quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Conflito de gerações na musica sertaneja & O desabafo de Victor Chaves

Pessoal, apresento pra vcs mais uma coluna minha que foi publicada no jornal Liberal. Essa saiu na semana retrasada. Após o texto, vou fazer um PS.: com algumas considerações que faz horas que eu queria fazer acerca de Victor & Leo.

Conflito de gerações na musica sertaneja

O prêmio Multishow deste ano incluiu a categoria música sertaneja. Os vencedores foram os dois maiores nomes do segmento na atualidade: Luan Santana e Victor & Leo, como revelação e artistas do ano, respectivamente. A premiação foi o reconhecimento da nova geração da música sertaneja, os chamados universitários – rótulo que muitos rejeitam.

O resultado não causou muita surpresa entre o público, afinal de contas o disco Borboletas de Victor & Leo desde que foi lançado figura entre os mais vendidos e Luan Santana tornou-se um astro que arrasta multidões de adolescentes histéricas que lotam seus shows e é figurinha fácil em diversos programas de televisão.

Entre os alguns artistas sertanejos no entanto, o resultado não foi muito bem recebido. Luciano, que faz dupla com Zezé di Camargo, fez uma crítica dura em seu Twitter, reclamando que apesar da premiação se dizer baseada em votação popular, no final quem escolhe os premiados é a produção do evento. Já o cantor Eduardo Costa praticamente surtou no seu microblog. Soltou uma série de mensagens – algumas francamente ofensivas – contra os novatos sertanejos.

Numa delas afirmou textualmente que sertanejo de verdade “...tem que ter raiz, tem ter tocado uma vaca, tirado um leite, tem que saber a lua certa pra se plantar”. Em outra, destila seu veneno caipira afirmando que “...vou dizer, música sertaneja e muito mais que um premiozinho ou noticiazinhas idiotas por ai, aprende primeiro…”

Não é de hoje que existe um certo conflito de gerações na área. Diante de uma pergunta provocativa durante uma entrevista, Luciano já tinha dito que se esse povo se diz universitário, eles – no caso sua dupla com Zezé – poderiam se considerar doutores.

O que o ocorre é que com os novos tempos houve uma significativa mudança na dinâmica da coisa toda. Com a queda brusca na venda de discos, os artistas passaram a sobreviver basicamente de shows. Até as gravadoras se adpataram e passaram para o terreno de gerenciamento de carreiras. O artista arca com os custos das gravações e elas trabalham a divulgação e embolsam um valor percentual da arrecedação das bilheterias.

Num cenário assim, quem dita as tendências acaba sendo o público dos shows, composto essencialmente por jovens. Daí o gosto por músicas mais agitadas, dançantes e com letras que retratam menos desilusões amorosas e mais situações do cotiano da juventude. Esse poder decisão sobre que músicas entrarão no repertório e quais artistas se destacarão é amplificado pelo fato de que as rádios perderam status de ditadoras de tendências.

Por sorte, o choque de gerações não é regra. A dupla mais antiga ainda em atividade, Chitãozinho & Chororó, na gravação do DVD em comemoração de seus 40 anos de carreira, convidou vários artistas da nova geração, de Luan Santana a João Bosco & Vinicius. Já o cantor Leonardo fundou recentemente uma editora para ajudar novos artistas a buscarem seu lugar ao sol.

Os cães ladram, mas a caravana premiada pelo Multushow não pára. Tanto Luan Santana quanto Victor & Leo merecem colocar em sua estante os troféus que ganharam. Até porquê eles são significativos representantes de um último aspecto dos novos tempos que eu gostaria de abordar aqui.

Luan Santana preenche um vácuo criado pela ausência de lançamentos relevantes na área do pop rock, daí sua aceitação imediatada junto ao público adolescente, enquanto Victor & Leo preenche o vácuo criativo da MPB. O que explica a presença da música “Anunciação” de Alceu Valência em seu disco mais recente, assim como o dueto com Alcione em “Deus e eu no sertão”.

No mês de Setembro a cidade de Belém terá a oportunidade de conferir o show dos dois vencedores do Multishow 2010, no dia 16 Luan se apresentará no Cidade Folia e logo depois, no dia 24, teremos Victor & Léo no Hangar. Pelo visto, o orçamento mensal de muita gente estará comprometido.

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Post Scriptum de um Timpin deveras insistente em bater em uma mesma tecla

Victor & Leo ganharam o prêmio Multishow na categoria de música sertaneja. Ponto. Muita gene alegou que não foi justo, que o ano em que eles bombaram foi o passado e não esse, que o disco Ao Vivo e Em Cores foi um fracasso comercial e mais um monte de coisa. Não vou discutir isso aqui. O que quero discutir foi o discurso de Victor ao receber o troféu.

Ele falou que quem estava ganhando na verdade era a música brasileira como um todo, que está aos poucos aceitando o sertanejo moderno como manifestação cultural digna de ser considerada parte da chamada Musica Popular Brasileira. Ele não usou essas exatas palavras, mas ao citar o antigo e pejorativo rótulo de breganejo, o argumento que falei ficou implícito.

A verdade é que isso de fato ainda está longe de acontecer. Apesar de Victor ultimamente andar compondo músicas em parceria com Renato Teixeira e Sergio Reias (esses sim, que tocam modas antigas, são considerados "MPB"), a dupla Victor & Leo são exceção e não regra.

Que a música sertaneja irá conseguir se impôr como "cultura" entre a classe "bem pensante" desse país é só uma questão de tempo. O delay será de no máximo uma geração, provavelmente menos, como se pode observar pelo a inclusão a fórceps de Luan Santana na grande midia.

De minha parte, aguardo esse grande evento com uma impaciência que já atinge as raias da impaciência. E não falo só do sertanejo. Falo do Axé, do forró, da vanera, do funk, do tcnomelody, do arrocha, do pagode paulista, do pagode baiano e mais uma cacetada de manifestações culturais desprezadas.

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