terça-feira, 28 de junho de 2011

Barulho na terra alheia - Terruá para 2011

Matéria publicada originalmente no Diário do Pará no dia 28/06.2011

Do erudito ao popular, do clássico ao moderno, o Terruá Pará 2011 foi um sucesso sob todos os pontos de vista. Resgatou a velha guarda e consagrou a nova geração. Se o termo francês “terroir” tenta dar conta da produção endêmica de uma região, sua corruptela “terruá” para o nome do evento não poderia ser mais feliz. O que se escutou no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, nas noites de sexta-feira (24) e sábado (25), foi uma música que só se tornou possível dadas as peculiaridades do Pará, que une floresta e pós-modernidade.

Logo na abertura, após a introdução de raiz do grupo de carimbó Uirapuru, a sofisticação de Sebastião Tapajós, um dos melhores violonistas da atualidade, acompanhado pelo conjunto de percussão Trio Manari. O arranjo ficou pungente e da plateia não se ouvia nem a respiração, tamanha a atenção prestada a cada nota. Ao final de “Prelúdio ao Entardecer”, Sebastião chamou as meninas do Charme de Choro. Com seus vestidos coloridos e esbanjando beleza, as seis beldades - chamadas de rosas pelo galanteador Sebastião -, fizeram uma apresentação que foi um encanto só.

Na sequência, Dona Onete foi conduzida por um roadie ao palco. Mas quem esperou fragilidade sob o peso da idade deu com os burros n’água. A rainha do carimbó chamegoso esbanjou energia com sua voz poderosíssima e seus floreios jazzistas. Carismática, arrancou risos da galera em diversos momentos e encerrou sua apresentação com uma interpretação arrasa-quarteirão de “Jamburana”. Foi aplaudida de pé e deixou um gostinho que quero mais.


Dona Onete, arrasando


A batata quente de se apresentar depois de Dona Onete caiu nas mãos do guitarrista Pio Lobato. Ousado, começou com um solo subaquático cheio de efeitos que evolui para a emulação de uma banda de carimbó, tirando efeitos de sua guitarra que simulavam um grupo percussivo. Era sua genial “Psicocúmbia”. Um entreato perfeito para entrada de Paulo André Barata, que reverenciou seu pai Ruy Barata. Seguro de si e totalmente à vontade, Paulo André puxou o primeiro coro da plateia na noite, com o sucesso “Foi Assim”.

Uma das maiores promessas da atual música paraense, Lia Sophia compõe, arranja, toca, canta, dança e se veste bem. Não tinha como não dar certo. Estava linda e exuberante no palco. Cantou “Ai Menina” e “Amor de promoção”, composições suas que têm uma cara de classicões e grudam no ouvido logo na primeira metade, sendo cantaroladas por todos na segunda. Impecável.

Foi ela quem chamou ao palco a lenda viva da guitarrada, o mestre Solano, que assim como Dona Onete, contrariou a idade avançada com seu dedilhado poderoso. Foram três músicas que culminaram com o clássico “Americana”, em que a plateia se encarregou dos backings vocais.

Outra grande promessa da música paraense, Felipe Cordeiro começou seu set unindo três gerações da guitarrada, tocando com seu pai Manoel Cordeiro e com Solano. Na sequência, duas músicas suas que estarão na sua aguardada estreia em disco. “Legal e ilegal”, uma espécie de música de protesto, é sensacional. Com Felipe Cordeiro começaram os ares de novidade, com Luê Soares e com a grata surpresa dos meninos da Orquestra Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, que encantaram a plateia com sua postura rock’n’roll. Foram muito aplaudidos.

Mas a novidade mesmo foi a participação de Waldo Squash com Felipe Cordeiro. Assim que soou a primeira batida eletrônica, ouviu-se um sonoro woooou! na plateia. Assim começou o clima de pista de dança que foi a introdução perfeita para eles, os visionários, os revolucionários, os malucos da Gang do Eletro. Foi uma hecatombe, o público saltou das cadeiras e uma rave foi formada na frente do palco. A Gang vive um momento mágico em sua carreira. Sem a menor sombra de dúvidas, foram a grande sensação da noite. Foram aplaudidos de pé com pedidos de bis.


Edilson Moreno, o mestre do brega pop


Cantar depois deles seria um tarefa ingrata, não fosse a segurança com que Edilson Moreno, o mestre do brega pop, que chegou chegando puxando o coro com seu sucesso “Stop”, dando continuidade ao baile promovido pela Gang e preparando o terreno para a diva Gaby Amarantos, que apresentou a todos três músicas daquele que é o disco mais esperado do ano, com direção musical de Carlos Eduardo Miranda, Berna e Ceppas.

No final, todos no palco cantando clássicos do carimbó “Sinhá Pureza”, “Macaco” e “Dona Maria”. O Ibirapuera inteiro cantando, dançando e fazendo uso das poltronas como instrumento percussivo. A chave de ouro foi a canja do grupo Uirapuru na frente do auditório. O saldo final foi extremamente positivo. O futuro lançamento do DVD com a gravação do show poderá finalmente fazer o Brasil conhecer a música do Estado de maior diversidade do país. A música paraense, enquanto movimento, precisava de um evento assim.

Link para o original

1 comentários:

O texto foi quase perfeito! Não precisava do dispensável "enquanto movimento" da última frase.

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