quinta-feira, 10 de março de 2011

Timpin na Estrada - Primeira Estação: Salvador, parte 2

Esperei o sol nascer para conferir os bolsos. Fora as moedas perdidas dentro da mochila, tinha uma nota de Vinte Reais. É que o otimista aqui, tinha torrado R$20,00 no aeroporto de Curitiba num livro do Bukowski. Mais R$20,00 nas latas de cerveja da sexta. Mais vintão na cervejada da véspera e o resto em créditos de celular, todos carcomidos pelas falcatruagens da Tim.

Tudo o que eu queria era um copão de café e uma carteira de cigarros. Voltei para a rua do bar, peguei meu Bukoswsky pra ler e fiquei esperando pra ver o primeiros corno que aparecesse carregando uma sacola de pão, sinalizando que existia uma padaria e que estava aberta.


Meu padrinho espiritual Charles Bukoswki, exercitando uma de nossas paixões


Oito da matina apareceu o primeiro, em menos de cinco minutos estava eu tomando degustando um cafézão açucarado da pova e fumando um cigarrinho. Na padaria tinha recarregado os créditos do celular, o que me deixava com R$8,00 no bolso. Assim que o bar abriu pedi uma latinha de refrigerante e finquei raízes na mesinha da frente, sem a mínima previsão do que aconteceria durante o dia.

A primeira coisa que aconteceu foi um tiozinho feio que só a porra, quase tão magro quanto eu e que falava pelos cotovelos. Era músico. Percussionista para ser mais exato, mas alegava não fazer feio em intrumento algum. Seu nomera era Mangueira dp Pituaçu. Me deu aulas vocais de tenor, soprano. Ensinou-me as sutilezas dos arranjos percussivos. Contou-me setenta e tantas histórias. Chorou na última delas, que versava sobre a homenagem que sua familia tinha lhe feito no seu aniversário de cinquenta anos e foi embora com os olhos ainda úmidos e me desejando muita boa sorte, nem imaginando o quanto precisaria dela.

Depois começou a turma domingueira do bairro, pra fazer o aquecimento via cervejas geladas e caldo de mocotó, para depois descerem para a praia. Pediram cervejas. Muitas cervejas. Começei a olhar para minha latinha de refrigerante de uma maneira nem um pouco amistosa. Mesmo assim elegi uma sucessora, trocando apenas de marca.

Começou a chegar mais gente, mais cervejas sendo abertas, mais caldo de mocotó atiçando minhas lombrigas e eu ali, sendo observado de cima abaixo sem que um puto dequer puxasse assunto. A única coisa que me fazia lembrar que eu não era um inseto, era os sorriso simpáticos da mina do bar. E suas coxas. No som, o novo promocional dos Aviões do Forró era repetido à exaustão, puxado pela infame "Minha Mulher não deixa não", só pra me lembrar o que cacete eu tenho que o resto da humanidade. Eu tenho mais é que me foder, mesmo.


Timpin, tu quer beber? Vou não, quero não, posso não, meu bolso vazio não deixa não


Quando o sol chegou a pino e todo mundo já tava bêbado, mandei o Universo inteiro se foder e pedi uma cerveja pra mim. Foi aí que um maluco puxou assunto comigo, pergutou de onde era e coisa e tal, mas o entrosamento não fugiu muito dessas preliminares. Em pouco tempo o pessoal todo desceu pra praia e fiquei lá, de novo sozinho com os donos do estabelecimento e com as coxas desfilando pra lá e pra cá.

Até que o par de coxas veio e falou comigo. Era um recado do dono da casa onde eu não tinha podido passar a noite. Foi aí que meu barraco desabou. Foi aí que o meu barco se perdeu. O cara estava simplesmente me dizendo que o guitarrista da banda proeminanete tinha alegado que não tinha combinado nada com isso. Que o baixista da mesma banda estava vindo pra "ver o que iriam fazer comigo" e qua a assessora da mesmíssima banda não teria tempo pra mim, pois estava enrolada com um show que estava naquela coisa de sai ou não sai.

Pelo menos consegui o telefone fixo da casa do guitarrista, já que o viado não atendia o celular. O puto se desculpou todo, dizendo que morava de favor na casa da irmã e que ela não se sentia nem um pouco à vontade dentro de casa com hóspedes do sexo masculino. Aí eu pensei: fudeu tudo.

E fudeu mesmo, quando o baixista da passagem aérea chegou com o outro morador da casa onde não pude dormir, queriam me fritar numa grelha, me esculhamdno, me chamando de irresponsável, inconsequente, porra-loca, todas essas coisas que já tinha ouvido de minha mãe e das professoras de educação artítistica no primário. Queriam me despachar de volta para Curitiba no mesmo dia.

Diante de minhas negativas em abortar a viagem, me deram umas horas para resolver o problema e sairam de carro, dizendo que iriam tentar arrumar um lugar pra mim. Passaram a chave na casa e sumiram. Claro que não consegui nada. Quer dizer, o meu amigo Roberto Kuelho, do Blog do Kuelho até me atendeu e prometeu me ajudar, mas o problema é que ele é de Feira da Santana, a 100Km de Salvador e meus míseros trocados que tinha no bolso não me levariam nem pra rodoviária.


O compositor e blogueiro Roberto Kuelho, o único baiano que se dispôs a me ajudar efetivamente. Eu cá com as coxas, ele acolá com os peitos. Observem sua cara de safado da porra!


Quando a noite de domingo chegou, os caras que tinham saído voltaram. Nada feito, não tinham conseguido nem uma caixa de areia de gatos disponível. Eu teria que ir embora. Falei que tinha desistido de Salvador e estava disposto a sumir dali. Pedi pra me despacharem pra Recife. Eu já tinha avisado meus contatos de lá que iria aparecer, mas no caso, chegaria de surpresa uma semana antes. Na situação onde me encontrava, isso era um peido pra quem está cagado. Conseguiram um vôo pras cinco da matina de segunda-feira.

Conseguiram mais. Conseguiram uma nota de cinco reais e me largaram num ponto de ônibus onde eu poderia chegar ao aeroporto. Já era noite e eu mal conseguia ler os letreitros dos coletivos que passavam, tamanha era a fome que embaçava meus olhos, consumia meus tecidos musculares e reservas secretas de gordura. Mas como disse, sou durão, consegui chegar chegar na porra de aeroporto as 20:00, para nove horas de uma famérrima espera. Minha espernaça, uma rede wireless que me permitisse chorar as pitangas pra cima de algum infeliz via MSN e acabar com a reputação de todos os pagodeiros baianos no Twitter.

Cheguei no balcão de informações da INFRAERO e perguntei:

- Moço, não tem wireless no aeroporto?

Ele olhou dentro dos meus olhos e disse:

- Tem! - fez uma pausa, sempre me olhando - Mas não é livre - mais uma pausa, um pouco mais demorarda e continuando a me olhar - Tem que comprar um cartão ali na agência - apontou a agencia e quando eu a vi, deu o tiro de misericórida - Mas ela está fechada.

- Muito obrigado, tchau.

No primitivo linguajar timpínico este "muito obrigado, tchau" pode ser traduzido por "terra de corno, aeroporto de corno" ou então "filho de rapariga, enfiasse teu sarcasmo e essa tua inornia no cú!"

Achei uma tomada no terceiro andar, liguei o computador e fiquei vendo uns filmes que a semanas estavam esperando três centímetros cúbicos de minha atenção. De vez enquando dava pause, tomava muita água e saia pra fumar e fugir do torturante cheiro de comida que vinha da praça de alimentação, que insistia em se esparrmar por todos os setores do aeroporto.

Quando as cinco da matina chegaram, as recebi com alegria e entusiasmo. Era o fim de meu segundo dia de viagem e promessa de que tão cedo não colocaria meus pés de novo naquele lugar ou oviria um disco de swingueira no meu Ipod. Era o mínimo de contas que naquela situação, poderia prestar à minha honra, minha dignidade e meu orgulho ferido. Foge, foge Timpin! Foge, foge com o Superman.

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