, músicas e pintou quadros. Sua última cartada foi arriscar um rap: "Miau, miau, miau, pode até fazer au-au, pois só vou me sossegar quando eu te conquistar".
- Quando conheci o Chico, eu o admirei muito. Além de ser um grande artista, ele é ótimo pai, respeita a ex-mulher, é encantador, ético, ajuda outros artistas, ajuda os pobres, daí fiquei meio obcecada por ele. Tive até que fazer terapia porque minha vida parou - conta.
Admiradora de Preta Gil, Rita Lee e Carla Bruni, a funkeira que só tem "Dou pra cachorro" atualmente no repertório, atrai críticas. O DJ Marlboro disse que entende "quando os meninos da comunidade lançam músicas pornográficas, apesar de não concordar", mas uma patricinha ele não aceita porque "é muita queimação de filme para o funk". Por outro lado, Heloísa recebe o apoio de Tati Quebra-Barraco, com quem pensa em gravar.
- Por causa dessa música, ficam falando que eu sou burra. Mas deixa pra lá, um dia eu vou mostrar minhas outras letras, que falam de política, amor, crise, drogas - diz, enquanto fuma um... Marlboro.
Ela gostaria de gravar um CD e se apresentar no Via Show:
- Com a música, eu me encontrei. Não tenho dinheiro para fazer um CD agora, mas não vou desistir, mesmo sem o apoio da família.
Seu filho, João Artur, de 12 anos, entende o trabalho, ela diz.
Desde que começou a cantar seu primeiro e por enquanto único funk (Versão original: "Tô fervendo, tô no ponto, eu dou no primeiro encontro/ Se você for tarado, vem que eu gosto do babado"), as relações com a família estremeceram:
- Minha mãe mandou um recado de que me perdoou. Mas, de quê? Eu não matei, não roubei, não traí, não menti, mas eles não compreendem meu trabalho. Meu pai é um que vem com um discurso moralista.
João Gilberto, pai de sua afilhada Luisa Carolina - filha de sua irmã, Cláudia Faissol - também parece não aprovar.
- Soube que ele disse "A Lolozinha está muito doente. Precisa ser tratada". Ficou horrorizado - conta - Mas o João é um amor.
A carioca, que agora frequenta o Morro da Babilônia, no Leme, quer distância das "festas chatas" e dos "papos fúteis".
- O high society é falso. As pessoas mais simples falam na lata: "O cara transava mal pra caramba, parecia uma britadeira". As socialites dizem, com um sorrisinho: "Ai, ele é um amor". Às vezes, nem transam, nem gozam, mas têm que representar aquele personagem lady.
Depois de ser chamada de "Helouca" pelos antigos amigos, ela decidiu só andar com artistas e a turma da comunidade.
Formada pela Escola Suíço-Brasileira, em Santa Teresa, Heloísa estudou com Letícia e Tonico Monteiro de Carvalho, Marisa e Maria Rita Magalhães Pinto e Jaqueline De Botton. Aos 17 anos, foi morar em Paris, onde se formou em moda pela Esmod. Quando voltou ao Rio, resolveu abrir um ateliê, que durou pouco mais de um ano. Então estudou marketing, acrobacia, circo, pintura e namorou Duda Lacerda Soares, Andy Lundgren, João Pellegrino e o editor Charles Cosac.
Hoje, apesar de cantar para quem quiser ouvir que dá pra cachorro, conta que "está na seca".
- Eu adoraria estar dando pra cachorro porque quem dá pra cachorro deve estar feliz. Mas eu sou muito romântica. Escrevi essa letra inspirada numa amiga que estava dando mole para todos os homens num bar, e no Nietzsche, meu cachorro, que ficava trepando na perna de todo mundo que ia lá em casa.
A música que toca nas rádios é uma versão mais light da que roda na internet. Os DJs acharam o funk pesado demais e pediram uma letra mais leve.
- A maioria das pessoas para quem eu mostro a música cai na gargalhada. É quase uma coisa infantil, é lúdica, debochada.
Heloísa tem na gaveta o "Funk da galinha": "Cócórócócó, vem, me roça o fiofó/ Cócórócócó, te dou mole, dou sem dó".
Resta saber se as rádios vão pedir uma versão mais leve...
fonte: O Globo