terça-feira, 29 de março de 2011

Wikileaks do Forró na Revista O Globo

Os homens que copiavam

A lucrativa indústria de sucessos do forró vive à margem de gravadoras, ignora direitos autorais e contrapõe bandas tradicionais a outras acusadas de se apropriar de ‘hits’

por Cecilia Giannette



Atenção, sertanejos modernizados, pagodeiros que batucam em teclados e quejandos do universo muitíssimo popular: se derem mole para o forró, ele vai tostar até o tal do meteoro da paixão. É a bola da vez. Tanto que o gênero musical tem rendido debates acalorados e denúncias de roubos e plágios de trechos e até de músicas inteiras - imbróglios que envolvem empresários e artistas.

As informações dos bastidores começaram a vazar num blog batizado de WikiLeaks do Forró. O site é assinado por Timóteo “Timpin”, jornalista curitibano que ganhou a alcunha de Julian Assange do Agreste pelo que vem descobrindo no mercado dos “copiões do forró”.



O WikiLeaks do arrastapé pegou fogo pela primeira vez quando Timóteo relatou
a pendenga da compra do hit “Minha mulher não deixa não”, chiclete de ouvido
que virou febre Brasil afora no último carnaval e foi registrado pelo músico recifense Reginho. Segundo o blog, Reginho foi abordado primeiramente pela banda cearense Garota Safada, contratada da Luan Promoções, que lhe oferecera
R$ 25 mil pela exclusividade de gravá-la e tocála por aí. Ele deixou sim.

Em seguida, outro grupo cearense, o Aviões do Forró, através da A3 Entretenimentos, propôs pagar ao músico R$ 50 mil por sua participação no clipe da canção, também gravada pela banda. Reginho aceitou, ignorando o trato anterior. Timóteo - que já trabalhou como blogueiro da MTV por seu conhecimento em nichos da música como brega, tecnobrega, forró e afins - afirma que Garota Safada e Aviões registraram suas versões em CD com apenas um dia de diferença. O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) confirma o registro duplo.

“Minha mulher não deixa não” foi catapultada ao sucesso, em parte, graças a um vídeo tosco, não-oficial, que mostra quatro rapazes dançando uma coreografia gaiata na praia. Postado no YouTube em novembro de 2010, marca mais de oito milhões de acessos até agora. Em fevereiro, porém, lá estava a banda Aviões do Forró, máquina do gênero à custa de regravações, animando uma das festas do “Big Brother Brasil”, em horário nobre da televisão. E não deixou faltar no repertório da noite, é claro, o que já tinha se tornado hit.



- O clipe original do Reginho virou sucesso na internet e, a convite dele, acabou sendo regravado com a participação do Aviões. A música caiu no gosto popular por conta dos nossos arranjos, da brincadeira que fizemos - defende-se Xand, cabeça do grupo.

Alheio ao circo que pega fogo à sua volta, Reginho, que até há pouco tempo tocava
em bares na noite pernambucana e tinha “dos Teclados” acoplado ao seu nome artístico, confirma a disputa pela música denunciada no WikiLeaks do Forró: - Rolou briga, sim, e foi feia. Mas a música é minha, isso é o que importa.

Há questões ainda mais graves rondando o hit, além de sua venda dupla para gravação: suspeita de plágio. O Ecad considera bloquear o repasse dos direitos autorais a Reginho porque o refrão da música seria cópia de uma canção do álbum para crianças “Turma do Zé Alegria”, lançado em 2006 em Recife. Essa versão mais antiga está cadastrada, e não são poucas as semelhanças: em vez de “Minha mulher não deixa não”, a letra infantil diz “Minha mãe não deixa não”. A acusação foi feita à instituição em janeiro, e até agora não há definição sobre o caso. - Quem decidirá se é plágio ou não é a Justiça. O papel do Ecad é fazer o bloqueio do repasse dos direitos - explica Mário Sérgio Campos, gerente de distribuição do órgão.

Com o intuito de separar os “copiões do forró” de grupos que têm repertório fincado em composições próprias, o empresário Jósimo Costa, da Forrozão Promoções, lançou no ano passado o movimento Forró das Antigas. Mastruz com Leite (Ceará), Limão com Mel (Pernambuco) e Magníficos (Paraíba) formam a trinca de ouro do projeto, que começa a viajar o país com espetáculos e tem um pequeno documentário homônimo, com cerca
de 30 minutos, também no YouTube, mostrando os bastidores da empreitada. - Agora a gente quer chegar com a força toda no Sudeste - promete Jósimo.

Neto Leite, vocalista da Mastruz, há 21 anos no mercado, critica com rigor a mesmice
da indústria do forró. - Todo mundo tem a mesma voz, a mesma levada. Coloque pra ouvir, sem ver as imagens, as bandas a, b, c, d... Não dá para identificar quem está tocando. Falta identidade. Mas a Mastruz é uma marca. Como a Coca-Cola, como o letreiro de Hollywood... - ressalta, sem falsa modéstia.



Até Solange Almeida, vocalista da Aviões, admite que cansa a massificação de timbres e repertório: - Confesso que muitas vezes se torna mesmice. Mas não é somente no universo do forró. Acontece no pagode, no axé, no sertanejo...

O WikiLeaks do Forró tem revelado práticas, jargões e engrenagens - já conhecidos
em capitais nordestinas, mas novos para o restante do país - que fazem parte, hoje, da construção de um hit. Segundo produtores que trabalham na área, o território forrozeiro vive agora à sombra de pouquíssimos “donos”, termo utilizado pelos próprios artistas para chamar as empresas responsáveis pela formação das bandas.

- O show business no Nordeste é comandado basicamente por duas empresas: a Luan Promoções e a A3 Entretenimentos - explica Raphael Acioli, que trabalha para a Luan, responsável pela carreira do Garota Safada, grupo revelado em 2010 e um dos poucos capazes de ameaçar o reinado pop da Aviões do Forró (da A3), que está na estrada desde 2002.

Felipe Trotta, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador
musical, põe mais lenha na fogueira. Para ele, existe ainda uma terceira empresa brigando pelo território: a Rede Somzoom, de Emanuel Gurgel, “dona” da Mastruz com Leite. - Essas produtoras especializadas em forró eletrônico controlam rádios, programas e um poderoso circuito de shows, micaretas e outros eventos - aponta.

Quando a tag WikiLeaks do Forró pinta no site de Timóteo Timpin (codinome adotado pelo jornalista, que prefere não revelar seu nome por questões de segurança) surte efeito de trombeta do apocalipse. Principalmente quando o autor solta alguma bomba sobre a A3 Entretenimento, que não atendeu aos pedidos de entrevista desta reportagem.

Ele relata, por exemplo, a existência de “olheiros” que têm função bem diferente dos
que atuavam como caça-talentos em casas noturnas do Sudeste até o fim dos anos 80.
Eles não procuram artistas para revelar ao mercado: estão atrás mesmo é de potenciais
hits de iniciantes e desconhecidos para repassar a alguma banda. Com esse propósito, uma rede deles é mantida em cidades estratégicas do Nordeste, como Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia, e Campina Grande, na Paraíba.Quando se deparam com uma música que começa a deslanchar em âmbito local,a informação é passada a uma grande empresa. Uma das bandas de seu elenco, então, aprende a letra e grava sua versão em estúdio.

O passo seguinte do “olheiro” é comprar nos camelôs da cidade em que descobriu a música todos os CDs do artista original e oferecer aos ambulantes, de graça, os discos com a nova versão. A trajetória de sucesso de um grupo hoje depende da distribuição maciça de CDs com seu repertório. - Esse processo acaba com a diversidade e a qualidade - opina Timóteo.

Diretora executiva do Instituto Overmundo (site colaborativo voltado para a cultura brasileira) e coautora - com o advogado Ronaldo Lemos - do livro “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música” (Aeroplano, 2008), Oona Castro aciona o alerta:
- É muito perigoso quando um grupo ou poucos grupos passam a se apropriar de uma cena. Inibem o surgimento de agentes culturais e de novas criações.

O forró permaneceu discreto nas últimas décadas, se comparado a outros gêneros que se modernizaram e abocanharam o mercadão. Nos anos 80, a música sertaneja ganhou nova roupagem e explodiu em todo o país. Na década seguinte, o axé saiu de Salvador para arrastar multidões - coisa que, aliás, faz até hoje. Ao mesmo tempo, numa nova onda, o pagode também virou fenômeno.

Agora, tudo indica, é a vez do forró. “Mas já não foi, não passou, num teve muito disso?”, perguntaria um frequentador ocasional da Feira de São Cristóvão. A resposta, plagiamos do hit do verão: não, não foi não, podia não, o mercado não deixava, não.

Em sua versão atual, o “forró eletrônico” aposta numa mesma receita: versos engraçados, refrão grudento e um riff viciante, levado no teclado ou na guitarra, com muitos metais por cima. O antropólogo Hermano Vianna ainda não analisou as recentes picuinhas desse gueto, mas é todo ouvidos para o forró atual - “sensacional combinação da sanfona com a metaleira tropical”.



Para Felipe Trotta, da UFPE, é uma música jovem, dançante, que busca estabelecer uma nova identidade nordestina, “não mais fundada no sertão, na saudade e no atraso”. - Um aspecto importante é que, ao contrário do chamado pé de serra (estilo tradicional), ele tem grande generosidade com outros gêneros e não hesita em incorporar hits alheios em seus shows, desde que traduzidos sonoramente para a levada forrozeira - analisa.

O advogado Ronaldo Lemos aponta um caminho contra as apropriações e regravações
das músicas. - Elas fazem com que a música se torne cada vez mais executada, tanto em
shows, quanto no YouTube e até nas rádios. E o Ecad é o órgão responsável por fazer
a arrecadação dos direitos autorais por execução pública - diz. - Quanto mais a música for regravada e tocada, mais o compositor tem o direito de receber pelos direitos autorais. A questão passa a ser reivindicar esse pagamento, já que os valores são recolhidos.

Enquanto sua situação com o Ecad não se resolve, Reginho aproveita a expansão nacional do forró e prepara um álbum com 20 faixas, quase todas - garante - de sua autoria. Uma delas, “Azulzinho”, é sobre quem usa Viagra na hora agá. Mas ele aposta mesmo no sucesso de “Total flex”: - Esta fala das gatinhas que gostam de se amar entre si, sabe?

E a WikiLeaks do Forró já rende alguma coisa a seu autor? Recentemente, um olho roxo e outros hematomas. Timóteo procura não “cair na paranoia” e atribuir o ataque, que sofreu à saída de um show, aos desafetos que vem colecionando via internet.

Mas o fato é que levou a coça depois de “pegar pesado” em um texto, relatando ter testemunhado reações violentas de um empresário contra empregados num evento:
- Já chegaram me batendo, e batendo muito. Levaram apenas meu equipamento,
uma câmera digital - conta ele, antes de postar mais bombas em seu blog.

8 comentários:

Tááá demaaaaaiiiiiss esse TimPin.

heheeh

TENHA FORÇA, JOVEM!!!

Já virou estrela o Tim Pim,nem responde mais os comentários,também já tá até na Revista Globo....
Quem diria que esse maluco ia chegar tão longe?!

Que bosta! Esse tal de TimPin só veio para criticar o Aviões, foi?


Tô com Aviões e não abro. ♥

PREPAREM-SE QUE TEM MAIS!!!DIGAMOS QUE MUITA CARTA NA MANGA PRA QUEM GOSTA DE SABER A VERDADE VERDADEIRA A COISA COISADA RSSS
E COMO MECHER NUM VESPEIRO MAS NO FIM VALE A PENA!!!

Ei Aline! sem essa de estrelismo! eu não comento comentários pq os comentários praticamente não existem mais. Repare, ninguém mais cometa porra nenhuma nesse cabaré...

Mas em verdade te digo, sinto falta de vc, sua simida da gota...

Eu não sumi não,eu tenho comentado e lido suas peripécias sertão a dentro,vc. é que nunca mais responde meus comentários mesmo...rs.rs..

Mas as tuas colunas tão cada vez melhores,tenho lido sim,talvez não comente com tanta frequencia mas leio tudinho!

Parabéns ao Blog acompanho ja desde o ano passado sou de Montes CLaros-MG e me surpreendo por o blog ja está na revista globo torço por você Timpin abraços!

esse criador dessa merda e um pela saco fila da puta nao seja ipocrita voce acha que so quem tem capacidade de fazer sucesso e exaltasamba e michel telo? voce nao sabe o poder de arrastar multidoes e super lotar casas de espetaculo que as bandas de forro tem se estao tocando musicas de outros artitas isso so ajuda a divulgar mais ainda para eles q nao tao nem ai e isso e puro preconceito com o nordeste que e rico em cultura e em artistas q o forro envadio o brasil entao seu tinpin nao precisa fazer papel de X9 infelismente o brasil ta cheio de pessoas sem etica feito voce ass; aluisio.

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