O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro

O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.

Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira

Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.

Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3

O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.

Por um Help à Música Sertaneja

Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.

Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos

Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

João Carreiro & Capataz - Clipe "O que essa moça fez aqui"

Sem palavras. O melhor clipe de música sertaneja que já vi até hoje. Sem mais, assistam

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cally Mell - A Dançarina que caiu do céu

A teia de sincronicidade que caiu do céu em cima de minha pessoa continua bombando. Quando vim para São Paulo não tinha nenhuma pauta definida, a idéia seria fazer matérias na base do improviso gonzo.


Depois de vários contatos mijarem pra trás, acabei recorrendo ao meu amigo Dênis, da BYA Eventos. Camarada que é, me conseguiu um hotel no centro de São Paulo e me comunicou que uma banda de arrocha nova estava fazendo uma temporada de shows na capital paulista e perguntou se eu não estava afim de cobrir. Pergunta besta, lógico que queria.

Foi assim que conheci o pessoal da Bonde dos Playboys e o moleque do Bonde do Serrote do post anterior. Mas não só. Depois de uma sesta revigorante, desci para a recepção e ao sair do hotel dei de cara com o ônibus da Banda Djavú. Eles estavam hospedados no mesmo hotel!

Os frequentadores veteranos deste Cabaret sabem que a dois anos atrás eu derrubei o cesebre deles através do Watergate do Tecnobrega. Inclusive troquei insultos com o cantor Geandson Rios via telefone. Mas como não devo nada a ninguém e não tenho medo de corno nenhum, acabei abordando o cantor e me apresentando. No final acabamos ficando amigos de cagar de porta aberta e até uma consultoria de uso do facebook dei pro cara, enquanto estávamos sentados em uma poltorna na recepção, já que a wireless tabaca do hotel só pegava no térreo.

Justamente por esse motivo, acabei desapropriando a mesinha das térmicas de café, locando um tamborete preto de plástico e montando uma filial do escritório do Cabaret na recepção. Muito mais divertido do que ficar solitário num quarto de ventilador de teto. Em poucos minutos já estava entrosado com os meninos da banda e com a recepcionista estressada Ivonete, a mulher que pega ar facinho com minhas traquinagens. Só que vou pular alguns eventos cronológicos para chegar ao ponto que quero abordar neste post. Uma pessoa muito especial que conheci e que me devolveu um pouco da fé na humanidade que tinha perdido neste 2011 que tanto me fudeu.

Foi na manhã de segunda-feira. O show do Bonde dos Playboys havia acabado mais cedo na noite anterior e por razões inescrutáveis acordei oito da manhã bem disposto e sem ressaca. Liguei o notebook na filial do Cabaret na recepção e começei a conferir o que havia rolado nas redes sociais. As dançarinas da Banda Djavu desfilavam seus traseiros esculturais para lá e para cá, ignorando por completo a minha presença no ambiente. Resolvi então chamar a atenção ligando minha caixinha de som e dando um play na "Puta que o pariu" do Trio da Huanna. Foi batata, na hora uma moreninha que estava sentanda na poltrona ao lado conversando com um carinha com fardamento de motorista de ônibus se manifestou.

- Ei! Isso é Trio da Huanna, fui num show deles em Salvador na sexta passada!
- Massa, né?
- Demais! Você passa essa música pra memória de meu celular?
- Só se for agora!

Quinze minutos depois já estava entupindo o pen drive do motorista (era um primo dela, não se viam a um tempão e que estava dando um nó no trampo para ver a parente adorada) com meu repertório de arrochas, funks, bregas, forrós, sertanejos, etc e vinte e cinco minutos depois ela já tinha buscado seu notebook branco do quarto e estávamos nos adicionando, seguindo e o caralho de asas em todas as redes sociais possíveis e imagináveis. Foi empatia à primeira vista.

- Eita mulher, tú é muito mais bonita nas fotos do que ao vivo!
- É que estou toda amassada porque cheguei do show e nem dormi. Depois eu subo no quarto pra me arrumar pra fazer umas compras na 25 de março e tu vai ver que dou pra um caldo
- Humm, duvido muito, mas...
- Ei, tô vendo aqui seu Twitter, você conhece a Aila Menezes?
- Sim, eu era fã da Groove de Saia que ela tinha antes.
- Pois é, agora ela tá cantando na Raghatoni
- Tá, agora pára de falar merda e sobe pra tentar consertar essa tua cútis malacabada...

E lá foi ela se arrumar enquando eu me gabava com os meninos do Bonde dos Playboys acerca de minha bem sucedida abordagem de uma das dançarinas da Djavu, enquanto eles permenaciam só olhando, como cara de vira-latas pidões. E foi mostrando as fotos do perfil do Twitter dela para os moleques, que recebi uma cutucada no ombro. Era ela.

- Fuçando no meu Twitter, hein?!
- Putz!!

E lá foi o Timpas assustado clicando em tudo que era X em tudo que era janela que tivesse na tela. No cagaço fechei até o MSN que não tinha nada a ver. E meu irmão... Realmente ela dava um caldo. E que caldo! Praticamente uma BR-101, ou seja, um autêntico pedaço de mal caminho. Infelizmente não me convidou para ir as comprar com ela. Na verdade recusou minha escalação para o passeio e desapareceu de minha vista com seu par de coxas esculturais e seu porta-malas indescritível. Levei algum tempo para recuperar o fôlego, enquanto os meninos do Bonde choravam de rir da minha cara de assustado.


Estava decidido, naquela noite eu jogaria um abacaxi no colo da equipe do Bonde dos Playboys e acompanharia a Banda Djavú, por mais horripilante que essa possibilidade pudesse soar em minha mente. A banda só sairia do hotel às 23:00 e durante o resto do dia bebi com parcimônia extrema e conversando com - ainda não falei o nome dela, né? - Cally Mell por MSN e Facebook.

Chegado o momento do climax, a partida do ônibus da Banda Djavú para o show, lá estavam elas, as dançarinas da djavú, todas vestindo um breguíssimo casaco vermelho, parecendo um bando de Chapeuzinhos Vermelhos esnobadas pelo Lobo Mau e com as pernas de fora. Colei em Cally e aí sim, começei a beber de verdade, inclusive fornecendo uns goles escondidos para a pequena notável.

Ao entrar no ônibus ela me comunicou que eu teria que ficar com os roadies no fundão, enquanto as dançarinas ficariam num reservadinho na parte da frente. O ônibus da Djavú é todo compartimentado, pra falar com o motorista, por exemplo, tem que fazer uso de um telefone localizado na escadinha em caracol que dá acesso ao banheiro. Só que um dos seguranças, ao me intimar pra entrar, falou bem assim:

- Timpin, entra e te instala onde você quiser!

Preciso falar que subi aos pulinhos de pereca epilética e que me instalei ao lado de Cally Mell? Quando ela me viu exclamou, entre surpresa e divertida:

- Tú é abusado né Timpin? Puta que o pariu!
- É nóiz, fique gelo...

O trajeto entre o hotel e a casa de show parecia mais interminável que a Ferrovia Russa Transiberiana e eu não achei isso nem um pouco ruim. Deu tempo pra gente filosofar, fazer piadinhas sobre as outras dançarinas tongas, praticar psicanálise de boteco e fazermos um apanhado geral de nossas biografias e constatar que éramos praticamente duas almas gêmes. A tampa & a marmita. Foi tesão pra caralho.

Eu que já estava achando que nunca mais encontraria uma pessoas fudidamente legal, mas uma vez fui surpreendido pelo destino.

Depois de um tempão que não me preocupei em cronometrar, chegamos na porra de casa de show e então veio a supresa. Estava rolando uma puta de uma blitz, envolvendo polícia civil, policia militar, exército, guarda municipal e se bobear até a milícia particular de Gilberto Kassab. Absolutamente todo mundo da balada estava sendo revistado, desde o vendedor da barraquinha de pamonha e tapioca até o gerente do estabelecimento e a equipe da banda que estava tocando antes. A turba teve que ser organizada em filas gigantescas e classificada em gêneros. As mulhes se puseram com as mãos na parede de costas pra rua em um quarteirão, enquanto os homens foram alocados em outros dois, mais pra esquerda.

Estava na cara que não rolaria mais show e agente estava achando aqui insanamente engraçado, já que na véspera ela tinha pedido demissão e aquele seria sua última apresentação com a banda. A tribulação do ônibus não estava entendendo porra nenhuma do que estava acontecendo. Lógico que eu não pude contar a piada pronta:

- Eu sei o que tá rolando. Todo mundo está intimado e enquadrado por porte de drogas, por causa do ingresso do show da Djavú no bolso.
- Cala a boca Timpin! Tá maluco?! Tá cheio de gente da banda aqui, quer apanhar?

Show cancelado, lá vai os mané de volta pro hotel, com uma breve pausa em um posto de gasolina, onde matei a fissura de cigarro e entornei mais uma latinhas inspiradoras. Passamos o resto da noite coladinhos, Cally Mell e eu, no balcão da recepção do hotel enquanto o sono não vinha, vendo fotos e videos do Orkut dela - ela também faz uns bicos em umas bandas de Swingueira de Salvador (não é uma mulher perfeita?) e luta Jiu-Jitsu (é, não é uma mulher perfeita...)

Fomos dormir quando o dia estava amanhecendo, sob juras e promessas de que nossos caminhos um dia ainda se cruzarão de novo, já que ela iria embora logo que o sol despontasse. Como ela teria ainda precisava arrumar as malas e era expressamente proibido homens entrarem no quarto das dançarinas, tive que me recolher aos meus aposentos.

Dormi mais feliz que minhocão em esterco vaca.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ermínio Félix & o Bonde do Serrote

Desde sábado estou em São Paulo acompanhando a temporada de show do grupo baiano de arrocha Bonde dos Playboys. A matéria ainda está para ser escrita, mas já posso adaintar que tive a grata supresa de descobrir que foi de autoria de um dos membros da banda, o baixista Ermínio Félix, o vídeo Dança do Serrote, que pelo andar da carruagem ainda esta semana baterá em um milhão de views no Youtube.

Ermínio Félix e seu assessor de assuntos aleatórios Adão Mario, aquele que faz aquilo atrás do armário, checando os comentários de seus videos na filial temporária do Cabaré do Timpin, montada na recepção do Ferrari Palace Hotel

Após o sucesso instatâneo do video, o moleque passou a produzir novas produções em ritmo industrial, enquanto fazia diversas aparições na mídia nacional, como o Hoje em Dia da Record, Programa da Eliana e uma apresentação histórica no Se Ela Dança Eu Danço do SBT. Sua fama correu o mundo e já recebeu convites para levar seu Bonde do Serrote - que é como ele chama seu "projeto solo paralelo" a Valência, na Espanha e Londres, na Inglaterra. A viagem só não saiu por Ermínio ainda não começou a capitalizar de verdade seu talento. Tudo o que ele faz é através de sua câmera digital surrada e de seu computador altamente meia boca, operando apartir do bairro Nova Brasília, na periferia de Salvador. O nowhow para a edição foi adquirido através de tutoriais no próprio Youtube.

Como este Cabaret tem a fama de apresentar a seus estimados frequentadores os sucessos em primeira mão, antes que eles estourem, é com essa função de apresentamos uma seleção de algumas produções do futuro astro da TV Ermínio Félix. Não resta a sombra de dúvidas de que ser baixista do Bonde dos Playboys é para ele apenas um bico temporário. As luzes da ribalta o aguardam, é só uma questão de tempo. E no caso dele, o tempo é senhor da falta de noção.

Dança do Serrote Oficial

Dança da Furadeira (O novo Hit)

Serrote em Nova Brasilia - Superprodução com a canção sendo interpretada por todos os bebuns do logradouro de Nova Brasília

Dança do Cemitério

Sai Satanás

Brincadeira de Mal Gosto - E de saideira, o vídeo que o colocou sob ameaça de morte. Inadvertidamente Ermínio teve a idéia cretina de jogar um balde de água no negão crente que faz chapinha no cabelo. O cara se molhou e não gostou, por assim dizer.

domingo, 27 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Forró dos Plays - Puta que o Pariu

O maluco chamado Doidim di Mossoró já foi pauta de nosso Cabaret, para conhecer a história desta figura clique aqui. Na época ele era o frontman dos Casadões do Forró. Ocorre que agora ele foi contratado pela A3 Entretenimentos (sério, agora ele é subalterno de Isaias Cds, rezo por ele, o Doidim, não o Isaias, todas as noites) e tornou-se Maikon, o mais novo vocalista do Forró dos Plays.

Doidim di Mossoró e sua nova namorada

Como Doidim é o forrozeiro mestre das Redes Sociais, se ligou de cara no meu post sobre a "Puta que o pariu" do Trio da Huanna, nossa grande aposta como hit do verão de 2012 e já gravou a versão em forró. É o passo dois na cartilha do sucesso, o primeiro já ocorreu, que é estourar em versão arrocha. O passo três é a Garota Safada regravar e depois o resto da manada. Depois sai em sertanejo e está feita a cagada.

Agora voltando ao Doidim, gostaria de acrescentar que ele é um forrozeiro completo, canta, compõe, twitta e é carismático. E sortudo! Olhe na foto abaixo o presentão que ganhou de sua nova namorada depois de uma noite de mil e uma loucuras no motelzinho Sei Não, de Patos da Paraíba. Ah sim! Já estava esquecendo, o link para este aqui > LINK < Clica logo, seu corno!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Trio da Huanna - Puta que o pariu, o Cabaret deu antes!

Ok, isso aqui é um Cabaré, mas vez por outra faz as vezes de Cassino. É divertido fazer apostas sobre quem ou que música vai fazer sucesso. Luan Santana foi uma pedra que cantamos lá no comecinho de 2009 e deu no que deu. Volta e meia erramos também e aí está a Stefhany meio que jogada às traças. No final do ano passado anunciamos que "Liga da Justiça" seria o hit do carnaval baiano e acertamos. Bom, chegou a hora de brincarmos mais um pouco e apresentar a nossos leitores o sucesso do Verão 2012: "Puta que o pariu (Passinho)" dos arrocheiros baianos do Trio da Huanna. Se essa música estourar, não sejam ingratos e gritem a todos: "Ei, essa o Cabaret deu antes!" Mas nossos cafetões advertem, ouça por sua própria conta e risco, porque essa porra gruda no cérebro que nem bosta de cachorro em sandálias Havaianas.

A Balada de Marcus Blognejo

Eu e Marcão, desde que nos conhecemos - e isso já faz mais de dois bem vividos anos - sempre fomos grandes amigos. Amigos de discordarem um do outro acerca de suas opiniões, discutirem pesadamente e depois voltarem pra casa bêbados e abraçados e rindo de tudo o que aprontaram. Acho que esse é um desses momentos. Certas coisas precisam ser ditas aqui no Cabaret, em resposta a certas coisas que ele disse em seu cafofo Blognejo.


Quando eu e Yago Boufleuer, a quatro meses atrás, denunciamos o Julho Negro da música sertaneja, ele através de evasivas (clique aqui), insinuou que estávamos sendo ortodoxos, chegando ao ponto de afirmar que éramos contra regravações de músicas de bandas de forró, coisa que nunca fizemos, posto que aplaudimos as versões de "Tentativas em Vão" e "Parede de Vidro", que Bruno & Marrone fizeram, respectivamente, de Garota Safada e Saia Rodada. Nossa bronca era com "Assim você me mata" de Michel Teló, que Marcão insistia em aplaudir.

E foi com "Assim você me mata" que Marcão chegou ao ápice na falta de um norte em sua argumentação, quando usou a metáfora mais infeliz da história da crítica da música sertaneja na blogosfera nacional, a fábula do Patinho Feio. No referido texto, argumentou que no principio todos pensavam que a música era feia e que seria um fracasso, mas que no entanto transformou-se num cisne de êxito que fez o Brasil se ajoelhar perante sua beleza.

Só que o ponto não é esse. O ponto nunca foi esse. A minha bronca nunca foi com a música, tanto é que ela está presente na minha coletânea das melhores músicas de forró estouradas no São João do nordeste, em sua versão original com a Cangaia de Jegue. A minha bronca foi com relação às decisões artísticas que Michel Teló tomou para conduzir sua carreira. A escolha dele foi pelo sucesso fácil, pela estética descartável que se insuflou em seu ego após ver o Brasil ecoar seu "Ôôôô!" da abertura de sua "Fugidinha".

O ponto é - e volto a martelar nele, pra ver ser alguém me ouve - Michel Teló está jogando no ralo a grande chance de se tornar um crooner da música romântica brasileira, ou pelo menos de uma música sertaneja que mereça entrar nos anais da história. Ele está perdendo a oportunidade de prosseguir de onde Daniel parou, por pura falta de fôlego ou excesso de dinheiro. E está deixando vazia esta vaga. E esta vaga a qualquer momento pode ser preenchida por um Luan Santana, um Gusttavo Lima ou outro moleque mais esperto e mais talentoso ainda, que é o que não falta nesse momento: gente talentosa querendo mostrar seu potencial.

A música "Ai se eu te pego", retirada de seu contexto malediscente do forró e jogada no sertanejo com uma mega campanha de marketing em cima, em nada a faz superior a uma versão de "Sou Foda", que em seu favor tem pelo menos o mérito de não ter sido retirada de seu contexto, mas sim recontextualizada. Uma música que já era sucesso em forró em versões de diversas bandas ser regravada é uma coisa, um funk totalmente tosco, restrito a um gueto, que foi transformado em sucesso nacional em sertanejo e forró é bem outra coisa, é ruptura!

Tanto é ruptura, que incomou a ala reacionária dos leitores do Blognejo, que não se furtaram em aplaudir o post "Um ano foda para a música sertaneja", um mero genérico tardio e parcial de nosso Julho Negro. Com o agravante de algumas generalizações perigosas, do tipo insinuar que música nordestina seja algo de uma baixa qualidade intrísceca. Isso é sinal de ignorância. Até porque o termo "música nordestina" é muito amplo. Não bastassem a existência de forró, arrocha, brega, pagode e outras variantes na música nordestina, o próprio forró tem várias subdivisões internas.

Além do estilo "risca-faca", que o blogueiro demonstra ser único a conhecer, ainda existe o forró romântico de ícones do naipe de Limão com Mel, Magníficos, Mastruz com Leite, que em termos de qualidade de letra e melodia, na maioria das vezes supera o melhor da produção sertaneja, ainda tem mais. Tem o pessoal da pegada pé de serra, que vai de Amor Real, Boca a Boca, Deixe de Brincadeira, Forró di Taipa e que tem no Forró do Muído seu representante mais pop. E também tem o chamam de "Forró de Vaquejada" cujo maior baluarte é o Arreio de Ouro, com seu carismático cantor Buscapé.

Mas o deslize de Marcão com o forró é o de menos, diante da bronca com o funk. Apesar de ele se reafirmar como "nada contra a putaria", essa reafirmação é contradita com o teor do texto inteiro, que culmina na confissão de um rancor de que o funk seja considerado "manifestação cultural" pela intelectualidade e o sertanejo não. Isso pode até ser verdade, mas não é com um chororô ressentido na pior hora possível que vai se resolver isso. O pessoal do forró poderia choramingar a mesma mágoa com relação ao tecnobrega, os motivos seriam os mesmos. Essa questão é válida? É, mas tudo tem sua hora certa, seu momento certo e seu contexto certo.

Muita porcaria sertaneja foi lançada neste ano, pelo menos isso parece ser um consenso, mas não é um reclamando do forró e outro reclamando do funk, que vai se resolver isso. É louvável que todas essas culturas estejam interagindo entre si, mas precisamos criticar apenas os passos em falso, os deslizes e os desvios de conduta, não a interação, que em si é saudável. Olhem de novo nosso troféu "Assim Você me Mata", tem de tudo lá! Desde regravações, duetos infelizes e até músicas originais, como o caso Fernando & Sorocaba, que ficaram com a medalha de prata, por conta da "Pega eu".

Mas o mais importante do que falarmos merda em nossos blogs - eu mesmo falei ao colocar Henrique & Diego com a "Canudinho" (ficou massa, ora xongas!) na lista negra - é que esse debate esteja sendo realizado e essas coisas sendo ditas. Está mais do que na hora da música sertaneja se repensar não apenas em termos comerciais, mas agora em termos artísticos, para aí sim, ela fazer a elite cultural se ajoelhar diante de uma manifestação cultural autêntica.

Falo isso na condição de amigo da musica verdadeiramente popular brasileira. E amigo, como falei no começo do texto, fala as verdades na cara, briga, dá pití e dá xilique e depois sai de boa. Um forte abraço para o Marcão e que ele continue fazendo seu belíssimo e pioneiro trabalho no Blognejo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Gang do Eletro no Se Rasgum (primeiro comentário)

Vladimir Cunha estava no Se Rasgum, festival de rock que acontece anualmente em Belém. Eis seus primeiros comentários sobre a apresentação da Gang do Eletro no evento:

Ontem no Se Rasgum a Gang do Eletro provou que pode se tornar um dos nomes mais quentes do novo pop brasileiro. Superou qualquer coisa que tocou antes e que viria a tocar depois, ate mesmo o Lobao. Nao e mais tecnobrega, e musica eletronica underground internacional. Podia estar acontecendo em qualquer canto do mundo. Tem potencial. E diferente da Gaby por nao se impor sob a logica GLS. Na verdade a Gang esta criando a sua propria logica a partir de um estilo musical que comecou tosco e cheio de pontas soltas. Incrivel poder ter visto a reacao das pessoas ao som da banda.

*Atualização

Unanimidade: melhor show do Se Rasgum 2011, até agora. Eles conseguem ser experimentais ( de certa forma) e dançantes. Foi destruidor.
Por Bruno Rabelo

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Edcity - PamPam RamRam PamPam (clipe oficial)

Ano passado acertamos em nossa previsão do hit do carnaval baiano, que foi o caso da "Liga da Justiça" da banda Leva Nóiz. Este ano nossa aposta é a onomatopeica "PamPam RamRam PamPam" de Edcity. Quem conhece a trajetória deste batalhador, defensor dos guetos e o cara que criou o groove arrastado e conceitualizou o pagode baiano, sabe o quanto ele merece. Com vocês, o clipe oficial!




Gang do Eletro - Singlegrafia Completa de 2011

A cena musical de Belém é tão endêmica que toda vez que toco no assunto uma breve explicação se faz necessária. Essa coletânea que estamos postando, em praticamente sua totalidade é composta por músicas de equipes. Nas festas de aparelhagens a galera costuma frequentar em bando e esses bandos são as tais equipes, cada uma com um nome e muitas vezes uma identidade visual diferenciada.
Mas não só. As equipes costumam encomendar músicas exclusivas para elas. E de todos os artistas que fazem músicas deste tipo, a Gang do Eletro é a mais solicitada. Os moleques criam em ritmo industrial.

Depois de horas baixando single por single, nosso Cabaret mui orgulhosamente apresenta para nossos estimados frequentadores um arquivão como toda a produção da Gang em 2011, até este momento. São 50 músicas, mais uma. E olha que só tem filé. Não é porque eles produzem adoiado (ou porque cobrem barato, por módicos R$250,00 você pode encomendar um eletromeldy para homenagear sua sogra, seu chefe ou sua rapariga) que eles baixam a guarda no quesito qualidade. Só tem pequenas obras-primas. Podem fazer o download no link abaixo sem medo de se arrepender.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Acharam a Ponta do Durex do Muído

Com vocês, mais um texto de nossa cafetina Janny Laura

Depois de me atirarem flores e pedras (nesse caso, tijolos!) com a última matéria sobre a perda de identidade da banda Forró do Muído, venho mais uma vez opinar sem ser convidada sobre o CD Promocional de Novembro 2011. Sabe quando você tem aquele prazer em dizer “eu avisei”? Pronto, é assim que me sinto agora. Encontraram a bússola, a ponta do Durex que estava perdida. O CD resgatou o pé-de-serra de antigamente, a originalidade da banda e, na minha opinião, só perde pra os Vol. 04 e 05.

Tá repleto, abarrotado de músicas falando de amor, de paixão. Simone tomou a frente da maioria dessas músicas e, junto com o amigo Binha, me fez relembrar aquele 2009 tão querido. Só tem a do “Piu-Piu” pra fazer uma graça, que é desnecessária e nem ela tirou minha alegria ao escrever esse post. Tem também aquelas de diversão, de beber, mas com o toque do Muído, fazendo o diferencial entre as outras bandas. Tem um ou dois pagodinhos de bom gosto e escolha, que Simaria não deixa faltar. Olhe, eu posso dizer com todo orgulho do mundo: o nosso verdadeiro Muído voltou! Com ele, voltou também a vontade de ir a show, de encontrar os amigos e se divertir até quando a gente cansar de ser ruim.

E aos fãs que desejaram comer meu fígado, eu digo: SENTA E CHORA. Sei que a mudança não foi por minha causa, que o CD estava pronto antes, mas entenda que eu e muitos outros fãs estávamos certos. Esse é o Muído que muitos sentiam saudade. Respeito aqueles que discordaram educadamente, apresentaram argumentos, mesmo eu não concordando, mas foram a minoria. A essa esmagadora maioria que desceu o cacete em mim, que é fã de Muído-Aviões-LuanSantana-Restart-ColírioCapricho ao mesmo tempo, que falou horrores sem nem entender o que escrevi é que eu me dirijo: chupa essa manga! Ah, reza a lenda por aí que Simone tá comprando calças (hahahahaha).

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Gang do Eletro ao vivo no Studio SP - Show completo em HD

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Joelma Ensina, Você Anota

Mais um texto de nossa colaboradora sazonal Janny Laura


Demorei, mas voltei. Depois de tanto tempo após a última matéria sobre Calypso (Joelma x Lady Gaga), escrevo novamente tirando o chapéu pra essa banda e, especificamente nessa matéria, pra Joelma, A Mulher do Dinheiro. Algo que é nato dela e de Chimbinha e que sustenta esse sucesso até hoje é o poder de renovação, querer trazer algo diferente pro público. Isso pode ser observado bem facilzinho no ballet da banda.

Como é um ritmo dançante, um show bem enérgico, é necessário ter um corpo de baile no palco junto com a loira, pra encorpar visualmente e casar com a música. É um diferencial, inclusive abordei essa questão na matéria anterior. Até pouco tempo atrás, Joelma formava seu ballet (ela é quem manda e desmanda nesse assunto dentro da banda!) com dois casais de dançarinos, no máximo três. Era bonito e “clássico”. Só que vi um vídeo no twitter do meu amigo Jack Vieira que me deixou admirada: o ballet tá muito, muito massa! Mudou daquele formato mais antigo e agora tem quatro gatos da galáxia e duas mulheres, alterando as coreografias, renovando o show junto com os novos arranjos nas músicas antigas.

Fazer sucesso é difícil, só que mais difícil ainda é fazer sucesso de sua reinvenção. Algo que notoriamente Joelma vem conseguindo nos shows, como assisti esse ano no São João de Campina Grande. Ela parece mais empolgada, dançando mais e com mais criatividade pra novas coreografias. Um orgulho só.

Toda essa sede de renovação é fruto de muito amor ao trabalho. Serve de lição pra muitos por aí que chegaram ao auge e pensam já em parar de cantar, de tocar, sair da banda. Joelma tem uns 15 anos de carreira, é rica, tem empresa e não toca nem no assunto de se aposentar. Pelo contrário, cada show ela se entrega como se fosse o primeiro. É, meu filho, talento, muitos tem; luz, força de vontade, poder de renovação e valor às conquistas... são poucos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Somos todos bregas

O texto a seguir foi escrito pelo jornalista Luis Antonio Giron e foi publicado no site da Revista Época. Quem acompanha nosso Cabaret a mais tempo irá reconhecer nele tudo o que defendemos desde os primórdios, que é o reconhecimento da música realmente popular brasileiro como elemento fundamental de nossa cultura e da identidade musical brasileira. A crítica cultural sempre tratou com desdém e como algo menor gêneros como brega, forró, sertanejo, pagode e etc. Agora a balança está pendendo pro nosso lado. Confesso que nos dois parágrafos finais do texto do Giron cheguei a me arrepiar. Apesar de alguns equívocos devido ao desconhecimento do que rola na musica popular, o que ele escreveu é a sínteses de nossa visão de mundo. Boa leitura!

Somos todos Bregas

Discos sempre foram para mim fontes de descoberta. Talvez o hábito de ouvi-los tenha ficadp fora de moda por causa da internet e da pirataria, mas nada se compara em nitidez sonora a um CD feito com plástico, alumínio e bits sonoros. Pois ontem escutei dois discos de duas cantoras representantes de faixas de público aparentemente diversas que me ajudaram a refletir sobre a atual situação da música popular brasileira: O que você quer saber de verdade (EMI), da cult MPB carioca Marisa Monte, e Ao Vivo(Universal), da mineira e sertaneja Paula Fernandes.

Há dez anos, para não ir muito longe, minha experiência sonora seria considerada abstrusa, pois obviamente duas artistas de registros tão diferentes iriam apenas mostrar a multiplicidade da música brasileira – e reafirmariam minhas convicções em relação àquilo que é refinamento e singeleza. Marisa, representante da alta cultura; Paula, das camadas populares. Mas minha experiência não se deu assim. Antes pelo contrário: o que eu ouvi nos dois discos são cantoras quase idênticas, entoando baladas românticas muito simples, acompanhadas por instrumentos acústicos, repletas de uma versalhada tida antes por piegas, tresmolhados de bons sentimentos e mensagens de amor nada discretas. Ambas seriam chamadas de bregas no Brasil Velho. Nos anos 60 e 70, a música romântica influenciada pelo bolero, a modinha e a toada caipira era considerada um produto barato, para uso do povão. Nos 80, bandas da vanguarda paulistana e cantores como Eduardo Dussek exploraram a verve paródica, meio que esnobando o brega, mas lucrando com o gênero. Depois da apreensão ingênua e da paródica, as pessoas assumiram o gênero com pungente fé. Hoje o brega é a convicção de um povo. Ele se consagrou. Marisa e Paula, duas grandes artistas vocais brasileiras, assumem com serenidade o novo bom gosto. Uma prova de que o brega se converteu em cult –e vice-versa.

O cult está brega. Isso quer dizer que o cidadão brasileiro cool e descolado se vale de todo tipo de referências para compor a sua roupa, seu modo de agir e seu imaginário. Esse novo comportamento reflete a mudança demográfica do país, com a ascensão das classes C e D. Essas camadas se tornaram importantes e terminam por impor seu gosto, seus hábitos e costumes ao restante da sociedade de consumo. A gente vê isso na novela Fina Estampa, da TV Globo, de Aguinaldo Silva. Ela relata a ascensão social da pobretona Griselda (Lília Cabral), que de quebra-galho se torna empresária. A novela não maquia a luta de classes, e mostra o conflito entre a emergente Griselda e a socialite Maria Teresa (Cristiane Torloni). Baseado em pesquisas, o autor faz um retrato realista de como a mulher brasileira se tornou chefe de família, está galgando posições – e, no universo da cultura, obriga a turma do narizinho empinado a prestar atenção no que ela gosta, no que ela sente, pensa e consome. Esse “ovo Brasil” é uma realidade insofismável. É preciso considerá-la e respeitá-la. Os novos-ricos e os novos-classe-média vieram para ficar e se mostrar, para horror das marias-teresas da vida.

Além da novela, o cinema brasileiro tem explorado, de uns cinco aos para cá, o universo da nova classe média: são favelas que enriquecem com o tráfico e o tráfico que domina os “bem-nascidos”(Tropa de Elite 1 e 2, Meu nome não é Johhny), mulheres que lutam para sobreviver sem preconceito (O céu de Suely,Bruna Surfistinha, De pernas para o ar), formas de arte em extinção que insistem em se manter vivas (O palhaço, Suprema Felicidade), personagens que questionam a identidade e os tabus sexuais (Se eu fosse você 1 e 2). É um novo mundo que se descortina, e talvez não se coadune com aquela ilha da fantasia sonhada pelos estetas, que hoje só sabem admirar o cinema classe-média-bonitinha da Argentina. Infelizmente (eu diria felizmente), o Brasil não é a Argentina. O Brasil se mostra muito mais rico e variado em termos demográficos e, por isso, culturais. Se é cultura “inferior” nos padrões europeus, paciência.

Os gostos, os hábitos, os amores e os ventos mudam, já dizia o poeta seiscentista Luís de Camões. Até a novidade sofre tantas e tamanhas metamorfoses em sua estrutura que chega o dia em que as coisas mais antigas, descartáveis e antes desprezíveis viram artigo de luxo. Experimentamos hoje o choque do velho, em contraposição ao que preconizavam as vanguardas artísticas até os anos 1920. No terreno da música cultura de massa, o processo se acelera ainda mais. Não apenas velhos paradigmas voltam à tona – trata-se de uma forma de reciclagem rápida dos produtos culturais – como também os usos e costumes de classes sociais antes antagônicas começam a interagir e a se fundir de forma irreversível, alterando o que se pensa sobre o mundo e como se consome arte, entre outras coisas.

Mas voltemos à música, que sempre foi a antena das tendências por aqui, e, apesar de viver momentos não muito brilhantes, continua a ser uma arena de mudanças. O que tem acontecido na música brasileira é uma quebra de paradigma. Caiu a hegemonia do eixo Rio-São Paulo. A música axé da Bahia tomou conta do país inteiro, e gerou estrelas como Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Carlinhos Brown. O interior invadiu as capitais, e surgiu o forró universitário e, mais recentemente, o sertanejo universitário. O funk se fundiu com o samba e a MPB. E vieram para baixo os sons amazônicos. ÉPOCA publicou recentemente uma reportagem intitulada “E o brega virou cult”, de Mariana Shirai, sobre o gênero tecnobrega paraense e sua influência no movimento Avalanche Tropical, que congrega bandas e DJs bregas do país inteiro. Dessa enxurrada fazem parte a cantora Gaby Amarantos, Garotas Suecas e a Banda Uó.

O que as vertentes do pós-bom gosto ensinam? Em primeiro lugar, que é inútil ter preconceitos musicais, porque ela é invasiva mesmo, capaz que é de se apossar de sua alma. Em segundo, que aquilo que é considerado de mau-gosto na verdade ajuda a enriquecer a imaginação. Em terceiro, que nada é fixo no mundo, e nada mais dinâmico e pervasivo que o som. Quarto, torna-se urgente reavaliar nossas próprias crenças artísticas.

Por isso, finalmente o “populacho” e os “caipiras” invadiram os salões. Na nova geopolítica sonora do Brasil, podemos ouvir os ecos do brega na voz de Marisa Monte, e traços de erudição na de Paula Fernandes. Junte as duas e o resultado será parecido com Vanessa da Mata, uma acoplagem do sertanejo e do alto pop dançante. Junte a duas e você ouve a volta ainda não anunciada de Zezé di Camargo & Luciano. Você vai entender nas entrelinhas o tecnobrega, a axé. Junte-as em uma audição e você comporá o seu rosto. O Brasil joga na nossa cara quem e como somos de fato. Querendo ou não, se fazendo de culto ou nem tanto, você é brega, meu velho.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Chimbinha, o nosso Guitar Hero Brazuca

Texto escrito pelo meu amigo Vladimir Cunha e gentilmente cedido a este nobilíssimo Cabaret

Encostado na parede, já meio baqueado por várias latas de cerveja e algumas caipirinhas, observo tudo de longe, buscando um certo distanciamento enquanto, no estúdio, roadies e técnicos acertam a luz e o som para a gravação do Estúdio Coca-Zero MTV – Calypso e Paralamas do Sucesso. A credencial de imprensa me dá acesso livre. Não que, nesse momento, isso signifique muita coisa, pois fico zanzando de um lado para o outro, meio sem ter o que fazer enquanto espero o show começar. Entrevista só se for na coletiva.

Se tivesse dado tudo certo, você teria lido essa matéria em outubro de 2008. Era para ser um perfil de uma página de Joelma e Chimbinha para a Rolling Stone. O que explica a minha credencial de imprensa pendurada no pescoço e o direito de fazer duas perguntas na coletiva. Mas estranhos são os caminhos do showbusiness brasileiro e a banda, sabe-se lá porque, não conseguiu fazer a foto encomendada pela revista, o que foi adiando a matéria indefinidamente.

Situação bem diferente de quando encontrei Chimbinha pela primeira vez em 1999 nos estúdios do Xodó, uma casa noturna na saída de do Pará. Tinha me demitido do jornal onde trabalhava e andava num miserê desgraçado. Fui salvo pelo Pedro Só, que me pediu uma matéria de oito páginas sobre a cena brega pop paraense para a Showbizz, quando oito páginas em uma revista de circulação nacional era grana pra cacete. Naquela época, apesar de ainda andar de ônibus, Chimbinha era o session man mais requisitado da então emergente cena brega local. À noite ralava nas casas noturnas da periferia de . De dia, gravava até três discos de uma vez só. No currículo, a fama de ser o melhor guitarrista da cidade e de, com menos de 30 anos, ter mais de mil álbuns com a sua assinatura.

Não é exagero. Eu vi. O homem era uma máquina de gravar. No tempo em que passei com ele, matou dois discos em uma manhã. Funcionava assim: Chimbinha se plantava o dia inteiro no estúdio com seus músicos, já conhecidos como Banda Calypso. O sujeito chegava com as letras e as cifras das músicas debaixo do braço. Chimbinha dava uma olhada, passava as notas para os camaradas e começava a gravar.

Primeiro fazia uma levada simples, que geralmente valia logo no primeiro take. Depois incorporava mais três levadas de guitarra: uma meio aparentada do ska, uma com a mão direita abafando as cordas e um dedilhado limpo que lembrava a surf music, segundo o próprio guitarrista resultado das influências de Mark Knopfler e Mestre Vieira, inventor do estilo amazônico-caribenho conhecido como guitarrada.

Bingo. Estava pronto mais um sucesso do brega pop paraense.

Assim Chimbinha e Joelma foram levando a vida. Gravando discos de dia e se apresentando nas casas noturnas à noite. Ainda nos encontramos uma última vez no ultra-calorento camarim da Pororoka, um galpão reformado na periferia de Belém que, na época, junto com o Xodó, era uma espécie de Factory do brega-pop.

Se você tinha uma banda, queria fazer parte de uma cena e se dar bem como astro brega, lá era o lugar para estar. Se caísse no gosto da rapaziada, tava feito. Como é comum em Belém do Pará, naquela noite a casa tinha escalado cinco bandas. Uma atrás da outra, com a Calypso ensanduichada no meio. No camarim de oito metros quadrados, músicos e dançarinas trocando de roupa meio atrapalhados, esbarrando uns nos outros, as paredes de azulejo encardido molhadas de tanto suor e umidade.

Mal consegui trocar duas palavras com a banda e sai fora antes da Calypso tocar a terceira música. Quase dez anos depois, reencontro Chimbinha em outro camarim. Dessa vez mais luxuoso, com ar-condicionado, espelho de corpo inteiro, banheiro privativo, mesa de frios e outras mordomias.

São quase dez anos. Nesse tempo o Xodó foi demolido e em seu lugar construíram um Habib’s. E a cena brega-pop foi passada para trás no processo de seleção natural da música pelo desbunde digital gangsta do tecnobrega. Bem fez Chimbinha, que, junto com Joelma, se mandou para o nordeste logo que o negócio em Belém começou a fazer água para dar início aos seus planos de dominação mundial.

“Pô, tu não é aquele cara da revista Showbizz que me entrevistou lá em Belém?”, pergunta Chimbinha no início da “coletiva”, que na verdade acabou se resumindo a mim e a mais dois repórteres.

“O próprio”

“Me lembro de ti. Mas porra, tu não tinha essas tatuagens todas não”, continua ele rindo.

Aproveito a disposição do rapaz em quebrar o gelo e pergunto logo se a parceria com duas mega-corporações – e logo depois de um acústico para a Som Livre – não complica a vida da Calypso como a maior banda independente do Brasil.

Chimbinha nem se abala. Dá um sorriso de Gato de Alice e desenrola aquela fala mansa de caboclo ribeirinho.

“Olha, cara, Coca Zero, disco pra Som Livre…É legal de fazer? É. Principalmente esse aqui com os Paralamas, uma banda da qual sou fã. Mas são parcerias nossas com essas empresas. Os donos das músicas, da banda Calypso, ainda somos eu e Joelma. Depois que a gente fizer isso aqui, vamos voltar para o nosso esquema de gravação e distribuição, que é totalmente independente”.

“Então nada de gravadora?”

“GRAVADORA? Pra que? Olha só: porque eu iria pagar para uma empresa distribuir e vender as minhas músicas se, hoje em dia, eu mesmo posso fazer isso? Gravadora não serve pra nada. Só para tirar dinheiro da

gente. Não me faz falta de jeito nenhum”.

“E a pirataria?”

“Aí já é diferente. A pirataria é péssima”, responde Chimbinha meio irritado.

“Mas ajuda as bandas da cena tecnobrega de Belém…”

“Ajuda e não ajuda, né?”

“Porque?”

“Porque o compositor acaba sendo prejudicado, porque a banda não ganha com as vendas de CDs e DVDs, porque a pirataria não paga direito autoral…”

“Por outro lado as bandas ganham com shows”

“Nem todas, né? E mesmo as que ganham…como fica o compositor? Eu pago todos os meus compositores. É tudo registrado, legalizado, recolhemos direito autoral…”, continua o guitarrista até ser interrompido por um produtor informando que a gravação já vai começar.

Eu ainda queria perguntar se a Calypso NUNCA havia se beneficiado com a pirataria e se teria chegando tão longe não fosse a milenar arte chinesa da reprodução não-autorizada. Lembro de um amigo ligado à área da música, carioca, que se informa sobre o que está rolando na música popular brasileira através do fornecedor de DVDs e CDs piratas do porteiro do seu prédio. E do meu pai que, morando em Porto Alegre, descobriu em um camelô que existia uma banda paraense de sucesso nacional.

OK, ele mesmo grava e prensa seus discos, licenciando a sua venda para distribuidores locais e regionais. Ou mesmo vendendo-os em seus shows a preços populares. Mas é difícil acreditar que a súbita popularidade da Calypso e a disseminação da sua música pelo Brasil aconteceriam sem o auxílio da economia informal. Chimbinha pode até detestar a pirataria, mas ela lhe adora.

E na proporção inversa à raiva que o guitarrista sente ao ver as verdinhas batendo asas cada vez que alguém compra um disco pirata seu, mais e mais CDs e DVDs da Banda Calypso entopem as bancas dos camelôs. Seja em São Paulo, Luzilândia ou Belém do Pará.

A gravação termina. No palco a química entre a Calypso e os Paralamas funcionou que foi uma beleza. O que a música da banda tinha de simplório foi melhorado por Herbert, Bi e Barone, que se apropriaram das canções da dupla para recriá-las a partir de elementos de reggae, ska e hard rock, deixando Chimbinha solto para tocar guitarra e, em troca, meter o bedelho nas composições do trio.

Ele se aproveita e usa a sua matriz criativa brega-pop para fechar as conexões afro-caribenhas abertas pelos Paralamas ainda nos anos 80, como se Al Anderson se juntasse a Mestre Vieira para queimar um fumo com Fela Kuti em uma jam session na casa de Pinduca.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Gaby Amarantos - Rubi

Para o esquenta do fim de semana que se avizinha, um vídeo raro da apresentação de Gaby Amarantos na primeira edição do Terruá Pará, quando ela ainda comandava sua banda Tecnoshow.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Luana Alves - Quem gosta de brega é ela!

Lembro como se fosse hoje. Estava em viagem a trabalho no Guarujá e enquanto esperava pela conclusão de um tarefa da equipe de campo, fui ao Google pesquisar sobre Júlio Nascimento. Foi assim que conheci o blog Quem gosta de brega sou eu. Adorei! Até o final do dia já tinha lido quase toda as postagens e adicionado a autora, uma tal de Luana Alves. Como o MSN era bloqueado na empresa onde estava prestando serviço, foi com enorme expectativa que na saída fui a uma lan house verificar se tinha sido adicionado por ela. Foi assim que tive meu primeiro contato com umas melhores blogueiras musicais do Brasil.

@Moondalua & @cabaretdotimpin, nos menores frascos, as melhores blogueira (e bregueiras)

De lá pra cá nossa amizado se firmou cada vez mais, através de uma intensa troca de idéias, músicas e piadinhas. Quando fui ao Recife em Fevereiro desse ano, a primeira coisa que fiz foi ligar pra ele e marcar um encontro ao vivo. Nos encontramos no Shopping Boa Vista e ela simplesmente ignorou minha frase dizendo que eu já havia morado no Recife por um período de dois anos e meio e saiu comigo, numa peregrinação turística pelos lugares que eu já estava careca de conhecer.

Ainda bem que a Arpoadeira de Lambaris (ela é baixinho e um dos meus hobbys é inventar novos adjetivos para descrevê-la é simpática, lindinha e boa de papo. Além de ter um conhecimento enciclopédido de brega e me atualizou das novas tendências e novos artistas que estavam despontando na cena. Fiquei completamente desnorteado ao saber que os moleques da periferia haviam inventado uma fusão de brega com funk e o pior! estavam tocando nas festas dos bacanas! Mc Sheldon, Mcs Cego & Metal, Boco da Mustardinha e assemelhados passaram a figurar desde então em meu Ipod com assídua frequência. É o Gangsta Brega, algo que só Recife é capaz de conceber.

Apesar de seu declínio de meus insistentes convites para sair comigo na noite (é, a Marceneira de Palito de Dentes é mais lisa do que bagre ensaboado e detectou minhas intensões chavequísticas) adorei o encontro. Luana é única no que faz. Ela tem um estilo todo pessoal em sua escrita. Ela transparece autenticidade em cada linha de cada post de seu blog. Quando as garras implacáveis do tédio se armam contra mim, é no Quem gosta de brega sou eu que encontro uma defesa inexpurgável.

No final de semana passado ele encontrou e fez uma mini-entrevista com Gaby Amarantos. Confio no instinto da Malaca do Jurunas e creio que ali nasceu uma amizade entre as duas que mesmo que Gaby estoure nacionalmente e vire uma diva de sucesso (o caminho quase inveitável é esse) pra sempre persistirá.

Abaixo o video da tal entrevista e nossa Alta Cafetinagem recomenda sem medo de errar, que os frequentadores de nosso Cabaret favorite o blog da Bandeirista de pista de Hot Wheels.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por um jornalismo mais crítico


O texto a seguir é de André Forastieri, mas tomo a liberdade para fazer minhas, suas palavras. Ele descreve com exatidão o que tentamos fazer aqui nesse blog. Acho que a música popular DE FATO brasileira (forró, sertanejo, tecnobrega, etc) precisam de mais pessoas exercendo uma crítica séria. Eis o texto:


Por um jornalismo mais crítico

O jornalismo cultural que eu tento exercer desde 1988 é o jornalismo crítico. Ele tem uma única premissa: compromisso total com o leitor e nenhum com a criação ou seu criador. Fã é fã, jornalista é jornalista. Fã perdoa tudo. Jornalista não perdoa nada, ou não deveria.

As perguntas que o jornalista cultural têm de responder são só duas: primeiro, o objetivo da obra tem algum mérito? Segundo, o objetivo foi alcançado? Só. O resto é perfumaria. Vale para o impresso, vale mais ainda para a Web.

Até porque na rede, não é preciso descrever a música; qualquer um baixa. Não é preciso listar a filmografia do diretor, ou sua história, etc. Basta lincar para as melhores fontes de informação. E contribuir com o que interessa: uma visão pessoal, única, e implacável. Jornalismo crítico do século XXI: sem fronteiras, sem piedade.

É uma atitude radical. Exemplo: implica arrasar com a mais recente (e ruim) obra de um artista velhinho, respeitado e amado. Não interessa seu currículo. Interessa a obra.

O jornalismo crítico pode ser exercido na grande imprensa ou num blog lido por cinco pessoas. Não requer muito mais que saber escrever, curiosidade, uma cultura geral razoável. Não precisa saber tocar piano para escrever sobre música. É uma maneira de ver as coisas e se posicionar.

Copiar o que a assessoria de imprensa mandou não é jornalismo. Ecoar o consenso que compensa não é jornalismo. Se esconder no que pega bem não é jornalismo. Copy-paste não é jornalismo.

Álvaro Pereira Jr., comentando o livro Pós-Tudo (uma espécie de almanaque sobre a história da "Ilustrada", da Folha de S. Paulo, o mais influente caderno cultural da história da imprensa nacional, que cresci lendo e onde trabalhei entre 88 e 90), cutuca a preponderância do “jornalismo amigo e construtivo, participante de cena que cobre.”

Este mestiço jornalista-fã frequentemente tem papel catalisador em novos movimentos culturais. O problema é que esta postura se tornou a característica dominante do nosso jornalismo cultural. Em outros países não é assim.

O que me fez querer ser jornalista é o jornalismo crítico. Ele estava presente na "Ilustrada" nas entrelinhas do “jornalismo amigo e construtivo” da fase Matinas Suzuki Jr./ Marcos Augusto Gonçalves (que queriam construir a obra junto com o artista, construir a política cultural junto com o governo etc.; “você era crítico e participante ao mesmo tempo”, Matinas, pág. 118 de Pós-Tudo) e sua continuação, que veio dos anos 90 pra frente.

A não-"Ilustrada" era, em uma palavra, crítica. Uma meia dúzia de gatos pingados por década. Às vezes fazia barulho suficiente para estourar os tímpanos de quem estivesse de ouvidos abertos. Na minha adolescência, Paulo Francis e Pepe Escobar.

Mas a imprensa cultural dominante é e sempre foi a dos jornalistas artistas, ou jornalistas que são amigos de artistas ou sonham ser. Alguns poucos são brilhantes e catalisadores.

No mesmo texto, Álvaro cita Erika Palomino, cronista da noite e da moda, uma militante engajada na construção da cena, dos personagens e do negócio. Lúcio Ribeiro é o outro grande exemplo desta abordagem, em música, e muito forte na internet, com seu Popload.

Nossas cenas de moda e música seriam menos interessantes sem estes dois, que considero amigos. São certamente os jornalistas mais influentes da geração 90 da "Ilustrada". É uma pena que em vez de se espelhar no talento admirável de Lúcio e Erika, muita gente ignore a parte “jornalismo” de “jornalismo amigo e construtivo”. Muitos blogs estão cheios de posts pagos, o crítico ganha uma grana extra como curador, a editora faz frila para a assessoria, todo mundo pega o seu com o governo, todo mundo se virando etc.

O Brasil precisa de mais jornalismo crítico, e não só na área cultural. Tem gente boa pintando, principalmente na internet, e tenho esperança que apareça mais.

Torço por uma explosão de seguidores de Kenneth Tynan, que Paulo Francis me apresentou na "Ilustrada". Tynan uma vez esculhambou um filme de Michelangelo Antonioni assim: “Nove décimos do trabalho do crítico é demolir o ruim para abrir caminho para o bom. Antonioni está bloqueando a rua”.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More