O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro

O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.

Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira

Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.

Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3

O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.

Por um Help à Música Sertaneja

Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.

Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos

Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Isaias CDs - Uma Flor de Pessoa

Pra quem não lembra, na esteira do Wikileaks do Forró eu denunciei também os atos de violência praticados por um dos sócios da quadrilha da A3 Entretenimentos, Isaias CDs. Se você não sabe do que estou falando, clique no link do cidadão. Pois anteontem um leitor, que não quis que revelasse sua identidade, naturalmente por motivos óbvios, me enviou este vídeo. Assistam e PASMEM diante das injustiças que ocorrem no estado do Ceará.



Agora vamos especular, como será o nome da nova banda da A3 Entrenimentos? MILÍCIAS DO FORRÓ?

terça-feira, 29 de março de 2011

Clipe da Gang do Eletro - Eletro Cúmbia do Mexicano

Wikileaks do Forró na Revista O Globo

Os homens que copiavam

A lucrativa indústria de sucessos do forró vive à margem de gravadoras, ignora direitos autorais e contrapõe bandas tradicionais a outras acusadas de se apropriar de ‘hits’

por Cecilia Giannette



Atenção, sertanejos modernizados, pagodeiros que batucam em teclados e quejandos do universo muitíssimo popular: se derem mole para o forró, ele vai tostar até o tal do meteoro da paixão. É a bola da vez. Tanto que o gênero musical tem rendido debates acalorados e denúncias de roubos e plágios de trechos e até de músicas inteiras - imbróglios que envolvem empresários e artistas.

As informações dos bastidores começaram a vazar num blog batizado de WikiLeaks do Forró. O site é assinado por Timóteo “Timpin”, jornalista curitibano que ganhou a alcunha de Julian Assange do Agreste pelo que vem descobrindo no mercado dos “copiões do forró”.



O WikiLeaks do arrastapé pegou fogo pela primeira vez quando Timóteo relatou
a pendenga da compra do hit “Minha mulher não deixa não”, chiclete de ouvido
que virou febre Brasil afora no último carnaval e foi registrado pelo músico recifense Reginho. Segundo o blog, Reginho foi abordado primeiramente pela banda cearense Garota Safada, contratada da Luan Promoções, que lhe oferecera
R$ 25 mil pela exclusividade de gravá-la e tocála por aí. Ele deixou sim.

Em seguida, outro grupo cearense, o Aviões do Forró, através da A3 Entretenimentos, propôs pagar ao músico R$ 50 mil por sua participação no clipe da canção, também gravada pela banda. Reginho aceitou, ignorando o trato anterior. Timóteo - que já trabalhou como blogueiro da MTV por seu conhecimento em nichos da música como brega, tecnobrega, forró e afins - afirma que Garota Safada e Aviões registraram suas versões em CD com apenas um dia de diferença. O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) confirma o registro duplo.

“Minha mulher não deixa não” foi catapultada ao sucesso, em parte, graças a um vídeo tosco, não-oficial, que mostra quatro rapazes dançando uma coreografia gaiata na praia. Postado no YouTube em novembro de 2010, marca mais de oito milhões de acessos até agora. Em fevereiro, porém, lá estava a banda Aviões do Forró, máquina do gênero à custa de regravações, animando uma das festas do “Big Brother Brasil”, em horário nobre da televisão. E não deixou faltar no repertório da noite, é claro, o que já tinha se tornado hit.



- O clipe original do Reginho virou sucesso na internet e, a convite dele, acabou sendo regravado com a participação do Aviões. A música caiu no gosto popular por conta dos nossos arranjos, da brincadeira que fizemos - defende-se Xand, cabeça do grupo.

Alheio ao circo que pega fogo à sua volta, Reginho, que até há pouco tempo tocava
em bares na noite pernambucana e tinha “dos Teclados” acoplado ao seu nome artístico, confirma a disputa pela música denunciada no WikiLeaks do Forró: - Rolou briga, sim, e foi feia. Mas a música é minha, isso é o que importa.

Há questões ainda mais graves rondando o hit, além de sua venda dupla para gravação: suspeita de plágio. O Ecad considera bloquear o repasse dos direitos autorais a Reginho porque o refrão da música seria cópia de uma canção do álbum para crianças “Turma do Zé Alegria”, lançado em 2006 em Recife. Essa versão mais antiga está cadastrada, e não são poucas as semelhanças: em vez de “Minha mulher não deixa não”, a letra infantil diz “Minha mãe não deixa não”. A acusação foi feita à instituição em janeiro, e até agora não há definição sobre o caso. - Quem decidirá se é plágio ou não é a Justiça. O papel do Ecad é fazer o bloqueio do repasse dos direitos - explica Mário Sérgio Campos, gerente de distribuição do órgão.

Com o intuito de separar os “copiões do forró” de grupos que têm repertório fincado em composições próprias, o empresário Jósimo Costa, da Forrozão Promoções, lançou no ano passado o movimento Forró das Antigas. Mastruz com Leite (Ceará), Limão com Mel (Pernambuco) e Magníficos (Paraíba) formam a trinca de ouro do projeto, que começa a viajar o país com espetáculos e tem um pequeno documentário homônimo, com cerca
de 30 minutos, também no YouTube, mostrando os bastidores da empreitada. - Agora a gente quer chegar com a força toda no Sudeste - promete Jósimo.

Neto Leite, vocalista da Mastruz, há 21 anos no mercado, critica com rigor a mesmice
da indústria do forró. - Todo mundo tem a mesma voz, a mesma levada. Coloque pra ouvir, sem ver as imagens, as bandas a, b, c, d... Não dá para identificar quem está tocando. Falta identidade. Mas a Mastruz é uma marca. Como a Coca-Cola, como o letreiro de Hollywood... - ressalta, sem falsa modéstia.



Até Solange Almeida, vocalista da Aviões, admite que cansa a massificação de timbres e repertório: - Confesso que muitas vezes se torna mesmice. Mas não é somente no universo do forró. Acontece no pagode, no axé, no sertanejo...

O WikiLeaks do Forró tem revelado práticas, jargões e engrenagens - já conhecidos
em capitais nordestinas, mas novos para o restante do país - que fazem parte, hoje, da construção de um hit. Segundo produtores que trabalham na área, o território forrozeiro vive agora à sombra de pouquíssimos “donos”, termo utilizado pelos próprios artistas para chamar as empresas responsáveis pela formação das bandas.

- O show business no Nordeste é comandado basicamente por duas empresas: a Luan Promoções e a A3 Entretenimentos - explica Raphael Acioli, que trabalha para a Luan, responsável pela carreira do Garota Safada, grupo revelado em 2010 e um dos poucos capazes de ameaçar o reinado pop da Aviões do Forró (da A3), que está na estrada desde 2002.

Felipe Trotta, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador
musical, põe mais lenha na fogueira. Para ele, existe ainda uma terceira empresa brigando pelo território: a Rede Somzoom, de Emanuel Gurgel, “dona” da Mastruz com Leite. - Essas produtoras especializadas em forró eletrônico controlam rádios, programas e um poderoso circuito de shows, micaretas e outros eventos - aponta.

Quando a tag WikiLeaks do Forró pinta no site de Timóteo Timpin (codinome adotado pelo jornalista, que prefere não revelar seu nome por questões de segurança) surte efeito de trombeta do apocalipse. Principalmente quando o autor solta alguma bomba sobre a A3 Entretenimento, que não atendeu aos pedidos de entrevista desta reportagem.

Ele relata, por exemplo, a existência de “olheiros” que têm função bem diferente dos
que atuavam como caça-talentos em casas noturnas do Sudeste até o fim dos anos 80.
Eles não procuram artistas para revelar ao mercado: estão atrás mesmo é de potenciais
hits de iniciantes e desconhecidos para repassar a alguma banda. Com esse propósito, uma rede deles é mantida em cidades estratégicas do Nordeste, como Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia, e Campina Grande, na Paraíba.Quando se deparam com uma música que começa a deslanchar em âmbito local,a informação é passada a uma grande empresa. Uma das bandas de seu elenco, então, aprende a letra e grava sua versão em estúdio.

O passo seguinte do “olheiro” é comprar nos camelôs da cidade em que descobriu a música todos os CDs do artista original e oferecer aos ambulantes, de graça, os discos com a nova versão. A trajetória de sucesso de um grupo hoje depende da distribuição maciça de CDs com seu repertório. - Esse processo acaba com a diversidade e a qualidade - opina Timóteo.

Diretora executiva do Instituto Overmundo (site colaborativo voltado para a cultura brasileira) e coautora - com o advogado Ronaldo Lemos - do livro “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música” (Aeroplano, 2008), Oona Castro aciona o alerta:
- É muito perigoso quando um grupo ou poucos grupos passam a se apropriar de uma cena. Inibem o surgimento de agentes culturais e de novas criações.

O forró permaneceu discreto nas últimas décadas, se comparado a outros gêneros que se modernizaram e abocanharam o mercadão. Nos anos 80, a música sertaneja ganhou nova roupagem e explodiu em todo o país. Na década seguinte, o axé saiu de Salvador para arrastar multidões - coisa que, aliás, faz até hoje. Ao mesmo tempo, numa nova onda, o pagode também virou fenômeno.

Agora, tudo indica, é a vez do forró. “Mas já não foi, não passou, num teve muito disso?”, perguntaria um frequentador ocasional da Feira de São Cristóvão. A resposta, plagiamos do hit do verão: não, não foi não, podia não, o mercado não deixava, não.

Em sua versão atual, o “forró eletrônico” aposta numa mesma receita: versos engraçados, refrão grudento e um riff viciante, levado no teclado ou na guitarra, com muitos metais por cima. O antropólogo Hermano Vianna ainda não analisou as recentes picuinhas desse gueto, mas é todo ouvidos para o forró atual - “sensacional combinação da sanfona com a metaleira tropical”.



Para Felipe Trotta, da UFPE, é uma música jovem, dançante, que busca estabelecer uma nova identidade nordestina, “não mais fundada no sertão, na saudade e no atraso”. - Um aspecto importante é que, ao contrário do chamado pé de serra (estilo tradicional), ele tem grande generosidade com outros gêneros e não hesita em incorporar hits alheios em seus shows, desde que traduzidos sonoramente para a levada forrozeira - analisa.

O advogado Ronaldo Lemos aponta um caminho contra as apropriações e regravações
das músicas. - Elas fazem com que a música se torne cada vez mais executada, tanto em
shows, quanto no YouTube e até nas rádios. E o Ecad é o órgão responsável por fazer
a arrecadação dos direitos autorais por execução pública - diz. - Quanto mais a música for regravada e tocada, mais o compositor tem o direito de receber pelos direitos autorais. A questão passa a ser reivindicar esse pagamento, já que os valores são recolhidos.

Enquanto sua situação com o Ecad não se resolve, Reginho aproveita a expansão nacional do forró e prepara um álbum com 20 faixas, quase todas - garante - de sua autoria. Uma delas, “Azulzinho”, é sobre quem usa Viagra na hora agá. Mas ele aposta mesmo no sucesso de “Total flex”: - Esta fala das gatinhas que gostam de se amar entre si, sabe?

E a WikiLeaks do Forró já rende alguma coisa a seu autor? Recentemente, um olho roxo e outros hematomas. Timóteo procura não “cair na paranoia” e atribuir o ataque, que sofreu à saída de um show, aos desafetos que vem colecionando via internet.

Mas o fato é que levou a coça depois de “pegar pesado” em um texto, relatando ter testemunhado reações violentas de um empresário contra empregados num evento:
- Já chegaram me batendo, e batendo muito. Levaram apenas meu equipamento,
uma câmera digital - conta ele, antes de postar mais bombas em seu blog.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Gang do Eletro - Cabaré do Timpin Top Singles 2011 > PUM PUM PAKATAPUM

Waldo Squash é um cara foda, Marcos Maderito idem e William & Keyla Gentil só fazem fechar a panela, que cozinha o melhor prato paraense da atualidade. O eletromelody da Gang do Eletro é uma obra em progresso, é aquele rango que você fica experimentando o tempo todo, curtindo, gostando e sabendo que a próxima vez que provar, vai ser sempre pior que a próxima e melhor que a anterior.

E quem está destilando essa porra, neste exato momento, é Waldo, o alquimista paraense de mais destaque na atualidade. Pelo menos neste cabaret. Bom, sem mais delongas, ouçam a mais nova receita que ele está experimentando:

Gang do Eletro - Duas Cabeças, uma levada

Texto de Dafne Sapaio, publicado no site Vice

O Pará já é, e qualquer um que acompanhe a música popular brasileira dos últimos tempos sabe disso. O ousado comércio alternativo, a autonomia cultural, a intensa produtividade e a proliferação exponencial de aparelhagens, equipes e DJs — além de uma criatividade enérgica aliada a velocidade da internet — fizeram o Estado entrar no foco de quem faz e consome música no Brasil e no resto do mundo. Esse processo vem acontecendo e se amplificando na última década, mas 2011 poderá ser lembrado como o ano do surgimento do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band ou do Samba Esquema Novo da música paraense, e da consequente coroação de umas das ramificações mais promissoras (criativa e comercialmente) do tecnobrega: o eletromelody. Mas vamos com calma que tal divisor de águas parauaras se chama Gang do Eletro, bicho de duas cabeças (Maderito e DJ Waldo Squash) que precisa ser apresentado.

“E aí? Só na manha?”. Do outro lado da webcam quem fala é Marcos Maderito, o Alucinado do Brasil, cria do bairro belenense de Cremação. Aos 28 anos, já pode ser considerado um veterano, afinal é sobrinho de uma lenda viva da música paraense, Tonny Brasil, e começou, ainda adolescente, na função de roadie de uma de suas mais famosas aparelhagens, a Açaí Machine [Tonny também é compositor de muitos dos sucessos da Banda Calypso]. Não demorou muito e o tio o promoveu a um dos vocalistas da Banda Bundas, uma espécie de cover do Mamonas Assassinas, e foi nessa época, início dos anos 2000, que surgiu o apelido Maderito. Por quê? Ele era muito magro, simples assim.

Mas a Bundas passou e Maderito ficou, já compondo tecnobregas aos milhares e em parcerias com os DJs Miller, Alex, Betinho Izabelense e Rafael Teletubies. “Não tenho ideia de onde surgiu tanta coisa, tantas letras na minha cabeça. E nunca imaginei ser reconhecido em todo lugar como sou hoje. Sinceramente, não sei. Não sei de onde vem tanta imaginação, tanta coisa na minha vida.” Essa torrente de criatividade tem muitos escoadouros, e até hoje Maderito faz muita música sob encomenda, principalmente para aparelhagens e equipes (que são os fã-clubes das aparelhagens), o que é muito frequente entre compositores e DJs paraenses. Músicas assim já possuem um canal de divulgação próprio, os shows e coletâneas de aparelhagens, e isso já é meio caminho para o intrincado sucesso pelos igarapés do Pará.

“Nós somos ricos em música. Temos artistas bons aqui, e a nossa cultura é forte. Eu considero o Pará como um país, um país cheio de ritmos, entendeu?” E Maderito sabe o que está falando, pois faz e ouve de tudo (que é paraense). Mas o coração tem seus mistérios e o dele já tem dono. “Curto muito Baile da Saudade. Minha onda é Flash Brega. Sou apaixonado por Borba de Paula, Magno, Roberto Villar, Wanderley Andrade, Nelsinho Rodrigues e Tonny Brasil, que é meu tio.” Resumindo: em casa, com sua mulher e sua filha de pouco mais de um ano, Maderito gosta mesmo é de ouvir os clássicos bregas das décadas de 70 e 80, um cancioneiro que deve muito à guitarrada, ao merengue, a cumbia e a uma romântica Jovem Guarda.

Só que o tempo de hoje é outro, e a hiperatividade de Maderito o levou a acelerar as batidas do tecnobrega, criando assim o eletromelody, uma mistura da música de festa paraense com o eletrodance europeu do início da década de 1990 (“as batidas são mais aceleradas porque a galera dá mais valor”, diz, na lata). As primeiras experiências aconteceram com os DJs David Sample e Joe Benassi, e em 2008 veio seu primeiro sucesso, “Galera da Laje”, música que lhe deu o título de Rei do Eletromelody e foi feita originalmente para uma equipe. Quem já viu ao vivo ou no documentário Brega S/A (2009), de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho, sabe que “Galera da Laje” é pancadão eletrônico para qualquer pista de dança que se preze eclética e atual.

Quase ao mesmo tempo, um mecânico industrial nascido em Muaná, mas criado em Ananindeua, na Grande Belém, estourou ao produzir um outro eletromelody pioneiro, “Super Pop é Curtição”, composto para a célebre aparelhagem Super Pop. Seu nome é Josivaldo, ou melhor, Waldo Squash. Atualmente morando em Barcarena, o DJ é outra cria exemplar da terra. “Meu pai já era apaixonado por música e tinha uma aparelhagem, como todo mundo aqui tem. Quando era pequeno lembro dele me colocar na beira do toca-discos. Fui crescendo assim, no meio dos sons, conhecendo equipamentos. Acho que já nasci DJ”, disse após tomar o lugar de Maderito na entrevista por Skype.

Mais crescido, Waldo foi trabalhar com áudio em algumas rádios pelo interior do Estado, geralmente como produtor de comerciais e vinhetas, além de ocasionais locuções. “Fui aprendendo a mexer nos programas e comecei a desenvolver minhas idéias. Às vezes ouvia uma música e achava que dava pra fazer outra coisa que ficaria bem melhor”. Entre essas experiências, surgiu “Super Pop é Curtição”, cujo sucesso chegou aos ouvidos de Maderito. Foi então que combinaram de se encontrar para uma carne assada em um restaurante próximo ao terminal de ônibus do São Braz. “No mesmo dia fizemos a base de duas músicas, uma de aparelhagem e outra de equipe”, confessou Waldo sobre aquele 21 de novembro de 2008.

Melhor combinação não podia acontecer. De um lado, o falante Maderito com seu talento para criar rimas freneticamente. Do outro, Waldo Squash e sua permanente curiosidade por sons de todos os cantos da internet. “A gente procura fazer o seguinte: uma mistura do ritmo daqui com o geral que a gente ouve, com um pouco do que os baianos fazem com percussão e um pouco da música pop internacional mesmo. Mas a levada é a mesma [do tecnobrega]. Só é mais eletrônico”, explica o DJ. Pois então, já em 2009 nasceu o primeiro hit da Gang, o “Eletromelody da Indiana”, com referências a novela Caminho das Índias, Osama Bin Laden, Saddam Hussein e o diabo a quatro.

“Tento colocar nas minhas produções também coisas de fora do Pará. Já incluí samba no ‘Tributo a Carmen Miranda’, reggaeton e umas coisas da América do Sul como a cumbia villera [da Argentina]. E tô pensando em fazer umas coisas com pagode.” Waldo concretiza nas bases o que Maderito costuma chamar – e o termo é recorrente em várias letras – de “onda desguiada”. Uma onda diferente, desviada, que parte do Pará e vai engolindo (musicalmente) outras partes do mundo até voltar.

É isso, a Gang do Eletro é uma pororoca de duas cabeças que em um par de anos gerou uma infinidade de trabalhos encomendados e muitas músicas, algumas absurdamente originais como “Panamericano”, “Arrazadora (Sanfona Mix)”, “Friquitona”, “Tecno Cumbia Colombiana” e o tributo a Carmen, tudo devidamente disponível gratuitamente para download em uma conta 4shared. “Gosto de trabalhar com o Waldo porque ele estuda várias coisas, sabe? Coloca uns violinos, ou um cello, ou então um sax. É só o filé. A Gang do Eletro é muito diferente do que fazia antes. Totalmente diferente, e acho que está pronta pra competir com qualquer banda mundial de eletrodance, entendeu?”, é Maderito quem fala, sempre muito sincero.

E como tudo no Pará é muito urgente, pelos menos em termos de música, os dois decidiram voltar ao estúdio para registrar, com mais e melhores equipamentos, o disco de estreia. Em parceria com o GreenLab, um dos braços da produtora audiovisual Greenvision, Maderito e Waldo Squash vão, quase simultaneamente, gravar o álbum (que deve sair ainda neste semestre), preparar o show que farão em São Paulo em abril, idealizar o espetáculo que colocarão na estrada e gravar o clipe de “Galera da Laje” e um DVD. Tudo isso pouco depois do DJ acabar de produzir as bases para o disco de Gaby Amarantos, que participará do clipe e, atualmente, é considerada a embaixatriz da música paraense.

Só que existe mais uma ambição neste projeto: eternizar, sintetizar e divulgar a cultura eletromelody para fora do Estado. “Nada, nada mesmo, é mais a cara da periferia de Belém que o eletromelody. Tu chega lá e já está tudo pronto”, garante Priscilla Brasil, sócia-fundadora da Greenvision, diretora de documentários, clipes e institucionais e, no caso da Gang, produtora executiva. “As pessoas tem uma forma específica de se vestir, de se comportar, de se comunicar (sim, eles usam símbolos pra se comunicar nas festas), de dançar… é um mundo bem maluco”. Um mundo desguiado, tal como Maderito, Waldo Squash e a Gang do Eletro.

quinta-feira, 17 de março de 2011

David Sample - Vida de um DJ de tecnobrega

DJ David Sample from Gustavo Godinho on Vimeo.



Ficha Tecnica:
Direção, roteiro e edição: Vladimir Cunha e Gustavo Godinho
Fotografia: Gustavo Godinho
Assistência de Direção: Carlos Lobo

Menino Sexy - Novo e super produzido clipe de stefhany

domingo, 13 de março de 2011

Luan Santana - na Revista Piauí

Na noite de 28 de agosto, as rodovias que davam acesso à cidade de Barretos, no interior de São Paulo, pararam. A fila de carros se estendeu por 12 quilômetros e durante quatro horas ninguém saiu do lugar. As rádios da região pediam que as pessoas desistissem de ir à Festa do Peão, e anunciavam que a organização se comprometia a reembolsar quem comprara ingressos antecipadamente. Alguns motoristas tentavam fazer o retorno pelo acostamento. Outros, mais obstinados, chegaram a pagar até 100 reais por uma vaga em postos de gasolina à margem da pista e dali seguiram a pé. Dentro do Parque do Peão, uma multidão quebrou o alambrado e invadiu a arena onde são organizados os rodeios e os principais shows da festa, ultrapassando em pouco tempo a lotação máxima permitida pelas autoridades. Ao perceber que não dariam conta da confusão, os seguranças do parque acionaram a Polícia Militar, que chegou com a cavalaria para barrar a entrada de mais pessoas. Indignadas e exibindo os ingressos que tinham na mão, muitas tentavam furar o bloqueio e eram imobilizadas com gás de pimenta. Marcos Murta, o presidente do grupo que organizara a festa, precisou de um helicóptero para chegar a tempo de anunciar a entrada no palco de Luan Santana, o jovem de 19 anos responsável por tanta comoção.



As 60 mil pessoas que conseguiram ocupar a arquibancada e a arena viram surgir por trás de jatos de fogo e fumaça um jovem branquelo de cabelos arrepiados que dava socos no ar. “Te dei o sol/ Te dei o mar”, puxou – e o trabalho estava feito, pois a multidão completou sozinha: “Pra ganhar seu coração/ Você é raio de saudade/ Meteoro da paixão/ Explosão de sentimentos/ Que eu não pude acreditar/ Ah! Como é bom poder te amar!”

Pela próxima hora e meia, o rapaz cantou para uma plateia que lhe devota uma paixão cuja intensidade poucos artistas brasileiros são hoje capazes de despertar. Trata-se de um capital emocional acumulado em pouco tempo. “Dois anos atrás”, disse Luan a seus fãs, “nós pagamos 3 mil reais para nos apresentar num palco alternativo aqui em Barretos. Eu e a equipe ficamos hospedados num único chalé e usávamos até o mesmo banheiro.” Diante dos gritos histéricos, deu o golpe de misericórdia: “Mas nunca desistimos de sonhar e ‘só quem sonha pode alcançar’”, paráfrase motivacional de um verso de Meteoro, a canção com que abrira o show.

“Eu juro que nunca imaginei que ia fazer tanto sucesso, e tão rápido”, disse Luan Santana entre colheradas de cereal Nescau Ball com leite Ninho, num voo entre Ipatinga, no coração de Minas Gerais, e Montes Claros, no norte do estado. “Eu achava que ia acabar formando uma dupla, e que tinha aí uns bons dez anos de estrada para começar a fazer algum sucesso.” Nascido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, filho de pai bancário e mãe dona de casa, Luan era um adolescente que arranhava alguns acordes no violão e cantava afinado nos churrascos de família. Isso foi há cinco anos. Hoje, ele é uma pessoa jurídica com mais de 60 funcionários na folha de pagamento. Cobra cerca de 500 mil reais por show – como fez 306 em 2009 e 250 em 2010, Luan Santana movimentou quase 300 milhões desde que estourou. A cifra não inclui a venda de 200 mil DVDs, 400 mil CDs e a miríade de produtos licenciados em seu nome. “A gente não fala em valores por questão de sigilo e até de segurança”, disse o empresário do cantor, Anderson Ricardo. “Mas você precisa levar em conta que todos os custos de produção, transporte e pessoal saem do nosso bolso.”

André Midani, um dos maiores executivos da história da indústria musical brasileira, calcula que Luan Santana não deva lucrar menos de 2,5 milhões de reais por mês.

A rotina de trabalho de Luan Santana não lhe permite visitas frequentes à família. “A ideia de voltar pra casa é esquisita, porque uma parte da família está em Campo Grande, mas meus pais e minha irmã agora moram em Londrina, numa casa onde estive muito poucas vezes”, disse o cantor a bordo do jatinho Phenom 100, da Embraer. A aeronave fora alugada provisoriamente de um empresário paranaense, porque o jato oficial estava em manutenção nos Estados Unidos. Pintado com sua logomarca – Luan Santana, com o S lembrando uma clave de sol ao contrário –, o avião agora no estaleiro recebeu dele o apelido de “Bicuço”. “É o nome de um personagem do Harry Potter, meio ave, meio cavalo”, explicou. Os seis volumes sobre a história do bruxinho foram transferidos para o jatinho provisório. “Já li pelo menos três vezes cada um deles.” Nos revisteiros ao longo do avião, havia também A Menina que Roubava Livros, um livro para o público juvenil sobre uma garota afastada dos pais na Alemanha nazista, além da edição em 3D da Playboy com a paraguaia Larissa Riquelme na capa. “Às vezes eu acho que vou sentir falta de aproveitar essa fase da minha vida pra sair com os amigos, passear e namorar mais”, remoeu. “Se a gente conseguisse manter uma média de quinze shows por mês, como agora em outubro, já seria melhor e daria tempo de fazer tudo isso.”

O ritmo diminuiu porque o cantor precisou se preparar para a gravação do seu segundo DVD, marcada para 11 de dezembro, no HSBC Arena, no Rio de Janeiro. Tendo renovado o contrato com a Som Livre, Luan Santana convidou artistas consolidados para subir ao palco com ele, como Ivete Sangalo e seus ídolos Zezé di Camargo & Luciano. “Sempre ouvi muito sertanejo em casa, sei diferenciar a toada do chamamé e a guarânia da catira”, garantiu, batucando na perna para marcar os diferentes ritmos.

Apesar de conhecer as origens do sertanejo, há controvérsias sobre o seu pertencimento ao gênero. Tradicionalistas dizem que não há nada de sertanejo ali, uma vez que seu repertório soa muito mais à música pop. Luan Santana é o maior expoente de um gênero apelidado de “sertanejo universitário”. Não existe consenso sobre a origem do nome, mas a versão mais bem aceita é que o ritmo, mais acelerado e pop do que o sertanejo tradicional, teria nascido nos barzinhos que proliferam nas imediações de faculdades do interior do país. Luan rejeita o rótulo – “Nem universidade eu fiz ainda!” – e diz que o que faz é sertanejo e ponto. No livro Música Caipira: Da Roça ao Rodeio, Rosa Nepomuceno conta que quando Chitãozinho & Xororó estouraram, no começo dos anos 80, “os puristas inventaram adjetivos pouco amigáveis para defini-los, como sertanojos”. Igualmente atacado quando apareceu na cena muito à vontade dentro do seu chapelão de caubói, Sérgio Reis é generoso com as novas gerações. Em conversa por telefone, o cantor de Pinga ni mim fez elogios rasgados a Luan Santana – “um fenômeno”. “Ele tem potencial de voz, boa imagem e presença de palco. Mas o sucesso não é só isso, você precisa enxergar a retaguarda, a produção, a administração da carreira”, disse. “Já estava na hora de alguém voltar a cantar sozinho, esse negócio de dupla ficou repetitivo.”

A escolha do Rio de Janeiro para a gravação do segundo DVD de Luan Santana não foi tomada de forma inocente. Representa uma ocupação de território, uma bandeira fixada na capital do único estado que se mostrou refratário à febre das duplas sertanejas nos anos 80 e 90. Luan chegou ao topo das paradas nas rádios populares cariocas, como a FM O Dia, e as classes mais abastadas também entraram na dança. Casas noturnas da moda, tais como a Nuth e a Melt, passaram a oferecer uma noite sertaneja por semana, e cariocas bronzeadas de camisa xadrez, shortinho e bota cantam e rebolam ao som de Meteoro.

Atento à lógica do comércio musical, que desde o advento da MTV estabeleceu que um bom rosto é tão, se não mais importante, do que uma boa voz, Luan Santana já havia removido o aparelho dos dentes antes da gravação do primeiro DVD. Com o sucesso arrebatador que se seguiu, outros detalhes da apresentação visual receberam estudada atenção. Os poucos fios de barba que ele removia periodicamente com cera receberam um tratamento definitivo a laser. O gel que usava nos cabelos, de baixa qualidade – era facilmente confundido com suor – foi substituído por uma pomada seca que facilita a fixação escultórica de seu cabelo meticulosamente atrevido. O tênis foi mantido, apenas se tornou mais colorido. São dados pela Nike. O tradicional uniforme jeans justinho e camiseta ganhou versões 3.0. Erica Folloni, produtora de moda da revista Capricho, foi contratada para se desfazer do que havia de mais sem graça no guarda-roupa do cantor e preencher o vazio com peças dignas de um neoastro. Depois de uma rápida olhada no que estava à mão, Erica tirou as medidas de Luan, embarcou para Nova York, comprou a valer e voltou direto para Londrina, sede do negócio da família. Lá montou diferentes combinações, todas fotografadas e dispostas num banco de dados. Do computador, Luan escolhe o figurino para os próximos shows, e a mãe, dona Marizete Santana, despacha os conjuntos num saco plástico.



Quando Luan Santana acordou, às 15 horas daquele sábado, 30 de outubro, seu secretário Roberval Lelis já tinha passado a ferro as duas trocas de roupas do cantor para o show de Montes Claros e encomendado o almoço na recepção do hotel. A excitação do espetáculo impede o jovem cantor de ir direto para a cama. Nas grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, ele costuma seguir para alguma noitada na companhia de famosos como o jogador de futebol Neymar, atores globais e ex-BBBs. Porém, nas noites tristes das pequenas cidades, Luan volta para o hotel e pede comida pelo telefone – geralmente pizza ou hambúrguer. E disso vive boa parte do ano, pois a maioria dos pernoites ocorre no interior do país. Ele raramente consegue dormir antes de o dia amanhecer. Para ocupar o tempo, fica diante da tevê, assistindo a filmes policiais ou de aventura, sempre com o notebook no colo. Corresponde-se com as fãs pelo Twitter e confere shows de outros artistas no YouTube.

Antes de ir para o quarto, Roberval Lelis combina o cardápio do almoço, que, para Luan, corresponderá à primeira refeição do dia. Como o cantor frequentemente muda de ideia em cima da hora, Lelis se defende encomendando dois pratos diferentes (ele comerá aquele que o patrão dispensar). Em Ipatinga, Luan escolheu filé executivo e Lelis pediu estrogonofe como plano B. No dia seguinte, a poucos minutos da chegada da refeição, Lelis acordou o cantor e, enquanto Luan tomava banho, fez as malas e pôs a mesa. Luan preferiu o estrogonofe.

O adolescente seguiu então para o saguão do hotel. Vestia boné, camiseta, calça jeans e tênis. Algumas dezenas de garotas o aguardavam com câmera e bloquinho na mão. Estavam lá há horas, e Luan as cumprimentou com profissionalismo, embora de maneira protocolar e tentando disfarçar o sono. Chegando ao aeroporto, a cena se repetiu, moças o esperavam. Dali, ele seguiria para Montes Claros, onde desembarcaria e seria despachado diretamente para o show. A banda já o estaria aguardando. A equipe que viaja por terra havia saído de Ipatinga na noite anterior a bordo de dois ônibus embalados de lado a lado com um adesivo de vinil que reproduz o rosto do cantor. Viajavam uma parte da banda, duas backing vocals e a produção. Seguiam também duas carretas para o transporte do cenário e das máquinas de efeito especial, além da estrutura na qual Luan sobrevoa a plateia durante a música Vou Voar. Os quase 600 quilômetros entre as duas cidades seriam percorridos em menos de quarenta minutos pelo jatinho; a carreata levaria quase doze horas.

Os pais Amarildo e Marizete Santana incentivaram os dotes do filho desde que ele começou a solfejar as primeiras notinhas. Entre as muitas fitas que guardaram para a posteridade, há um vídeo em que se vê o menino Luan, então com 5 anos, atracado a um violão a cantarolar o que tudo indica ser o opus 1 de sua obra, uma composição minimalista na qual o verso “O violão tá pesado!” é repetido inúmeras vezes. Aos 9 anos, o meninote começou a ter aulas do instrumento, mas desistiu logo. “Meu negócio sempre foi cantar, eu não queria ser violeiro. Pedi apenas para aprender os acordes necessários para acompanhar a voz”, disse.

Luan Santana tinha 14 anos quando foi apresentado à compositora Elizandra Santos, então com 30, cujo currículo incluía mais de 100 canções que haviam sido gravadas por duplas da região. “Eu me encantei com ele, que já tinha uma voz muito bonita”, lembrou Elizandra numa conversa por telefone. Ela permitiu que Luan começasse a ensaiar algumas de suas composições. Em 2006, Amarildo Santana, o pai, organizou um churrasco em Jaraguari, cidadezinha próxima de Campo Grande, e carregou toda a parentela para ver Luan cantar e tocar violão. Elizandra Santos levou um amigo produtor, Frank Ferreira, e eles gravaram o áudio da apresentação.

O adolescente ficou decepcionado com a qualidade técnica da gravação – bastante ruidosa – e, desgostoso, partiu em dois o seu CD. Frank Ferreira não ficou totalmente descontente com o resultado e divulgou o trabalho. Distribuiu o disco por carros de som que faziam propaganda pelas cidades da região e colocou no YouTube uma das faixas, Falando sério, com crédito de “Gurizinho”, sem mais detalhes. Passado quase um ano, Luan Santana recebeu um telefonema. Era um radialista de Bela Vista, interior de Mato Grosso do Sul. “Você é o maior sucesso aqui!”, anunciou, para surpresa do menino. “Ele queria que eu fizesse um show e garantia um público de mil pessoas”, lembrou Luan, no jatinho. Como era menor – tinha 15 anos – “Gurizinho” disse que não podia decidir sozinho, e pediu ao radialista que retornasse à noite, para tratar com o pai. Amarildo Santana ficou radiante. Combinou-se que Elizandra Santos, que nutria pretensões de virar cantora, faria uma pequena participação.

No dia da apresentação, havia alguém na plateia que viria a ser determinante para a carreira de Luan Santana. Anderson Ricardo, um rapaz de 26 anos, muito branco e de olhos azuis, vira “Gurizinho” no YouTube e ficara intrigado. “Eu percebi que era um produto diferente: um menino cantando sertanejo sozinho”, lembrou com voz pausada e grave. Terminado o show, Anderson procurou Amarildo Santana e disse que gostaria de ser o novo empresário de Luan. “O Anderson falou que a Elizandra queria se vender junto comigo, que não tinha nada a ver”, lembrou o cantor. “Eu tinha que seguir nessa sozinho, e ele podia me preparar para isso.” Amarildo gostou da conversa, e assim foi feito.



A apresentação abriu as portas para novos convites. Anderson Ricardo tratou de regravar o CD ruidoso, repetindo o mesmíssimo repertório. Na capa, além de “Gurizinho”, impresso em letras garrafais, apareceu também, pela primeira vez, o nome “Luan Santana”. As coisas começaram a dar certo. Foi nessa época que o cantor ouviu Falando sério, a composição de Elizandra Santos que o lançara, interpretada por João Bosco & Vinicius, uma dupla já consolidada. Como eles gravariam outras três canções da compositora que também faziam parte do repertório do jovem cantor, Anderson Ricardo e Luan acreditam que Elizandra Santos passou adiante suas músicas como forma de retribuição pelo descaso com que julgou ter sido tratada. Ela nega. “João Bosco & Vinicius já tinham gravado essas músicas, só não tinham lançado ainda. Luan também não foi o primeiro a gravar Falando sério, nem tinha exclusividade sobre ela”, diz. Elizandra não esconde a mágoa por ter sido afastada da carreira do garoto. “Eu fui a primeira a enxergar o potencial dele, o Anderson já pegou tudo mastigadinho”, lamentou. “Aqui em Mato Grosso do Sul, todo mundo acha que ele cuspiu no prato que comeu, porque saiu por aí dizendo que o primeiro CD foi produzido numa boca de porco, num fundo de quintal. É duro ver sua dedicação jogada no lixo.”

Enquanto não encontrava material inédito para Luan, Anderson Ricardo procurou atacar outras frentes. Dedicou-se a popularizar o menino e adestrá-lo para a fama. Agendou o maior número possível de shows nos fins de semana e criou uma promoção em parceria com o jornal Diário do Pantanal – “Leve o Luan Santana para a sua escola” –, que permitia a colégios inscritos receber o cantor para um show gratuito. Durante a semana, treinava Luan a interagir com a imprensa. Entrevistava-o dia após dia, ensinando como devia responder a todo tipo de pergunta. “Eu vim do rádio, sei o que as pessoas querem ouvir”, conta Anderson. Para perguntas da categoria “vida cotidiana”, como, por exemplo, “O que você detesta?”, o empresário treinou Luan Santana a apelar para o humor: “Carne moída” (podia ter sido água mineral, ou bolacha de água e sal). Ao se apresentar pelo interior do país em festas da uva, do morango, do marisco ou do shiitake, Luan aprendeu a sempre responder que a comida celebrada era a sua favorita. “Ninguém precisa acreditar, mas todo mundo acha graça”, ensinou Anderson Ricardo. Ele também estimulou o cantor a criar um blog para divulgar os seus shows e manter contato direto com as fãs que começavam a se materializar.

Os resultados não vieram e, depois de um show em Maringá para um público de apenas vinte pessoas, Luan pensou em desistir.

Em outubro de 2008, Luan Santana escreveu no seu blog: “Sexta show em Brusque... massa demais. Eu tava meio nervoso mas deu td certo graças a Deus. Eu ia abrir o show do Fernando & Sorocaba, eles iam ta la me vendo... ahushaushau... os cara são fera... e tamo ai agora na parceria.” Em sua tacada mais certeira, o empresário Anderson Ricardo conseguira que um amigo o pusesse em contato com a dupla Fernando & Sorocaba, dois músicos respeitados no meio e com uma boa estrada já percorrida. O paulista Fernando Fakri, o Sorocaba, apelido que homenageia a cidade onde se criou, e seu xará rondoniense Fernando Zorzanello concordaram que o garoto abrisse o show deles no interior de Santa Catarina. Passado menos de um mês, Luan Santana publicaria no blog a letra de uma música nova, Tô de cara: “É uma composição do Sorocaba! Valeu Soroca!!” Muito mais animada que as baladas românticas de Elizandra Santos, a letra não passava da reiteração de uns poucos versos, e a melodia compensava a pouca imaginação com o uso pesado de guitarra e bateria. A exemplo do axé baiano, o ritmo era sob medida para animar as multidões. Depois de Tô de cara, Luan nunca mais faria um show sem pedir que o público tirasse o pé do chão e jogasse os braços para o alto.

Numa conversa telefônica em meados de novembro, Sorocaba contou que músicos estabelecidos frequentemente furtam sucessos de iniciantes, processo que ele chama de “matar no ninho”. Para evitar que isso acontecesse com Luan Santana, ele começou a compor exclusivamente para o adolescente, e a produzir suas músicas “pensando no perfil dele, com um papo teen”. Era um contrato comercial. Em contrapartida, 20% de todo o lucro que o jovem cantor auferisse dali por diante seria de Sorocaba. O acordo também previa que Luan Santana abrisse os shows da dupla. “Muita gente torceu o nariz. Me perguntavam por que deixamos um moleque de tênis dividir o palco com a gente”, contou. “Ele cantava bem e conhecia muita música de raiz, talvez até mais do que eu.” Sorocaba acreditava que Luan atrairia outro tipo de público: jovens que não tinham o costume de ouvir sertanejo e, principalmente, meninas adolescentes, que comprovadamente têm o hábito de comprar mais CDs.

Sorocaba compôs outras duas canções para o garoto: A louca e Meteoro. Esta rapidamente se tornaria o maior sucesso de Luan Santana. Anderson Ricardo e Sorocaba gravaram um novo CD, Tô de Cara, distribuído à larga para contatos de rádios e para quem mais levantasse o braço demonstrando interesse. Afora o download gratuito na internet, estima-se que mais de meio milhão de CDs tenham sido distribuídos. Os shows cresciam a olhos vistos e grandes contratantes do ramo começaram a procurar o empresário para comprar datas futuras na agenda do cantor, uma prática do mercado que se assemelha a apostar em opções futuras da Bolsa. Influenciado pelo excesso espalhafatoso dos espetáculos de Fernando & Sorocaba, que empregavam fogos de artifício e rolavam sobre o público dentro de bolhas de plástico, o rapaz começou a investir na produção de seus shows.

Luan Santana pula, dança e rebola sobre o palco, e não é econômico no uso de efeitos especiais: há jatos de fogo e papel picado, e também o tal voo sobre a plateia durante a música Vou voar, ocasião em que o cantor é suspenso por um cabo de aço. A certa altura, Luan anuncia que trouxe um presente para as fãs. Finge então procurar alguma coisa nos bolsos, não encontra e finalmente ergue as mãos em forma de coração. É imediatamente imitado pela plateia, que solta um suspiro orfeônico. O momento mais aguardado acontece durante a canção Chocolate, composta por ele próprio: “Seu olhar é o meu Sonho de Valsa/ É o doce que eu sempre quis,/ Meu Prestígio é estar com você/ E pedir sempre Bis” – os versos seguem assim, num verdadeiro compêndio da chocolataria nacional, e uma jovem da plateia é escolhida para subir ao palco, abrir a boca e receber, das mãos do próprio príncipe, um bombom.

Com o sucesso, o cantor abandonou o blog e passou a usar o Twitter, mais ágil. Em notinhas diárias, ele conta onde está, como foi o show, pede votação em prêmios e divulga fotos de bastidores. Até o fechamento da revista, seu perfil tinha cerca de 800 mil seguidores.

Em abril de 2010, o humorista Bruno Mazzeo escreveu em seu Twitter: “Luan Santana, a versão vesga do Wagner Moura.” Em poucos minutos, o humorista foi bombardeado por milhares de mensagens indignadas de fãs do cantor. Mazzeo deu corda por dias e passou a se referir às garotas como “Talifãs”. Desconsolado porque a polêmica parecia estar perdendo fôlego, ele mandou o bom gosto às favas e chutou o pau da barraca: “Imagina se eu tivesse dito que ele era... enfim, deixa pra lá.” Fazia menção aos boatos persistentes que punham em questão a sexualidade do cantor, um rito de passagem que todos os aspirantes a galã devem atravessar. A origem do falatório foi um arquivo contendo uma suposta conversa on-line que correu a rede, na qual, com muito esforço interpretativo, supunha-se que Luan marcava um encontro romântico com outro rapaz. Desde então, Luan Santana parece fazer questão de propalar a sua masculinidade a plenos pulmões. No programa do Faustão, disse que transava incansavelmente com fãs, antes, durante (sim, durante) e depois dos shows. A edição do programa preferiu cortar o trecho. Exagero ou não, não faltariam candidatas caso ele resolvesse pôr em prática a rotina.

Numa tarde de sábado, um ruidoso grupo de dezoito adolescentes chamava a atenção no Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo. Era uma reunião do Fã-Clube Luan Santana Team, agremiação com mais de 5 mil membros espalhados pelas várias sedes do país. No encontro, seriam sorteados um DVD, um caderno e um porta-CDs autografados pelo cantor. “Quando alguma de nós consegue entrar no camarim, a gente pede para o Luan autografar várias coisas para depois a gente poder sortear entre todo mundo”, explicou a presidente do fã-clube, Jenifer Fernandes, uma morena baixinha de 19 anos e cabelos alisados.

De acordo com Betina Gradim, da Redibra, empresa que licencia marcas como Cartoon Network, Os Simpsons e Ben 10 para reprodução em artigos de papelaria, brinquedos e comestíveis, a marca “Luan Santana” é a única cujo produto é uma pessoa. Atualmente, é a mais popular da empresa. Cadernos como o que Jenifer Fernandes sorteou costumam ser lançados no começo do semestre escolar, mas a gráfica Norma não quis perder tempo e, em setembro, fez chegar às lojas uma linha com o cantor na capa. Mais de 600 mil unidades já foram vendidas. A empresa de doces Riclan, que licenciou uma linha de chicletes com Luan estampado na embalagem, vendeu 56 milhões de unidades entre 29 de agosto e meados de novembro. São aproximadamente 7 chicletes por segundo.

O objetivo central da reunião extraordinária do fã-clube era divulgar a gravação do DVD do ídolo. Feito o sorteio, as dezoito meninas caminharam em ordem unida até o semáforo em frente à casa de shows Villa Country. Ali, seguindo uma coreografia previamente acertada, dividiram-se em três grupos. Era só o sinal fechar que duas delas desenrolavam uma faixa onde se lia “Pura Adrenalina! Gravação do DVD de Luan Santana dia 11 de dezembro no RJ”, enquanto outras duas filmavam a ação. As demais distribuíam folhetos com detalhes sobre o DVD.

Segundo Juliana Teixeira, uma jovem recém-formada em marketing que coordena a central de fãs de Luan Santana, há mais de 1 400 fã-clubes do cantor. “A logística dos fã-clubes mudou muito com a chegada da internet”, explicou, numa conversa por telefone. Antigamente, as garotas se afiliavam a um fã-clube central, organizado por fãs pioneiras e que se tornava referência para todas as outras. Hoje, com toneladas de informações disponíveis na internet, e com o próprio ídolo acessível em ferramentas como o Twitter, aconteceu uma quebra de hierarquia e muitas fãs criam seus próprios fã-clubes.

Juliana Teixeira trabalha no escritório de Luan Santana, numa sala que, segundo ela, é forrada de estantes repletas de ursinhos e corações de pelúcia, metros de declarações de amor e uma penca de calcinhas e sutiãs atirados pelas fãs durante os shows. Para um fã-clube ser considerado oficial, é necessário que possua pelo menos vinte membros e tenha uma comunidade do Orkut em seu nome. Cadastrados têm uma série de benefícios em relação aos fãs avulsos: podem ser sorteados para entrar no camarim do astro antes do show e ganham convites para programas de auditório em que ele se apresenta. Em contrapartida, espera-se que um fã dedicado trabalhe por Luan Santana. A função de Juliana Teixeira é propor concursos que são verdadeiras ações de marketing – por exemplo, quem mais divulgar a nova canção do ídolo no Twitter ganha entradas de graça para o próximo show.

Não era outra a razão da faixa estendida no semáforo do Parque da Água Branca: garantir alguns ingressos na plateia da gravação do DVD, que aconteceria dali a dois meses no Rio. Para isso, era necessário enviar para Juliana Teixeira o vídeo de uma mobilização pelas ruas. “Teve quem pintou carro, quem saiu com alto-falante”, contou a moça, que recebeu mais de 150 vídeos. “A nossa maior motivação é o Luan saber o nome do nosso fã-clube, sermos conhecidas pela produção dele”, explica Jenifer Fernandes, que se gaba de ter o número do celular de vários funcionários da produção do cantor. Viciada em passar as madrugadas investigando a vida de Luan Santana na internet, Jenifer bolou um plano quando, em janeiro de 2010, foi demitida do cinema em que trabalhava. Propôs à irmã que dispensasse a empregada e deixasse a faxina e o cuidado dos sobrinhos por conta dela. Na mesma ocasião, decidiu adiar o vestibular por um ano. O objetivo era não precisar sair de casa para poder se dedicar exclusivamente a Luan Santana.

Depois de meses de estudo, Jenifer Fernandes se tornou praticamente uma erudita do cantor. Com tamanho cabedal, fundou uma comunidade no Orkut, batizada desde o primeiro dia de Fã-Clube Luan Santana Team. Em pouco tempo já tinha o número mínimo de fãs para se oficializar. O plano deu certo. Jenifer não conhece pessoalmente mais de 2% das 5 mil afiliadas do fã-clube que criou.

Em janeiro de 2009, Anderson Ricardo alugou um andar inteiro de um prédio comercial na avenida Higienópolis, a mais importante de Londrina, há poucas quadras do antigo escritório de Fernando & Sorocaba. Amarildo, Marizete e Bruna, irmã caçula de Luan Santana, também se mudaram para a cidade paranaense. O pai Amarildo deixou o banco e passou a trabalhar no escritório do filho. Uma das primeiras iniciativas da equipe foi compilar material de divulgação de Luan Santana para enviar à Som Livre.

A gravadora da Rede Globo, que até quatro anos atrás se restringia a organizar trilhas sonoras de novelas, agora avançava em duas novas frentes: o lançamento de álbuns inéditos de artistas que já tinham laços com a emissora, como Chitãozinho e Xororó, e a criação do selo Som Livre Apresenta, o Slap, que imediatamente se transformou no objeto de desejo de artistas independentes com pretensões de emplacar uma música na novela ou de garantir uma participação no Faustão ou na Xuxa. O filão sertanejo deu particularmente certo e hoje já são mais de quinze artistas vinculados à gravadora.

Na maioria dos casos, o vínculo não vai além de financiar a gravação e a distribuição do álbum – contratos de longo prazo são coisa do passado. Dando certo, pensa-se num novo arranjo. Nos anos dourados da indústria fonográfica, um álbum de Leandro & Leonardo ultrapassava a marca de 3 milhões de cópias vendidas; hoje, com os downloads e a pirataria, um CD que atinja 50 mil cópias já é considerado um sucesso. Mudaram inclusive os parâmetros para que um artista receba um disco de ouro ou de platina. Até 2004, era necessário vender 100 mil álbuns para ter direito ao disco de ouro. Hoje, bastam 40 mil. No caso de platina, o patamar encolheu de 250 para 80 mil. Diante desse cenário desanimador, um entendido do ramo diz que a Som Livre só se vincula a artistas cujo champanhe já tenha sido chacoalhado – o papel da gravadora seria apenas o de sacar a rolha. Era exatamente o caso de Luan Santana.

Os coordenadores do Slap prestaram atenção ao material de divulgação preparado pela equipe do cantor. A recomendação de Sorocaba – à época, contratado da Universal e com algum prestígio no meio – também ajudou. Naquele mesmo janeiro de 2009, a gravadora despachou o coordenador musical Daniel Rigon a dois shows do cantor, com a missão de avaliar o seu potencial. “Ele já era o Luan Santana: os mesmos trejeitos, o mesmo gás. Só que pra 2 mil pessoas, em vez de 20 mil”, lembrou Rigon durante uma rápida conversa no Sertanejo Pop Festival, em São Paulo. Com seu parecer favorável, a Som Livre assinou um contrato para o primeiro DVD do cantor. A gravação reuniu um público de 85 mil pessoas em Campo Grande, e o lançamento foi agendado para fins de novembro, a tempo de chegar às lojas para o Natal.

Nos dias que antecederam o lançamento, os empresários da Som Livre começaram a perceber que tinham um sucesso extraordinário nas mãos. O burburinho nas redes sociais era incessante. Imediatamente, chamaram Anderson Ricardo para rever o contrato. A gravadora propunha um endurecimento das cláusulas em troca de exposição garantida na programação da Rede Globo. Anderson topou e a gravadora tentou emplacar uma participação do rapaz ainda em 2009, mas os programas de auditório já estavam em ritmo de férias. A oportunidade perfeita surgiu quando uma produtora do seriado para adolescentes Malhação recorreu à Som Livre atrás de um artista que pudesse suprir uma necessidade da trama. Uma personagem se tornava empresária musical e precisava de um cantor para empresariar. Era a proverbial azeitona na empada. Luan Santana ficou no ar durante uma semana e as vendas do DVD explodiram. Os programas de auditório vieram na sequência.



No dia 24 de outubro, Jenifer Fernandes caprichou na chapinha, vestiu a camiseta do fã-clube, calça jeans justa, bota de cano alto e saiu às 13h30 de sua casa em Itaquera. Encontrou algumas das garotas do Team no metrô da Barra Funda e seguiram juntas para a Chácara do Jockey, onde a Som Livre promovia o Sertanejo Pop Festival. Luan Santana era a atração principal e, de acordo com a programação, só deveria subir ao palco às 20 horas, mas as fãs queriam garantir um lugar na frente. Jenifer e algumas outras sortudas conseguiram ingressos para a área VIP, e de lá avistaram outras companheiras de fã-clube prensadas na grade da pista comum. Uma delas chorava copiosamente: era Aline Correa, de 16 anos. Jenifer nunca a conhecera pessoalmente, mas as duas trocavam quase diariamente impressões pela internet sobre a paixão comum que as consumia. (Aline se desespera só de pensar que talvez passe a vida inteira sem conseguir entrar no camarim de Luan. Sobre o fato de ser altamente improvável que realize o seu maior sonho – que é namorá-lo –, prefere nem imaginar.)

Compadecida com o sofrimento da amiga, Jenifer teve uma ideia sagaz. Assim que acabou o show da dupla Fernando & Sorocaba, que precedia o de Luan, ela deu um jeito de tirar a pulseirinha que lhe garantia a permanência no setor VIP, prendeu-a no bolso do casaco e caminhou até a grade que separava os afortunados dos infelizes. Chegando lá, acenou para um segurança que lhe pareceu simpático e foi logo fazendo amizade: “Está vendo aquela menina ali? Ela é minha amiga e está morrendo de frio. Você pode entregar esse casaco para ela, por favor?” Muito solícito, o segurança entregou o moletom para uma Aline perplexa. Despachada, Jenifer ligou para o celular da amiga: “Olha no bolso. E vem logo!” Enxugando as lágrimas, Aline disfarçou antes de sair pulando. Vestiu a pulseirinha, deu a volta e entrou na terra prometida. Muito branca e de cabelos escuros, Aline Correa podia se passar por parente de Luan Santana. Ela mora em Itapevi, subúrbio da Grande São Paulo, e se viu obrigada a interromper os estudos para trabalhar em período integral como caixa do McDonald’s.

Aquele era o segundo show do cantor naquele domingo. O primeiro tinha acontecido a 950 quilômetros de distância, na cidade de Goiânia, e agora a cúpula da Som Livre o aguardava em São Paulo para renovar o contrato. A reunião antecederia a subida dele ao palco. Em quase doze meses, o show Luan Santana Ao Vivo vendera 400 mil CDs e 200 mil DVDs. Além do segundo DVD, orçado em 2 milhões de reais, o novo contrato previa mais um CD e um terceiro DVD.

Suado, ofegante e exausto, Luan Santana entrou no palco com mais de duas horas de atraso e se valeu da histeria que provoca nas meninas, deixando que elas cantassem sozinhas boa parte das canções. Aline Correa gritava o nome de Luan tão alto que as vizinhas de grade tapavam os ouvidos. Na hora do agradecimento, Luan avistou a cartolina do fã-clube que Jenifer erguia acima da cabeça e fez menção ao Team, para delírio maior das meninas. Já passavam das onze e meia da noite quando ele deixou o palco. As fãs não permitiram que isso as impedisse de externar o que sentiam e seguiram dando gritos lancinantes na direção dos músicos que desmontavam os equipamentos. Quando estes deram o serviço por encerrado, foi a vez de urrar para o pessoal da produção, sempre na tênue esperança de conseguir entrar no camarim. Um amigo de Aline tentou convencê-la a correr antes que os ônibus parassem de circular, mas ela reagiu com determinação: “Eu não vou deixar de seguir o sonho da minha vida por causa de um ônibus. Se você quiser ir, pode ir.” Ele foi.

Na madrugada que começava a avançar sobravam apenas elas e um exército de faxineiros. Um segurança conseguiu convencê-las de que o cantor já tinha deixado a Chácara do Jockey há quase meia hora. Jenifer combinara de dormir na casa de uma colega motorizada do fã-clube; já Aline, não fazia a menor ideia de como voltar para casa. Fez sinal e subiu no primeiro ônibus que passou. Mais tarde, escreveria contando sua aventura: chegou à estação Hebraica-Rebouças e o último trem já havia partido. Começou a chorar e três funcionários da CPTM ofereceram uma carona até a porta de sua casa, em Itapevi, a 35 quilômetros dali. Deu tudo certo e ela prometeu aos pais que nunca mais faria uma loucura dessas. Não tinha a menor intenção de cumprir.

Fonte: Revista Piauí

sábado, 12 de março de 2011

Joe Benassi & David Sample

Cabaret Records apresenta: o novo single de Joe Benassi & David Sample "Amor pelo Pop".

Não consegui foto dos dois juntos, por enquanto. Joe Benassi O Garoto das Produções é, junto com Maderito O Garoto Alucinado, co-criador do eletromelody, numa história que contaremos muito em breve. Por enquanto, fiquemos com a música do moleque. Curioso, David Sample trabalha com os dois! Mas esperemos pela história...

Maderito & David Sample

Cabaret Records apresenta: o novo single de Maderito & David Sample "Mulekes de Atitude"



sexta-feira, 11 de março de 2011

Dançando Tecnomelody ou - Aprende a dançar Ô seu prego!

No cagar dos pombos - ou no fim das contas, como manda a boa educação-, a maior sacanagem que a Djavú fez com o tecnomelody nem foi tanto roubar as músicas da Ravelly. A maior sacanagem foi ensinar a dançar errado o tecnomelody. Geanderson, com aquele requebrado de cantor de axé em cima de trio elétrico e Nádila, sem saber se é Joelma, Stephany ou Vera Verão. Juninho Portugal está dispensado dos comentários.

Tendo em vista a correção social da mazela que esta deseducação feita pela Djavú causou na nação brasileira, este blog mui patrioticamente apresenta, a primeira video aula de dança da história deste cafofo.

- Aprende a dançar, ow seu Zé Ruela!

O Tecnomelody precisa de lei ou de tutela do Estado?

Texto publicado no jornal O Liberal, de Belém do Pará no dia 08/03/2011

Eis que a lei que decreta que o tecnomelody é patromônio artístico e cultural do estado do Pará foi aprovada pela camara legislativa. Djs, cantores, produtores, donos de aparelhagens, todos festejaram o que consideram uma vitória do ritmo. A unanimidade não foi apenas entre as pessoas do meio, mas na votação em plenário também. Só que eu sou mala, daqueles que desconfiam de todas as unanimidades.

A questão que quero levantar aqui é a seguinte: o tecnomelody precisa de uma lei dessas? Geralmente quando se tomba uma manifestação cultural como patrimônio, o objetivo é proteger essa manifestação de interferências internas que ameaçem a sua integridade e identidade. Mas o tecnomelody não é um ritmo por exelência aberto as mais diversas influências?


Águia de Fogo - o altar sonoro da aparelhagem Super Pop


O principal ponto em comum entre as diversas declarações de felicidade pela aprovação da lei foi o de que o fato representa uma vitória contra o preconceito. Será? Na primeira votação, treze deputados votaram contra o projeto. Desta vez votaram a favor. É de se questionar o que levou tamanha quantidade de mentes a reverem suas opiniões. Venceram o preconceito, adoraram o disco novo da banda Ravelly ou ficaram preocupados com a repercussão de suas negativas iniciais junto às classes populares?

Tenhos sérias dúvidas com relação benefícios que a tutela do Estado pode trazer à cena do movimento tecnomelody. Não é segredo para ninguém de que falta mais profissionalismo para o movimento. O paternalismo do Estado poderá piorar bem mais essa situação.

Inclusive, caso o governo crie insentivos para o movimento, pode acontecer de os críticos ficarem ainda mais indignados e o preconceito ganhar novas nuances. Os reacionários - e nunca duvide desta capacidade deles - podem se achar no direito de distorcerem fatos e turbinarem suas argumentações.

Mas talvez eu esteja apenas sendo um ranzinza desmancha prazeres. Uma coisa que aprendi com a vida é sempre ponderar sobre minhas opiniões e nunca esquecer que sempre existe a possibilidade de que eu esteja miseravelmente equivocado. E nesse momento, mais do que nunca, torço para que este seja o caso.

Existe a possibilidade de que o resto do Brasil, diante de uma notícia como esta, começe a olhar com outros olhos a nova musica eletrõnica paraense. E não só o resto do Brasil, porque não dizer o mundo? A Amazônia é pop no novo século, nada mais a calhar do que uma nova música pop surgida apartir da Amazônia.

O certo é que 2011 será um ano crucial para o tecnomelody. O DVD Movimento Tecnomelody Brasil está nas lojas desde janeiro, as vendas estão indo bem e a Som Livre já cogita a possibilidade de lançá-lo nacionalmente - até agora as vendas estão restritas às regiões Norte e Nordeste.

Pois façamos figas para que tudo dê certo para o movimento e também para que eu esteja errado em minhas opinião negativas com relação a nova lei.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Gravação do DVD de Gaby Amarantos



Na legenda aparece timBim, as demos os devidos descontos...

Timpin na Estrada - Segunda Estação: Recife, parte 3

E às seis da manhã, no aeroporto do Recife, eu cheguei e caguei. Se tem um órgão de meu corpo que não costuma me deixar na mão, é o sistema intestinal. Toda manhã, logo depois do canecão de café e do cigarro, vem o cagão. Em Salvador isso não rolou, mas foi só chegar no Recife e aspirar o ar familiar de uma cidade onde já morei, que a rotina se fez valer. Foram onze minutos redentores no sanitário masculino do segundo piso.

Feito isso, o próximo passo era dar prosseguimento à resolução dos aspectos práticos pendentes da viagem. A saber, conseguir dinheiro para comer e um canto para dormir. O canto para dormir estava parcialmente esquemado, já tinha ligado para o amigo e padrinho de casamento Petrúcio, avisando que iria pra lá. O diacho é que estava chegando com cinco dias de antecedência.

Já a questão do dinheiro, cabe aqui uma informação que tenho a mais absoluta certeza de que após escrevê-la, o leitor pensará que sou bem mais imbecil do que imaginavam inicialmente. Eu estava sem o cartão magnético do banco para sacar o dinheiro no caixa eletrônico. Desde dezembro que o cartão está com minha esposa, que viajou com nossos filhos para o interior de Pernambuco pra passar uns tempos com a familia.

Tentem me entender. Eu achava que em Salvador conseguiria um camarada que me passasse o número de uma conta, para minha esposa depositar o dinheiro que Dan Ventura havia me depositado. Simples assim. Só que a vida é sempre mais compicada...


Dan Ventura, patrono supremo de minha viagem tinha me ajudado. Quem não se ajudou fui, saindo sem cartão. Ele canta no Bonde do Maluco e quem dá uma de maluco sou eu.


Minha idéia então era ir ao banco e inventar uma história triste de que era um turista incauto que havia sido assaltado e que precisava sacar dinheiro mostrando a carteira de identidade e digitando a senha. Só que para levar a cabo esse plano genial, precisava esperar a agência abrir, ou seja, mais quatro horas com uma fome que me corroia as entranhas.

Aberta a agência, mais perrengue. O primeiro foi que era dia de pagamento de bolsa-familia, aposentadoria ou sei lá o quê e a porra da agência estava apinhada de gente. Cada qual mais perdido que o outro, sem saber em que fila quilométrica entrar. Lá pelas onze e meia da manhã chego na boca do aixa e o segundo perrengue, só podia sacar R$100,00. Mas, como para quem não tem o que vem, vem bem, catei os cenzão e saí do banco mais feliz que lambari depois de enxurrada.

Desde a Bahia que eu estava em um jejum musical auto imposto. Preparei uma play list incluindo Kelvis Duran, Tayrone Cigano, Conde & Banda Só Brega e Labaredas da paixão, para ir me sintonizando com a cidade. Recife tem uma cena brega que é totalmente endêmica e viva. Claro, isso no ponto de ônibus onde aguardava a condução que me levaria ao Mercado de Afogados, onde tiraria a barriga da miséria.



Devorei três pratos feitos no valor de R$6,00 a unidade. Dois de galinha cabidela e um de carne frita. Não dispensei nem a farinha, que nunca costumei comer muito. Umas quatro garrafas de Coca-cola com muito gelo completaram o banquete. Palitei os dentes e cendi um cigarro me sentindo novamente um Rei. As coisas estavam voltando para seus devidos lugares.

Quer dizer, mais ou menos. Nem o Petrúcio e nem a esposa deles atendiam o celular. Eu sabia qual era o bairro onde eles moravam, mas não sabia nem que ônibus pegar e nem onde era a nova casa deles. Por isso, me dicidi por primeiro tentar fazer uma visita ao bairro onde tinha morado a três anos atrás. Tinha três camaradas por lá que poderiam me dar abrigo. Mas advinhe, o primeiro tinha se mudado, o segundo estava viajando pra Aracajú e o terceiro tinha acabado de sair pra praia sem hora pra voltar (em Recife, o domingo praieiro de quem trabalha no comércio é na segunda, a praia lota!), encontrei só a esposa dele. Joguei conversa fora, atualizemos as fofocas e vazei.

Só tinha então uma chance, achar a casa de Petrúcio no bairro de Água Fria e rezar para todos os deuses para que tivesse alguém em casa. Após alguns pedidos de informação embarquei no ônibus PE 15 - Afogados e desci no primeiro ponto em que tinnha uma paisagem familiar. E andei, perguntei, andei, perguntei, perguntei e andei mais um pouco até que entrei em um bequinho que tinham me indicado e bati em uma porta de ferro verde. A tarde já estava no fim e a noite se avizinhava. Momentos de tensão. A porta se abriu e uma mulher falou:

- Timpin, seu doido, o que tu tá fazendo aqui?
Era Vera, esposa de meu compadre Petrúcio. Desabei nos pés dela sob o peso de minha mochila e exclamei do fundo dos meus esfumaçados pulmões:
- Estou salvo!!! Posso ficar aqui?
- Claro! Mas hôme, tú tá fedendo mais que cú de bode véio! De onde tú vem?
- Já te conto, posso tomar um banho?
- Deve!

Após um banho de quinze minutos e um sabonete, vesti uma bermuda que era dela (a topeira não tinha levado nenhuma) que só serviu amarrando firmemente com minha sinta, comprei dezoito latas de cerveja e nos pusemos a beber, conversar e ouvir música. Vera me apresentou o DVD da banda Kitara, a nova sensação brega do Recife. Sefhany e Larissa, as filhas do casal, pulavam no meu colo. Era eu de novo o Rei, o lorde de ascendência merovíngia que nunca deixei de ser.



Conversamos sobre nossos tempos no sertão nordestino. Era o fim do meu terceiro dia de viagem e parecia que fazia um mês que tinha saído de Curitiba.

Timpin na Estrada - Primeira Estação: Salvador, parte 2

Esperei o sol nascer para conferir os bolsos. Fora as moedas perdidas dentro da mochila, tinha uma nota de Vinte Reais. É que o otimista aqui, tinha torrado R$20,00 no aeroporto de Curitiba num livro do Bukowski. Mais R$20,00 nas latas de cerveja da sexta. Mais vintão na cervejada da véspera e o resto em créditos de celular, todos carcomidos pelas falcatruagens da Tim.

Tudo o que eu queria era um copão de café e uma carteira de cigarros. Voltei para a rua do bar, peguei meu Bukoswsky pra ler e fiquei esperando pra ver o primeiros corno que aparecesse carregando uma sacola de pão, sinalizando que existia uma padaria e que estava aberta.


Meu padrinho espiritual Charles Bukoswki, exercitando uma de nossas paixões


Oito da matina apareceu o primeiro, em menos de cinco minutos estava eu tomando degustando um cafézão açucarado da pova e fumando um cigarrinho. Na padaria tinha recarregado os créditos do celular, o que me deixava com R$8,00 no bolso. Assim que o bar abriu pedi uma latinha de refrigerante e finquei raízes na mesinha da frente, sem a mínima previsão do que aconteceria durante o dia.

A primeira coisa que aconteceu foi um tiozinho feio que só a porra, quase tão magro quanto eu e que falava pelos cotovelos. Era músico. Percussionista para ser mais exato, mas alegava não fazer feio em intrumento algum. Seu nomera era Mangueira dp Pituaçu. Me deu aulas vocais de tenor, soprano. Ensinou-me as sutilezas dos arranjos percussivos. Contou-me setenta e tantas histórias. Chorou na última delas, que versava sobre a homenagem que sua familia tinha lhe feito no seu aniversário de cinquenta anos e foi embora com os olhos ainda úmidos e me desejando muita boa sorte, nem imaginando o quanto precisaria dela.

Depois começou a turma domingueira do bairro, pra fazer o aquecimento via cervejas geladas e caldo de mocotó, para depois descerem para a praia. Pediram cervejas. Muitas cervejas. Começei a olhar para minha latinha de refrigerante de uma maneira nem um pouco amistosa. Mesmo assim elegi uma sucessora, trocando apenas de marca.

Começou a chegar mais gente, mais cervejas sendo abertas, mais caldo de mocotó atiçando minhas lombrigas e eu ali, sendo observado de cima abaixo sem que um puto dequer puxasse assunto. A única coisa que me fazia lembrar que eu não era um inseto, era os sorriso simpáticos da mina do bar. E suas coxas. No som, o novo promocional dos Aviões do Forró era repetido à exaustão, puxado pela infame "Minha Mulher não deixa não", só pra me lembrar o que cacete eu tenho que o resto da humanidade. Eu tenho mais é que me foder, mesmo.


Timpin, tu quer beber? Vou não, quero não, posso não, meu bolso vazio não deixa não


Quando o sol chegou a pino e todo mundo já tava bêbado, mandei o Universo inteiro se foder e pedi uma cerveja pra mim. Foi aí que um maluco puxou assunto comigo, pergutou de onde era e coisa e tal, mas o entrosamento não fugiu muito dessas preliminares. Em pouco tempo o pessoal todo desceu pra praia e fiquei lá, de novo sozinho com os donos do estabelecimento e com as coxas desfilando pra lá e pra cá.

Até que o par de coxas veio e falou comigo. Era um recado do dono da casa onde eu não tinha podido passar a noite. Foi aí que meu barraco desabou. Foi aí que o meu barco se perdeu. O cara estava simplesmente me dizendo que o guitarrista da banda proeminanete tinha alegado que não tinha combinado nada com isso. Que o baixista da mesma banda estava vindo pra "ver o que iriam fazer comigo" e qua a assessora da mesmíssima banda não teria tempo pra mim, pois estava enrolada com um show que estava naquela coisa de sai ou não sai.

Pelo menos consegui o telefone fixo da casa do guitarrista, já que o viado não atendia o celular. O puto se desculpou todo, dizendo que morava de favor na casa da irmã e que ela não se sentia nem um pouco à vontade dentro de casa com hóspedes do sexo masculino. Aí eu pensei: fudeu tudo.

E fudeu mesmo, quando o baixista da passagem aérea chegou com o outro morador da casa onde não pude dormir, queriam me fritar numa grelha, me esculhamdno, me chamando de irresponsável, inconsequente, porra-loca, todas essas coisas que já tinha ouvido de minha mãe e das professoras de educação artítistica no primário. Queriam me despachar de volta para Curitiba no mesmo dia.

Diante de minhas negativas em abortar a viagem, me deram umas horas para resolver o problema e sairam de carro, dizendo que iriam tentar arrumar um lugar pra mim. Passaram a chave na casa e sumiram. Claro que não consegui nada. Quer dizer, o meu amigo Roberto Kuelho, do Blog do Kuelho até me atendeu e prometeu me ajudar, mas o problema é que ele é de Feira da Santana, a 100Km de Salvador e meus míseros trocados que tinha no bolso não me levariam nem pra rodoviária.


O compositor e blogueiro Roberto Kuelho, o único baiano que se dispôs a me ajudar efetivamente. Eu cá com as coxas, ele acolá com os peitos. Observem sua cara de safado da porra!


Quando a noite de domingo chegou, os caras que tinham saído voltaram. Nada feito, não tinham conseguido nem uma caixa de areia de gatos disponível. Eu teria que ir embora. Falei que tinha desistido de Salvador e estava disposto a sumir dali. Pedi pra me despacharem pra Recife. Eu já tinha avisado meus contatos de lá que iria aparecer, mas no caso, chegaria de surpresa uma semana antes. Na situação onde me encontrava, isso era um peido pra quem está cagado. Conseguiram um vôo pras cinco da matina de segunda-feira.

Conseguiram mais. Conseguiram uma nota de cinco reais e me largaram num ponto de ônibus onde eu poderia chegar ao aeroporto. Já era noite e eu mal conseguia ler os letreitros dos coletivos que passavam, tamanha era a fome que embaçava meus olhos, consumia meus tecidos musculares e reservas secretas de gordura. Mas como disse, sou durão, consegui chegar chegar na porra de aeroporto as 20:00, para nove horas de uma famérrima espera. Minha espernaça, uma rede wireless que me permitisse chorar as pitangas pra cima de algum infeliz via MSN e acabar com a reputação de todos os pagodeiros baianos no Twitter.

Cheguei no balcão de informações da INFRAERO e perguntei:

- Moço, não tem wireless no aeroporto?

Ele olhou dentro dos meus olhos e disse:

- Tem! - fez uma pausa, sempre me olhando - Mas não é livre - mais uma pausa, um pouco mais demorarda e continuando a me olhar - Tem que comprar um cartão ali na agência - apontou a agencia e quando eu a vi, deu o tiro de misericórida - Mas ela está fechada.

- Muito obrigado, tchau.

No primitivo linguajar timpínico este "muito obrigado, tchau" pode ser traduzido por "terra de corno, aeroporto de corno" ou então "filho de rapariga, enfiasse teu sarcasmo e essa tua inornia no cú!"

Achei uma tomada no terceiro andar, liguei o computador e fiquei vendo uns filmes que a semanas estavam esperando três centímetros cúbicos de minha atenção. De vez enquando dava pause, tomava muita água e saia pra fumar e fugir do torturante cheiro de comida que vinha da praça de alimentação, que insistia em se esparrmar por todos os setores do aeroporto.

Quando as cinco da matina chegaram, as recebi com alegria e entusiasmo. Era o fim de meu segundo dia de viagem e promessa de que tão cedo não colocaria meus pés de novo naquele lugar ou oviria um disco de swingueira no meu Ipod. Era o mínimo de contas que naquela situação, poderia prestar à minha honra, minha dignidade e meu orgulho ferido. Foge, foge Timpin! Foge, foge com o Superman.

Timpin na Estrada - Primeira Estação: Salvador, parte 1

Prefácio

Fazer uma viagem de reconhecimento musical pelo Norte e Nordeste era um sonho óbvio, para um blogueiro independente como eu. E justamente por ser um blogueiro independente, tratava-se de um sonho virtualmente impossível. Como sou realista e sempre exijo o impossível, nunca desisti dele.

A maré mudou no dia em que conversava sobre o carnaval baiano via MSN com o baixista de uma proeminente banda de lá. A uma certa altura da conversa ele me disse que, se eu conseguisse hospedagem em Salvador, ele me conseguiria as passagens de avião. Beleza, maravilha, mas ainda me faltava bancar os custos da viagem.

O problema foi resolvido quando contei meu plano, também via MSN, para Dan Ventura, cantor da banda de arrocha Bonde do Maluco. O doido se dispôs a me ajudar financeira, sob o pretexto de gostar de meu trabalho. Claro que não acreditei no maluco, até ser supreendido por um extrato bancário. A grana - que não era pouca - estaria na minha conta na segunda-feira. Isso foi numa quinta-feira. Na mesma quinta liguei pro baixista das passagens aéreas e na sexta estava de mala e cuia partindo para a viagem, com R$100,00 no bolso, fruto do vale de adiantamente que havia conseguido com a chefe. Inventei a desculpa de uma vó doente para me ausentar por uns dias e ferro na boneca.


Dan Ventura, cantor do Bonde do Maluco e patrono supremo da viagem de Timpin pelo Norte e Nordeste. Venha o que vier, a culpa é dele.


Foi assim na louca que tudo aconteceu. Em menos de dois dias a viagem saiu dos mais delirantes sonhos de minha mente, para a realidade factual. Quando os deuses resolvem te sortear na loteira deles, não tem corno que impeça seu sonho de ser realidade.
Agora senta que lá vem a história.

Parte Um - Perdas e Danos na capital dos Baianos

Introdução

A intenção da primeira etapa da turnê era, uma vez em Salvador, e ciceroneado por pessoas do meio, aprender como funciona a dinâmica do pagode baiano. O resultado não poderia ter sido mais exitoso, mas pelos meios completamente opostos às expectativas anteriores a expedição.

Quando saí de Curitiba estava animadíssimo - lembro que ao me despedir dos colegas de trabalho exclamava eufórico e seachão: vou conhecer todo mundo, chamarei o Eddy (Edcity) de Lacraia, roubarei o boné do Marcio Victor (Psirico), chamarei o Xandy (Harmonia do Samba) de corno, direi a Igor Kanário (A Bronkka) e Chiclete (No Styllo) pessoalmente que eles parecem duas bichonas batendo boca e por aí vai.
Acabou que não conheci nenhum deles e isso - e o que levou a isso - acabou sendo muito mais didático do que se tivesse connhecido esse povo. As coisas que me aconteceram - lições de vida, ora xongas - me ensinaram muito mais do que se tivessem acontecidos as entrevistas, pois nesse caso mui provavelemente eu teria sido enrolado por tudo mundo e apresentaria aos leitores deste Cabaret um relatório fantasioso.



Grosso modo, o funcionamento do pagode baiano é o seguinte: ele não funciona. Que ali existe uma cena riquíssima em sua diversidade e vitalidade, não sou cara de pau de negar. Mas que a desunião, o choque de egos inflados, as maracutaias empresarias e a ausência de assessorias competentes, inviabilizam a ruptura do nixo local de Salvador.

Os números não deixam mentir, as exeções à regra são Psirico e Parangolé. Fora essas duas bandas, quase nenhuma tem uma agenda relevante fora de Salvador. Alguns shows pingados aqui e acolá. São todos santos de casa de poucos milagres.

O que era para ser uma semana de intensos contatos e conversas, resumiu-se às piores 48 horas de que tenho lembrança.

Primeiro Dia

Cheguei em Salvador na sexta-feira a meia noite mal cabendo em mim de tanta euforisa e saí no domingo, praticamente no mesmo horário, mal podendo esperar pelo segundo exato do avião decolar e sumir de lá, sem a mais remota intenção de voltar.
Juro que estou sendo até ameno em descrever, mas fui tratado feito um cagalhão de cachorro em um gramado qualquer. Não sou revanchista e muito menos vingativo. Sou um doce de pessoa, mesmo vendo aquele falso do Chimbinha chorando na televisão. Não vou citar nomes que comprometam reputações que já se comprometem por si próprias.

O primeiro presságio da encrenca em que eu estava me metendo foi logo na chegada. Ao ligar para o celular do músico de uma banda e morador da casa onde eu iria me hospedar, ouvi a seguinte resposta "este número está programado para não recber chamadas". Sobrou para o amigo que estava me esperando no aeroporto - outro músico de uma banda - me levar para a casa de um amigo dele, no improviso.

Foi lá que passei a primeira noite. Não digo que não foi, mas teria sido bem mais divertido se logo na chegada tomasse uma germânica cervejada de comemoração, afinal Salvador é ou não a capital do carnaval de seis meses? Imagine estimado leitor, o susto ao chegar na casa do cara e ver garrafas e mais da garrafas... de água mineral. Água mineral pra caralho, garrafas e mais garrafas delas! Casa onde só mora homem, louças por lavar e diversos recipientes de produtos vazios e nenhuminha de nem nada lata de cerveja. Certamente o segundo presságio, mas o pior cego é aquele...

Mas como disse, não posso dizer que não foi divertido, foram quase quatro horas de muitas histórias do mundo do pagode, alguns videos no youtbe apresentados e alguns ídolos de barro destruídos pelas marteladas das versões alternativas da história. Mesmo assim, na hora do meu amigo músico ir embora e deixar-me na casa do amigo do amigo, pedi para passarmos num posto de gasolina pra mim comprar um lanche, pois não havia comido nada desde a hora do almoço. E o cardápio tinha sido um cachorro-quente de R$2,00.

Comprei outro cachorro quente de R$2,00 e oito latas de cerveja para a goroba descer.
Como já era quase amanhecendo o dia - o sono pesando - e não tem muita graça beber sozinho quando não se está sozinho, engoli o cachorro quente mais três latas de cerveja e fui dormir.


Eis o bairro onde fui tentar uma hospedagem


Só que a porra da janela do quarto não tinha veneziana e mal consegui pegar no sono e o sol já estava queimando meu rosto. Dei um giro de 180 graus e meus pés passaram a ser assados. Peguei o travesseiro e fui dormir no chão. Foi um sono assaz inqueito. Dez da manhã e já estava de pé. Doido para sorver uma impossível canecona de café preto.

Nunca vi um fogão mais subutilizado em toda a minha vida. Estava ali somente para superte de garrafas vazias de água mineral. Ao acordar, se não tomar um canecão de café preto, não sou gente, sou pré homo sapiens, nem homo habilis dá pra chamar, pois fico fico num estado de inabilidade para nada, muito menos pensar. E menos ainda falar. E os donos da casa querendo saber quem caralho era afinal de contas Timpin, metralhando uma pergunta atrás da outra.

A única coisa que atinei foi tentar ligar de novo, sem sucesso, para o cara que originalmente iria me hospedar. O mais lógico diante do fracasso dessa segunda tentativa seria ligar para a assessora de imprensa da banda do cara. Ela não atendeu. Mandei duas mensagens explicando minha situação e pedindo encarecidamente que ela localizasse o músico. Pouco tempo depois recebo uma mensagem dela dizendo que não estava em Salvador, mas que assim que chegasse - quando, meu deus? - me ligaria.

Na agonia, entrei na Internet através do computador de meus hospedeiros e avisei o ligadíssimo do dono da comunidade do Orkut da banda do musico incomunicável. Logo depois ele me responde que deu o recado pro cara e que só me restava esperar seu retorno. E eu esperei. Esperei pra caralho, esperei até que esquecer do café e o corpo tratar de acordar por sí só.

Aí lembrei das latas de cervejas sobreviventes da noite anterior. Abri a primeira. Depois a segunda, a terceira e logo logo tinham ido todas pra fita. Foi quando um bar, do outro lado da rua, a uns vinte metros de distância, começou a olhar pra mim. E eu a olhar pra ele. A paquera durou uns cinco minutos e lá estava eu, tentando convencer uma atendente gatinha e proprietária de uma das cochas mais estonteantes de 2011 a me emprestar o casco de uma garrafa de Skoll, eu devolveria depois. Negócio fechado, ela devolveria o troco depois também. Comprei também um pastel de carne, à guiza de almoço.

Sentei no chão do sala tentando escrever um post sobre o começo da viagem, bebericando e comendo o pastel. Desisti de escrever por falta de conteúdo. Tentei ligar de novo, tanto pro músico quanto pra asessora. Nada. Ao devolver o casco, queimei o troco na forma de uma coxinha e pedi outra cerveja para auxiliar a digestão.

A atendente gatinha até que era simpática, ia soltando sorrisos generosamente e acabei pedindo outra cerveja. E assim por diante, até o sol se pôr e meu celular finalmente começar a tocar. Primeiro foi o cara que tinha me buscado no aeroporto e me largado lá. Dizendo que eu tinha que - pelo amor de Deus! - arrumar um lugar pra passar a noite porque o amigo dele queria levar a namorada pra lá - erá sábado, ora pois. Depois foi a assessora da banda finalmente me ligando - mas sem ter voltado pra Salvador - CAGANDO na minha cabeça por ter viajado tendo feito apenas UM tratado de hospedagem.

Taí uma coisa que não costumo levar muito na esportiva é levar um sermão quando estou comendo água. Fiquei puto, entrei na casa, enfiei os computador na mochila e mais algumas tralhas que estavam esparramadas pelo chão e vazei. Saí andando a esmo e trocando as pernas pelas ruas do bairro até começar a entregar as pontas e passar a procuar por um abrigo urgente. Estava positivamente bêbado. Achei uma em construção em estado de abandono, tomada pelas ervas daninhas e elegi meu lar. Tenho uma vaga lembrança de ter me jogado no chão de um quartinho escuro usando a mochila como travesseiro.


Eis a rua onde perambulei feito um cão sarnento e sem dono


Acordei de magrugada deitado em cima de escombros de tijolos, madeiras e entulhos, com as roupas cheias de pega-pegas, amor-de-sogra ou sei lá que cacete de nomes que aquelas paradinhas que grudam tem. Tirei o que deu pra tirar na hora e me deitei no piso da construção.

O diabo é que eu não consigo dormir de costas, como a maioria das criaturas normais. Não sei se é pelo fato de eu ser gaúcho, mas só sei dormir ou de bruços ou de lado. De bruços naquela porra de concreto salpicado era impossível e de lado até que dava, até o momento que as sailências do concreto começavam a perfurar o coro e atingir o osso. Devido a minha peculiar constituição física, coro e osso tenho em abundância.

Lembrei dos mendigos e suas camas de papelão. Pensei em sair atrás de algum, mas meu senso de ridículo e minhas questões de honra me impediram. Sou realmente um cara durão, resisti firme e tentei dormir mesmo assim. Claro que não consegui e como tinha pacotado logo ao anoitecer, acordei de madrugada sem sono e curado da bebedeira. Na casa ao lado, um jovem casal bebia ao som de um discode Zeca Pagodinho que ouviram três vezes, até que enjoram - ou se embebedaram, sei lá - o que sei é depois do CD do Zeca, deixaram a música Liga da Justiça, da banda Leva Nóiz, no repeat até ser esculhambados pelos vizinho e parararem com a putaria.

Foi uma longa espera até o dia amanhecer, sem saber ao certo se ele viria para o meu bem ou o meu mal. Era o fim de meu primeiro dia em Salvador e apesar dos percalços, ainda estava otimista.

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