Texto publicado no jornal O Liberal, de Belém do Pará no dia 08/03/2011
Eis que a lei que decreta que o tecnomelody é patromônio artístico e cultural do estado do Pará foi aprovada pela camara legislativa. Djs, cantores, produtores, donos de aparelhagens, todos festejaram o que consideram uma vitória do ritmo. A unanimidade não foi apenas entre as pessoas do meio, mas na votação em plenário também. Só que eu sou mala, daqueles que desconfiam de todas as unanimidades.
A questão que quero levantar aqui é a seguinte: o tecnomelody precisa de uma lei dessas? Geralmente quando se tomba uma manifestação cultural como patrimônio, o objetivo é proteger essa manifestação de interferências internas que ameaçem a sua integridade e identidade. Mas o tecnomelody não é um ritmo por exelência aberto as mais diversas influências?
O principal ponto em comum entre as diversas declarações de felicidade pela aprovação da lei foi o de que o fato representa uma vitória contra o preconceito. Será? Na primeira votação, treze deputados votaram contra o projeto. Desta vez votaram a favor. É de se questionar o que levou tamanha quantidade de mentes a reverem suas opiniões. Venceram o preconceito, adoraram o disco novo da banda Ravelly ou ficaram preocupados com a repercussão de suas negativas iniciais junto às classes populares?
Tenhos sérias dúvidas com relação benefícios que a tutela do Estado pode trazer à cena do movimento tecnomelody. Não é segredo para ninguém de que falta mais profissionalismo para o movimento. O paternalismo do Estado poderá piorar bem mais essa situação.
Inclusive, caso o governo crie insentivos para o movimento, pode acontecer de os críticos ficarem ainda mais indignados e o preconceito ganhar novas nuances. Os reacionários - e nunca duvide desta capacidade deles - podem se achar no direito de distorcerem fatos e turbinarem suas argumentações.
Mas talvez eu esteja apenas sendo um ranzinza desmancha prazeres. Uma coisa que aprendi com a vida é sempre ponderar sobre minhas opiniões e nunca esquecer que sempre existe a possibilidade de que eu esteja miseravelmente equivocado. E nesse momento, mais do que nunca, torço para que este seja o caso.
Existe a possibilidade de que o resto do Brasil, diante de uma notícia como esta, começe a olhar com outros olhos a nova musica eletrõnica paraense. E não só o resto do Brasil, porque não dizer o mundo? A Amazônia é pop no novo século, nada mais a calhar do que uma nova música pop surgida apartir da Amazônia.
O certo é que 2011 será um ano crucial para o tecnomelody. O DVD Movimento Tecnomelody Brasil está nas lojas desde janeiro, as vendas estão indo bem e a Som Livre já cogita a possibilidade de lançá-lo nacionalmente - até agora as vendas estão restritas às regiões Norte e Nordeste.
Pois façamos figas para que tudo dê certo para o movimento e também para que eu esteja errado em minhas opinião negativas com relação a nova lei.
1 comentários:
Vamos ser positivos: o tecnomelody ser patrimônio, com certeza, foi um enorme ganho para o cenário cultural do Pará. É uma forma de reconhecimento do trabalho de muitos (embora, como você e outros já falaram, ainda é carente de profissionalismo e "pensamento grande") e de mostrar que tudo isso é a marca registrada da região, é uma das coisas que a representa.
Vamos ser negativos: quando a esmola é grande, o santo desconfia. De uma hora pra outra eles mudarem a opinião é porque tem pano na manga atrás disso.
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