sexta-feira, 3 de junho de 2011

Por um Help! para a Música Sertaneja

Que a música sertaneja tenha se firmado como a música jovem da geração atual é uma coisa só os analistas mais cegos ou teimosos podem se negar a admitir. O pop rock perdeu o trem da história e será muito dificil correr pra se agarrar no último vagão. E o mérito é todos dos artistas sertanejos, que suaram muito na estrada, construindo suas reputações às margens das grandes gravadoras. Se hoje eles estão nelas, que fique registrados que foram contratados quando já estavam prontos. Nenhuma gravadora lançou e projetou nenhum artista sertanejo.

Só que ao tornar-se a nova música jovem brasileira, o sertanejo passou a ter uma certa responsabilidade histórica, por assim dizer. Uma responsabilidade maior do que se pode imaginar, porque com exceção talvez do reggae, nenhum país fora do eixo anglo-americano produziu uma musica jovem que tenha feito frente ao rock. E essa responsabilidade se apresenta neste momento através da necessidade de inovações de conteúdo, posto que a fórmula já está inovada.

Nenhuma dupla representa mais esta urgência do que João Bosco & Vinicius, através de seus dois recentes trabalhos em estúdio. Em 2009 lançaram Terremoto, que sob a batuta do produtor Dudu Borges, consolidou a veia pop que conquistou a juventude e deixou a velha guarda da musica sertaneja de cabelo em pé. Inclusive este conflito de gerações é a prova maior da ruptura que o novo sertanejo está fazendo. Ruptura é o que move a juventude e ruptura é algo que o rock não tem mais cacife para causar.



Depois de dois anos, João Bosco & Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente. A fórmula é a mesma, mas não emplaca. É que depois do arrasa-quarteirão que foi o "Aí já era" de Jorge & Matheus, fica no ar esse mesmo trocadilho, aí já era, mais do mesmo não cola mais. A música sertaneja precisa de um novo salto evolutivo. E que salto seria esse. A qualificação das letras.
Porque versos como "Como uma abelha pousa numa flor / moça você chegou me dando amor / Como uma abelha ferrou meu coração / deixou saudade e o veneno da paixão" são francamente sofríveis, rimas de uma pobreza etíope. A situação atinge níveis de dramaticidades sheakepearianas em "Chuva".

Uma música que tem uma arranjo que tinha tudo para ser a "Strawberry Fields Forever" da música sertaneja, naufraga nos versos infantis de "O céu está fechado escuro me parece vai chover no meu jardim / Depois que você me deixou nunca mais choveu em mim / Como esquecer todas as noites que a gente se amava sem pensar / Não tinha luz fazia frio e a chuva nos molhava / Chove chuva, chove vem lavar esta saudade / Leva do meu peito as lembranças que me invadem"

Não citei uma música dos Beatles por simples pedantismo. É com a trajetória do quarteto de Liverpool - e do rock, por extensão - que quero fazer uma comparação, posto que é premissa inicial do texto. Em 1965 John Lennon encontrava-se em um impasse criativo que o incomodava muito. Foi num encontro com Bob Dylan que ele saiu desse impasse. O cantor americano de folk music o aconselhou a pensar em sua música como uma forma de arte. A ficha caiu e apartir do disco Help! os Beatles passaram a compôr canções com letras mais rebuscadas, arranjos mais audaciosos e a guinada resultou, dois anos depois, no disco Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, o disco mais importante da história do rock.



Não fosse a coragem e a ousadia de John Lennon, o rock talvez tivesse sido uma moda passageira, que era o que se apregoava na época. E na música sertaneja, é o que apregoa a velha guarda. Que um disco de música sertaneja de letras mais trabalhadas seja anti-comercial é algo que carece de provas, estudos e pesquisas. A inteligência do público jovem não pode e não deve ser subestimada. O público as vezes tem necessidades que ele próprio desconhece.

O fato de que duplas sertanejas estejam regravando músicas como "Sou foda", "Minha Mulher não deixa não" ou "Você, você, você, você, você quer" é uma clara demonstração que chegou-se a um fundo do poço perigoso para o gênero. Precisamos urgentemente que um Bob Dylan de botas dê uns conselhos para um John Lennon de chapéu e viola. Quem se habilita?

9 comentários:

E Timpim Timposo é fã do genial John Lennon!!! e não é de hoje, rs rs rs...

Olá grande Timpim.

Você é um cara inteligente e tem cultura e preocupações nobres, percebo nitidamente.
A loucura pra uns é a sanidade de outros. Vejo tua sanidade.

Tenho algumas reflexões a RECAPITULAR contigo:


- SERÁ QUE AGORA, tu está começando a PERCEBER (concordar?) com a minha visão de proximidade do APOCALIPSE musical sertanejo que escrevi há tempos, deves já saber ou se lembrar ????


Eu Gaspar/Gaspardramus/etc já tive esta visão há uns... digamos... 2/3 anos já ?
Veja que além de nós, já começam aos poucos alguns ouvintes mais críticos (minoria ainda) a se tocar que a fórmula-cópia pop rock não tem futuro para o sertanejo, e que discos "ao vivo" já são insuportáveis e segundo eu já estavam desgastados há pelo menos uns... digamos... 2/3 anos como falei ?

E que esse povinho pretenso atual, produtores e artistas NÃO TEM JANELA nem COMPETENCIA e CACIFE para produzir decentemente um cd de estúdio ????? Ou Músicas atemporais, com Arte verdadeira, Sucessos verdadeiros, etc, etc.

Sempre foi NÍTIDO pra mim.

Mas o poder da lábia pode enfeitiça alguns durante um tempo, mas em dado momento acaba-se o encanto e a carruagem vira abóbora.

É o que acontecerá e ESTÁ acontecendo conforme previsto.

Bom, eu já cansei de falar e prever e escrever por aí, pois, fico na dúvida se me acham um invejoso ou fanfarrão, quando na verdade sempre prezei e RESPETEI a Música. E na minha experiência enxerguei com clareza diante do nevoeiro que se encontrava e se encontra a música sertaneja.
Números comerciais "comprados" sempre mascararam os verdadeiros méritos e qualidade.

E quando se desrespeita a Música, logo, ela não tarda muito em cobrar. E o futuro é Sombrio e Renovador ao mesmo tempo. O tal ciclo de 10 anos não se concretizará neste caso. Será BEEEM abreviado.

Agora vou utilizar pra mim, pois prestes a REENCARNAR tenho MAIS PREVISÕES de um futuro próximo e mais adiante.

Mas agora vou fazer uso delas para
gerar receita própria, quem não gosta um pouquinho de cascalho...
E sempre respeitando a Música.

Tenho prazer em dividir ainda, mas apenas por quem não se encontrar enfeitiçado ou com cegueira temporária.

Mande lembranças a todos.
Estou de olho, hein.
Meus parabéns, continue sempre alerta e atento.

Abraço


Gaspar

estou concordando com voce nesse aspecto de que a musica sertaneja precisa ser mais original e criar novas letras e não ir no embalo do que ja se tem por ai em outros ritmos ou batidas.
estamos precisando urgentemente de novas canções mesmo. entendi o que voce citou e tiro meu chapé pra voce

Em uma palavra? GENIAL.
Abs, Thiago.

Obs: Pra quem esta sempre por aqui, e não entendeu bulhufas que o "famosérrimo" Gaspar falou, basta ir ao blognejo.com.br e acompanhar a saga dele. Principalmente em 2010.

Tudo que esta acontecendo, eu encaro como normal. Se tratando de música, nada mesmo é definitivo. Basta recordar, e ver que existe tanta, mas tanta coisa mesmo, que titularam como "Eterno", e sumiu como qualquer outra coisa desacreditada.

Tenho que concordar que, esta perto do fim SIM esse momento da música sertaneja. O que esta acontecendo, é que vai entrar de uma maneira PRECOCE, comparado com outros tempos, e também porque tem muita gente que está torcendo pra isso acontecer desde que começou. Por isso o de tanto assunto gerado em torno disso. Mas nada anormal.

Cupas? Falam muito em criatividade. certo? Só que, nunca existiu falta de criatividade em novidades, que alias, se pensarmos bem, foi a época mais criativa da história sertaneja (funknejo, sambanejo, popnejo, folknejo, axé-nejo, electronejo, forronejo, e nem sei mais o que), e sim pela total falta de QUALIDADE encontrada em tanta novidade posta no mercado.
E tudo por culpa de gente que não entende NADA mesmo do estilo que entraram, e foram de carona, cagando em cima dele com gosto, visando unicamente dois quesitos: FAMA e DINHEIRO.

-

Fim? Nunca! Sertanejo faz parte da cultura nacional. O símbolo do sertanejo é a bandeira nacional. Diferente do rock/pop, etc, que sumiu do mapa.
Pode ter lá suas baixas, mas sempre vai aparecer alguém com algo novo e diferente por aí que vai agradar. É assim desde o início dos tempos, não é agora que vai ser diferente.
É como no pagode... toda queda que tem, dizem que chegou o apocalipse, mas sempre aparece algo novo, que deixa nos topos das paradas novamente. Resumindo, tudo que é nacional é assim.

Vai ter suas exceções, como Jorge e Mateus, que desde o início da carreira fazem um belíssimo trabalho, e não correm nenhum risco, mesmo se o estilo cair. Justamente porque eles nunca dão um tiro errado.
Fernando e Sorocaba, que se a coisa mudar mesmo, vão sofrer um forte baque. Mas já cansei de quebrar a cara falando em queda, se tratando do astuto Sorocaba, que não dá ponto sem nó também. Ele sempre tem uma carta na manga, e sempre consegue surpreender. Sempre.
Victor e Leo e Paula Fernandes, que é outra conversa, é quase outro mercado dentro de um, e nem sequer vão perder noites de sono por qualquer coisa que aconteça agora.

João Bosco e Vinícius? Eles sabem o que fazem! Só tem que parar de se levar tanto nas idéias de produtores que defende uma ideia que já esta mais do que cara que não vai vingar. Eles que vão ser os heróis ou culpados no futuro de suas carreiras. Só eles.

Realmente Brother, a música sertaneja tomou caminhos bizarros, sou musico, e sinceramente perdi toda vontade de tirar musicas novas ,
algumas são simplesmente impossiveis de se cantar sem que vc se sinta
um idiota. Parabens pela Visão critica consciente!!!!

Realmente acham que é sertanejo!

Ah "Memória Esquecida"!!!

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