O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro

O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.

Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira

Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.

Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3

O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.

Por um Help à Música Sertaneja

Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.

Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos

Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Luan Santana virou álbum de figurinhas (enquanto Dagmar Alba quer deixar de ser figurante)



Pode ir conferir nas bancas. figurinhas, adesivinhos e o cacete de asas. Nunca, na história da música sertaneja, um artista atingiu tamanha proporção de sucesso. E nunca, na história da música brasileira, um artista foi tão mal assessorado. Dagmar Alba, a assessora de imprensa do gurizinho, de tantas cacas que faz e de tantas aparições na mídia que está conseguindo atualmente, está precisando de uma assessora de imprensa.

O Blognejo - principal site de musica sertaneja do Brasil - Está com esse tema no post de hoje. Não deixem de conferir, o título (e o link) é 5 erros de Luan Santana.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Conflito de gerações na musica sertaneja & O desabafo de Victor Chaves

Pessoal, apresento pra vcs mais uma coluna minha que foi publicada no jornal Liberal. Essa saiu na semana retrasada. Após o texto, vou fazer um PS.: com algumas considerações que faz horas que eu queria fazer acerca de Victor & Leo.

Conflito de gerações na musica sertaneja

O prêmio Multishow deste ano incluiu a categoria música sertaneja. Os vencedores foram os dois maiores nomes do segmento na atualidade: Luan Santana e Victor & Leo, como revelação e artistas do ano, respectivamente. A premiação foi o reconhecimento da nova geração da música sertaneja, os chamados universitários – rótulo que muitos rejeitam.

O resultado não causou muita surpresa entre o público, afinal de contas o disco Borboletas de Victor & Leo desde que foi lançado figura entre os mais vendidos e Luan Santana tornou-se um astro que arrasta multidões de adolescentes histéricas que lotam seus shows e é figurinha fácil em diversos programas de televisão.

Entre os alguns artistas sertanejos no entanto, o resultado não foi muito bem recebido. Luciano, que faz dupla com Zezé di Camargo, fez uma crítica dura em seu Twitter, reclamando que apesar da premiação se dizer baseada em votação popular, no final quem escolhe os premiados é a produção do evento. Já o cantor Eduardo Costa praticamente surtou no seu microblog. Soltou uma série de mensagens – algumas francamente ofensivas – contra os novatos sertanejos.

Numa delas afirmou textualmente que sertanejo de verdade “...tem que ter raiz, tem ter tocado uma vaca, tirado um leite, tem que saber a lua certa pra se plantar”. Em outra, destila seu veneno caipira afirmando que “...vou dizer, música sertaneja e muito mais que um premiozinho ou noticiazinhas idiotas por ai, aprende primeiro…”

Não é de hoje que existe um certo conflito de gerações na área. Diante de uma pergunta provocativa durante uma entrevista, Luciano já tinha dito que se esse povo se diz universitário, eles – no caso sua dupla com Zezé – poderiam se considerar doutores.

O que o ocorre é que com os novos tempos houve uma significativa mudança na dinâmica da coisa toda. Com a queda brusca na venda de discos, os artistas passaram a sobreviver basicamente de shows. Até as gravadoras se adpataram e passaram para o terreno de gerenciamento de carreiras. O artista arca com os custos das gravações e elas trabalham a divulgação e embolsam um valor percentual da arrecedação das bilheterias.

Num cenário assim, quem dita as tendências acaba sendo o público dos shows, composto essencialmente por jovens. Daí o gosto por músicas mais agitadas, dançantes e com letras que retratam menos desilusões amorosas e mais situações do cotiano da juventude. Esse poder decisão sobre que músicas entrarão no repertório e quais artistas se destacarão é amplificado pelo fato de que as rádios perderam status de ditadoras de tendências.

Por sorte, o choque de gerações não é regra. A dupla mais antiga ainda em atividade, Chitãozinho & Chororó, na gravação do DVD em comemoração de seus 40 anos de carreira, convidou vários artistas da nova geração, de Luan Santana a João Bosco & Vinicius. Já o cantor Leonardo fundou recentemente uma editora para ajudar novos artistas a buscarem seu lugar ao sol.

Os cães ladram, mas a caravana premiada pelo Multushow não pára. Tanto Luan Santana quanto Victor & Leo merecem colocar em sua estante os troféus que ganharam. Até porquê eles são significativos representantes de um último aspecto dos novos tempos que eu gostaria de abordar aqui.

Luan Santana preenche um vácuo criado pela ausência de lançamentos relevantes na área do pop rock, daí sua aceitação imediatada junto ao público adolescente, enquanto Victor & Leo preenche o vácuo criativo da MPB. O que explica a presença da música “Anunciação” de Alceu Valência em seu disco mais recente, assim como o dueto com Alcione em “Deus e eu no sertão”.

No mês de Setembro a cidade de Belém terá a oportunidade de conferir o show dos dois vencedores do Multishow 2010, no dia 16 Luan se apresentará no Cidade Folia e logo depois, no dia 24, teremos Victor & Léo no Hangar. Pelo visto, o orçamento mensal de muita gente estará comprometido.

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Post Scriptum de um Timpin deveras insistente em bater em uma mesma tecla

Victor & Leo ganharam o prêmio Multishow na categoria de música sertaneja. Ponto. Muita gene alegou que não foi justo, que o ano em que eles bombaram foi o passado e não esse, que o disco Ao Vivo e Em Cores foi um fracasso comercial e mais um monte de coisa. Não vou discutir isso aqui. O que quero discutir foi o discurso de Victor ao receber o troféu.

Ele falou que quem estava ganhando na verdade era a música brasileira como um todo, que está aos poucos aceitando o sertanejo moderno como manifestação cultural digna de ser considerada parte da chamada Musica Popular Brasileira. Ele não usou essas exatas palavras, mas ao citar o antigo e pejorativo rótulo de breganejo, o argumento que falei ficou implícito.

A verdade é que isso de fato ainda está longe de acontecer. Apesar de Victor ultimamente andar compondo músicas em parceria com Renato Teixeira e Sergio Reias (esses sim, que tocam modas antigas, são considerados "MPB"), a dupla Victor & Leo são exceção e não regra.

Que a música sertaneja irá conseguir se impôr como "cultura" entre a classe "bem pensante" desse país é só uma questão de tempo. O delay será de no máximo uma geração, provavelmente menos, como se pode observar pelo a inclusão a fórceps de Luan Santana na grande midia.

De minha parte, aguardo esse grande evento com uma impaciência que já atinge as raias da impaciência. E não falo só do sertanejo. Falo do Axé, do forró, da vanera, do funk, do tcnomelody, do arrocha, do pagode paulista, do pagode baiano e mais uma cacetada de manifestações culturais desprezadas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Gang do Eletro, a banda mais internacional do Pará

Matéria publicada hoje (28/09/2010) no jornal O Liberal, do estado do Pará

Alguns encontros costumam mudar o rumo da história. Na Londres do começo dos anos 60 Keith Richards estava em um trem quando os discos que carregava debaixo do braço chamaram a atenção de um outro rapaz que viajava junto. O rapaz se chamava Mick Jagger, que puxou assunto e a conversa virou amizade e a amizade virou os Rolling Stones.

No final de 2008, num restaurante perto do terminal de ônibus do São Bráz, na periferia de Belém, dois rapazes com gosto musical semelhante partilhavam uma carne assada e o almoço virou amizade e a amizade virou a banda Gang do Eletro, umas das mais originais e promissoras bandas surgidas do cenário do Tecnomelody paraense.



O nome dos ingleses dos Stones são de conhecimento público no mundo inteiro, já os paraenses ainda são pouco conhecidos fora do circuito do tecnomelody, mas tem tudo para conquistarem seu lugar ao sol. Estamos falando do DJ Waldo Squash e do cantor Marcos Maderito.

Maderito já cantava melodys desde 2002, depois de ralar pesado como roadie da banda Açaí Machine, do seu tio Tony Brasil e debutar como backing vocal da Banda Bundas. Através de parcerias com DJs como Betinho Isabelense e Rafael Teletubies, dentre outros, Maderito foi afinando seu talento como compositor usando o mote de Garoto Alucinado, até em em 2007 teve o insight que o distinguiria dentre as centenas de artistas de tecnomelody. Acelerar as batidas, inserir elementos da eletro-dance européia e samples de techno, inaugurando assim uma nova vertente da música eletrônica paraense, o Eletro Melody.

A aceitação por parte do público que frequenta as aparelhagens foi imediata. A música "Galera da Laje" foi um dos maiores sucessos do verão de 2008. Mas foi após o encontro com Waldo Squash e a criação da Gang do Eletro que as coisas realmente começaram a dar certo.

Waldo é um daqueles típicos casos de self-made man, um autodidata que começou a discotecar muito cedo, com os equipamentos de som de seu pai, aprendendo aos poucos as técnicas de compasso musical, harmonia e tempos de mixagem. Mesmo sem curso de computação, foi se familiarizando com softwares como Sound Forge e Vegas até chegar ao ponto de poder colocar em prática suas idéias de melodias.

Seu talento acabou por levá-lo a trabalhar como locutor e produtor de algumas rádios FM do interior do Pará. E foi quando trabalhava na rádio Sorriso FM de São Miguel do Guamá que teve a idéia de adaptar o flashback "Don Pichote" para a aparelhagem Super Pop. O resultado foi a música "Super Pop é curtição" que estourou no estado inteiro e chegou aos ouvidos de Marcelo Maderito, que gostou tanto que primeiro propôs a carne assada no São Braz e depois a criação da Gang do Eletro.

A parceria dos dois comprova a tese de que o todo é maior que a soma das partes. O talento de Maderito para inventar rimas em ritmo industrial e o fantástico senso intuitivo de Waldo Squah ao caçar referências sonoras na Internet faz da Gang do Eletro uma banda internacional. Suas músicas podem perfeitamente serem tocadas numa boate de Nova York ou nas raves da praia de Ibiza, na Espanha.

No ano passado a Gang emplacou o sucesso "Eletro da Indiana", mas foi em 2010 que a banda deu salto qualitativo impressionante ao inserir samples de Cúmbia Villera argentina em seu som. O golpe de mestre que elevou a banda ao patamar da genialidade reside no fato da Cúmbia Villera ser justamente a música produzida nas periferias pobres de Buenos Aires. Qualquer semelhança com o tecnomelody não é uma mera coinscidência.

Esse link cultural pode ser ouvido em singles como "Arrazadora Sanfona Mix", "Tecnocúmbia Colombiana", "Galera da Barca" e até mesmo em seu mais recente sucesso "Panamericano", uma divertida versão do sucesso que toca sem parar nas baladas eletrônicas do mundo iteiro.

A Gang do Eletro, por mais impressionante que isso seja, ainda não tem empresário. Para contratar os caras para alucinar uma festa, tem que falar diretamente com os rapazes. O Maderito através do 8144 7575 e o Waldo do 8853 9364. Os dois também são costumazes ratos de Internet e são facilmente encontrados on line nos MSNs maderitolucinado@hotmail.com e djwaldosquash@hotmail.com. Mas já vou avisando, o Maderito tecla pra cacete e vai torrar seu precioso tempo on line se você adicionar o figura.

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Abaixo um scan parcial da publicação. Estou orgulhozão de ter conseguido colocar os caras no Liberal, afinal de contas é o maior jornal do estado do Pará.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Expulsaram Marcus Blognejo do backstage de Luan Santana

Marcus, o homem por trás do Blognejo, foi expulso do camarim de Luan Santana, após um show do astro na cidade de Uberlândia. Antes de qualquer coisa, ao se analizar a atitude dos assessores de imprensa tanto do evento, quanto do cantor, deve-se levar em conta quem é Marcus e o que o Blognejo representa não só para o segmento da música sertaneja, mas para a música popular brasileira como um todo.

Marcus é um pioneiro. Ele foi o primeiro a ter a compreensão de que os ritmos populares - no caso dele, a música sertaneja - estavam carentes de uma cobertura decente e de uma crítica séria. Ao se pesquisar na Internet à procura de notícias e reportagens, só se encontrava releases e muito amadorismo. Quando não o mais puro jabá.

Motivado por essa percepção começou seu blog, na época ainda no portal NoEmbalo. A recepção foi tão positiva, que logo os acessos se multiplicaram e mais pessoas resolveram seguir o exemplo, como o caso de André Piunti - que acabou se formando em jornalismo e sendo contratado pelo UOL - e Fábio Dorneles, que tocava o finado Território Sertanejo e atualmente vive um momento sabático em sua vida.

Hoje Marcus tem seu próprio site, o Blognejo, que recebe milhares de visitas diárias e é lido com atenção não só por ouvintes de música sertaneja, como por cantores, músicos e produtores. E falo de gente grande.

Uma vez apresentado o trabalho do rapaz, passamos a expôr o quanto a expulsão do camarim de Luan Santana é particularmente algo lamantável.

Quem acompanha a história do rapaz de Campo Grande sabe que o sucesso que ele conseguiu na atualidade não foi uma coisa que ocorreu da noite pro dia. Luan Santana não foi um produto fabricado pela mídia. Luan Santana é um produto da Internet. Foi no boca a boca virtual que aquele disquinho produzido pelo Sorocaba foi sendo escutado, fazendo que os shows fossem mais frequentes e mais lotados. E nesse boca a boca o Blognejo teve um papel crucial.

Muita gente, mas muita gente mesmo, ouviu falar pela primeira vez de Luan Santana no Blognejo. Que a assessoria do cantor deveria dar prioridade de atendimento ao Marcus é uma questão de justiça. De ética, até mesmo.

Mas ocorre que Luan Santana foi "devorado pelo monstro" ao fechar acordo com a Som Livre. O controle sobre sua carreira saiu de suas mãos e passou para as mãos nem sempre eficientes de produtores e assessorias. No caso expecífico de Luan Santana a escolha da assessoria foi particularmente infeliz.

A assessora de imprensa Dagmar Alba - e nos bastidores todos sabem disso - não foi indicada por sua competências, mas sim por apadrinhamento, numa operação típica dos corredores de Brasília.

Em seu emprego anterior assessorava a banda de pagode Jeito Moleque. Em 2005 a banda criou um projeto ecológico fantástico, nos moldes do que o Radiohead e Pearl Jam faz, a compensação das emissões de carbono produzidas nos shows através do plantio de árvores. O DVD gravado em Manaus foi feito assim e graças a total incompetência da assessora, a repercussão na mídia foi nula.

O fracasso lhe custou o emprego. E a demissão custou ao Jeito Moleque um processo na justiça trabalhista.

Recentemente a assessoria - muito provavelmente por parte de Dagmar - afirmou que a recusa de Luan em aceitar gravar a música que faria parte da abertura da próxima novela das seis da Rede Globo se deve ao fato de que o público daquela novela não ser o seu.

Quando fui escalado para editar uma revista pôster do Luan pela editora Tambor Digital, ela me disse que não poderia me ajudar, pois tinha fechado acordo de exclusividade com outra revista. Um cantor limitando sua aparição na mídia? Exclusividade com apenas um véiculos? Não fazia - e não faz! - nenhum sentido. Um mês depois estava lá nas bancas: Luan Santana na capa da Billboard. O que isso impediu que ela me ajudasse na revista pôster é algo que nem Freud explica.

Mas provavelmente a maior prova da incopetência de Dagmar Alba seja o fato de que mesmo após um ano de trabalho intenso, ainda não conseguiu calar as especulação sobre a sexualidade de Luan Santana. Luan Santana é gay? Essa pergunta não quer calar. Ao invés de simplesmente ignorar a questão e ganhar pelo cansaço, Dagmar teve a infeliz idéia de insistir na imagem de pegador.

Em uma gravação para o programa do Faustão que ainda não foi ao ar, Luan Santana afirmou que transa com fãs antes, depois e inclusive durante os shows. Pelo que eu saiba, nem o Mick Jagger faz isso. Na Internet a repercussão foi negativíssima.

O que a Dagmar tem talento mesmo é gerenciamento de backstage. Definir quem entra e quem não entra no camarim. Qual fã clube tem moral e qual não tem. Essas coisas. Em outras palavras: tráfico de influência.

Talvez ela esteja metendo os pés pelas mãos justamente para ganhar a conta e depois colocar a Globo na justiça.

Talvez.

O que é certo é que o potencial artístico de Luan Santana não pode ser posto em cheque por incompetência de assessorias de imprensa. E também é certo que pessoas como o Marcão, que com o mérito de seu trabalho competente, não podem ser tratadas com desrespeito e esnobismo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tecnomelody: Arte ou Crime Ambiental? - Debate entre Timpin e Rejane Bastos

Segue aqui o debate em torno do Tecnomelody do Pará. Legítima manifestação cultural e artística ou pretexto para a baderna e ultrapassagem dos limites do bom senso. Desta vez a palavra é da advogada Rejane Bastos, presidente da Associação Amigos do Silêncio.



Para quem quiser acompanhar a discussão desde o começo, aqui está a parte um, a parte dois e a parte três. Esta é a quarta.

Com a palavra, Rejane Bastos.

Olá Timpas,

Acabo de inventar o instituto jurídico "quatréplica" para dar seguimento ao debate.

Agora sim, sem alfinetadas desnecessárias, vamos para o salutar campo dos argumentos.

Comecemos pela discussão sobre classes. Estas existem desde que o mundo é mundo, é fato inconteste, e até hoje não se pode afirmar com precisão o porque desse fenômeno. Até no mais puro comunismo existiam classes: A Dominante ( com subdivisões hierárquicas dentro dela) e o proletariado. Portanto, assumir que se pertença a uma classe com poder aquisitivo maior não é nenhuma novidade reveladora, isto é evidente. Agora, daí a decretar que a classe quer mandar e desmandar no que é bom ou não em termos culturais, assim como, rotular as "elites" dentro de uma visão discriminatória colocando a todos no mesmo balaio de esteriótipos vai uma distância muito grande, Ate porque, como eu já disse, existe uma infinidade de pessoas ricas que gostam de brega, assim como, uma infinidade de pobres que detestam.

Deixei claro também, que a opinião não era da Presidente dos Amigos do Silêncio, para não misturar as estaçõs, a instituição não atribui classe , ritmo, cor, raça ou credo ao barulho.A opinião sobre o ritmo é da pessoa física Rejane que nunca teve receio de irritar confrarias, adeptos ou simples induzidos pela mídia do que quer que seja com sua opinião. Quase me bateram certa vez quando eu disse que não gostava de João Gilberto, considerado gênio, afinal, não consigo nem ouvir o que ele canta! Que genialidade é esta? Não gosto e pronto. Critiquei certas melodias ridículas da Bossa Nova e fui considerada herege. Mas insisto: "O pato, vinha cantando alegremente..qué...qué...", só com muito álcool para achar isso o máximo.

Tive a ousadia de dizer que "Cats", o musical sensação da época não era lá essas coisas, me olhavam com espanto e desprezo. E assim sigo, não me rendendo aos que querem impor algo como sendo bom, e neste diapasão, o tcnomelody na minha opinião não passa de um ritmo voltado exclusivamente para venda, enjoativo ,com letras vulgares e sem a menor arte. Aliás, tem pré requisitos suficientes realmente para estourar no Brasil e no mundo, quem disse que europeus e americanos não gostam de coisa ruim? Quanto ao resto do Brasil isto ainda é mais fácil, no país do Axé, do Tchan, do Funk, do´"só no sapatinho" ," baba baby", entre tantos outras lástimas da mídia, qualquer coisa tem chance, é questão, repito, de uma Marlene Matos na administração.

Na Europa lhe digo que as chances são grandes, nos EUA as coisas complicam, são mais seletivos e preconceituosos, entretanto, a coisa é assim, ele gostam de curtir a bagunça no quintal dos outros. Vem aqui, fazem farra de todo tipo e voltam para seus países quietinhos e santos mantendo as leis e a normalidade. Quem se atrever a alucinar e colocar som alto em casa ou bares abertos, recebe em cinco minutos a visita da polícia. Certa vez em Daytona Beach, conhecida figura paraense pensou que estava em Salinas e ligou o som do carro, em minutos os robocops que patrulham a praia avisaram, ou desliga ou vai preso e fica sem o carro, simples assim.

A diferença é esta, Europa e EUA chegaram à excelência do cumprimento às normas e respeito ao próximo. Existem atividades para todos os tipos e gostos, entretanto, a regra basilar é não incomodar. Tem boates na Espanha que começam às 6:00 da manhã, porém, na rua não se ouve um ruído sequer e nada de gente na porta ou carro com som alto - ou entra ou sai - e lá dentro é só piração com direito a palco móvel. O sujeito alucina sem incomodar ninguém.

Voltando ao barulho em Belém, é inegável que sempre foi uma capital festeira, porém, não era barulhenta. Esse fenômeno foi recente e começou, justamente, com a onda das aparelhagens. O som era moderado e não incomodava tanto. Eu mesma sou testemunha da evolução do barulho. Morava no último andar de um edifício e na rua ao lado havia um barzinho que nem teto tinha. Ali o dono ligava um "três em um" e a turma se divertia muito. Com o som controlado ninguém precisava gritar para falar e o bar não incomodava ninguém, para se ouvir qualquer coisa tinha que ficar na janela, entrou em casa acabou. O sujeito começou a faturar um pouco , comprou um equipamento mais caro e colocou um teto de sapê, ainda assim, mantinha os decibéis e a frequência aumentava. O tempo passa, eu grávida da minha segunda filha vejo chegar umas caixas de som, mas, não imaginei o que vinha pela frente. Fui ter a criança e na primeira noite do bebê em casa aquele som de estremecer todas as janelas anuncia a desgraça: " Mestreeeeee soooommmmm". Daí para frente foi um inferno. Um dj ensandecido não parava de berrar madrugada à dentro e o ritmo - brega. O volume das vozes aumentou na mesma proporção e o local se tornou a filial do inferno para a vizinhança com direito até a tiros e muita brigalhada.

De fato, existem dois focos de discussão: A qualidade do brega como ritmo e a poluição sonora. Fato é que - inexoravelmente - estas estradas se encontram. O que toca nas festas de aparelhagem? O que toca nestes carros/boates que circulam criminosamente acordando todo mundo de madrugada? O que toca naquele vizinho que insiste em obrigar a toda vizinhança a ouvir o som dele? O que toca nas orlas? Garanto que não é rock, bossa nova, tecno, carimbó etc... é o brega, e às vezes ,um goiano perdido com o sertanejo. Por esta razão o brega chama a atenção para si e causa toda essa celeuma. Se não estivesse ligado umbilicalmente com milhares de reclamações que enchem o CIOP, a DPA e a DEMA de denúncias, talvez nem estivéssemos aqui falando dele. Ocorre que é um ritmo tocado nas alturas que incomoda horrores e que corre o risco de ser tombado como patrimônio, isto sim assusta e provoca a polêmica, pois, daí para termos um carro de som em cada esquina é um passo.

Se hoje o cidadão para conseguir a tutela do Estado quando está sendo vítima de poluição sonora já é uma dificuldade, imagina com o tombamento. A polícia quando chamada - se aparecer - vai dizer: " Mas o senhor está reclamando contra um patrimônio histórico tombado, que absurdo!". Vamos correr o risco de responder ação penal sob a capitulação da Lei 9605/98 se quebrarmos o cd da periquita. Imagina o som ambiente de uma cerimônia oficial de Estado: " vou te comer...vou te comer...vou te comer...

Olha Timpas, vamos falar sério, quem quiser faturar horrores com o ritmo que fature, nada contra, Nós já sobrevivemos à "boquinha da garrafa" , " só as cachorras", "créu" e tantas outras bizarrices. Só nos façam um favor, mantenham dentro dos limites das normas federais determinadas pelo CONAMA aquela vozinha prá lá de chata das interpretes do gênero feminino do brega, é só isso que pedimos, de resto, não existe uma guerra em prol da estigmatização de um ritmo, só uma chamada à realidade e ao bom senso, afinal, só aqui inventaram essa graça de se atribuir status de tombamento a um ritmo musical - me perdoe a franqueza - de gosto para lá de duvidoso como tantos outros que já surgiram.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Debate entre Timpin e Rejane Bastos, presidente da Associação Amigos do Silêncio

Segue aqui minha tréplica, no debate com a Advogada Rejane Bastos. Para quem está pegando o bonde andando, tudo começou com um texto publicado na minha coluna jornal O Liberal, do estado do Pará, que pode ser lida clicando aqui. O blog publicou a réplica da advogada, que pode ser lida aqui. Eis então minha tréplica:

............

Fiquei feliz quando recebi a resposta da advogada Rejane Bastos, referente às minhas criticas que fiz com relação a uma carta aberta que ela havia divulgado na imprensa. É urgente que se abra uma linha de debate em torno do reconhecimento do Tecnomelody como autêntica manifestação cultural do estado do Pará.

Digo isso porque o ritmo está na eminência de estourar nacionalmente - quiçá globalmente - e continuar marginalizado no seu local de origem acabaria por revelar a todos as contradições de uma sociedade paraense com dificuldades em lidar com sua identidade. Por isso, comento aqui os argumentos da Dra. Rejane, na esperança de que no final deste debate, ambas as partes saiam ganhando.

A resposta começa com a alegação de que criou-se no Brasil um preconceito contra as supostas "elites" (aspas dela). No mesmo parágrafo, afirma que o que eu falei sobre "uma elite que nega seus traços de índio, pinta o cabelo de loiro e sonha em morar em condomínios, passar frio e usar casaco" (aspas minhas) é preconceito de minha parte. Só que no final de seu texto ela afirma que sente orgulho de pertencer à alta sociedade e ter condições de viajar pelo país para sentir frio. Onde está meu preconceito então? Afinal de contas ela assumiu que existe sim uma elite como a que textualmente foi citada por mim.

Mas o cerne da questão é tocado no seguinte trecho de uma frase da Dra.Rejane: "...trabalhadores que chegam exaustos em casa e sequer podem ver uma televisão, porque os Timpins da vida querem impor sua cultura em decibéis criminosos". Essa argumentação toca em dois pontos chaves nessa discussão.

O primeiro é a associação de que o problema de Belém ser uma cidade barulhenta deve-se exclusivamente a um ritmo específico, o Tecnomelody. O que eu quero dizer é que a luta contra a poluição sonora de Belém é uma causa de relevância incontestável e não está em questão. O que está em questão é essa associação direta, assumida reiterada vezes. E não só isso, o tempo todo o juízo de valor está lá, reafirmando que se trata de "letras ruins, melodia enjoativa". É novamente uma elite que se acha na consdição - ou no conhecimento de causa - de definir o que é bom, o que é ruim e o que é correto o povo ouvir.

O segundo ponto é tentar entender o que fez com que Belém se tornasse uma cidade tão barulhenta e o que é humanamente possível para remediar isso. Não se pode dizer simplesmente que o povo é ignorante e que uma boa educação resolveria. Ignorancia e falta de educação existem em todas as capitais, entretanto só Belém ergue a taça do Campeonato Brasileiro da Zoeira.

O hábito de se ouvir música na rua - e alto - surgiu lá nas décadas de 60 e 70 nos bairros pobres. Em parte para mostrar aos vizinhos que ele conseguiu ter um aparelho de som (naquela época um status absurdo), em parte porque em Belém faz muito calor e na periferia da cidade ir para a rua ouvir música nos finais de semana é uma forma de escapar do ambiente sufocante das casas de madeira e alvenaria sem ventilação dos bairros mais pobres.

Some-se a isso o fato de que o morador da periferia é de origem negra e indígena - povos de uma extrema musicalidade - e de que devido à localização geográfica, acabou por ter acesso a diversos ritmos. Desde os anos 50 se contrabandeavam discos de rock dos Estados Unidos e discos de cumbia, soca e merengue do Caribe e das Guianas. Foi o que possibilitou, por exemplo, a criação da guitarrada e da lambada, ritmos nascidos do contato da periferia da cidade com ritmos criados em outros países. Isso acabou por gerar um ambiente em que a música tem um papel muito forte.

Resumindo: existem fortes razões culturais, sociais e geográficas para Belém ser o que é. Diante de tantas contingências, sair por aí decretando leis que impeçam as aparelhagens de tocarem, apreendendo equipamentos de som ou fechando bares apartir de um certo horário, não resolve a questão. Muito pelo contrário. Corre-se o risco de se criar um estado policialesco que, diante do quadro agravante do aumento da criminalidade, pode ser muito perigoso.

São essas reflexões que os senhores deputados devem se fazer na hora de aprovar leis que se refiram ao mercado de consumo do Tecnomelody. Não esse debate acadêmico e vazio que quer tornar o Tecnomelody patrimônio cultural. Isso não faz o menor sentido. Um patrimônio cultural é algo construído com o tempo e o Tecnomelody é muito novo. Seria como se os baianos decretassem que Rebolation é patrimônio cultural do estado da Bahia.

O argumento decisivo contra o tombamento do Tecnomelody - e o termo tombamento aqui adquire até um duplo sentido - é que uma prática dessas visa a proteção de uma cultura contra infiltrações externas que denigram sua pureza. Ora pois, o Tecnomelody é um ritmo em constante inovação e sem nenhum pudor em importar samples de sanfona sertaneja, refrões de Cúbia Villera argentina ou fazer versões de hits americanos.

Para finalizar, volto a agradescer à advogada Rejane Bastos por ter aceitado esse debate. Em tempos de falência da dialética, onde a facilidade de emissão de opiniões muitas vezes vem mais para prejudicar de que para ajudar a resolver questões de suma importância para a sociedade, debater em um ambiente saudável e civilizado, é extremamente construtivo.

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