Ontem, na cagada, pesquisando informações sobre o 3 Na Palomba, me deparei com um blog sensacional, com links para downloads de Arrocha. Só que não aqueles Arrochas, por assim dizer, litorâneos e misturados com pagode baiano, mas sim Arrochas do sertão nordestino.
Arrocha de seresta. Dezenas e mais dezenas - não sei nem se não são centenas - deles.
Adoro!
No começo da década passada passei anos trabalhando e morando em hotéis no interior de Pernambuco. Em 2001 por exemplo, no 11 de setembro eu estava dentro de uma subestação de energia em Cabrobó, sem rádio, sem televisão e com o celular tocando sem parar com notícias do mundo exterior.
Eu era um autêntico rato de seresta. Não perdia uma. Chegava a viajar de uma cidade a outra quando valia a pena. Preferia as de cidades pequenas ou vilarejos. Carnaubera da Penha, Terra Nova, Moreilândia (a melhor!), Serrita, Mirandiba...
O pessoal do sul mui provavelmente nem saiba o que é uma seresta. Para uma seresta acontecer basta um cantor brega (agora chamam de arrocha romântico), um teclado, mesinhas e cadeiras metálicas, um espaço pra dançar e pronto. O lugar pode ser qualquer um, nem precisa ser num bar.
Assisti um show antológico de Amado Junior, cujo palco era a carroçeria de uma pinkup Rural. Em Ouricuri se minha memória não falha.
Uma das melhores épocas de minha vida. Uma das piores épocas para meu fígado. Umas das melhores épocas para a Ambev.
Certa feita estava pela bola 8 de arrastas para o motelzinho Sei Não uma mina que era a cara da Thais Araujo, quando me deu vontade de mijar. Chegando no banheiro tinha um fila de quatro barbados à espera, mas minha agonia de voltar pra mesa pra não perder o timing do chaveco era tanta que resolvi pular o muro e tirar a água do joelho ali mesmo.
Aconteçe que no outro lado do muro tinha um desnível do terreno, que eu não tinha enchergado devido a escuridão da noite somada a bebedeira. Despenquei em queda-livre por três segundos sem sequer atinar para o que diabos estava acontecendo. Para minha sorte em um primeiro momento, caí sobre um enorme arbusto. Para meu azar em segundo momento, 110% dos arbustos do semi-árido brasileiro são espinhentos.
Mas o foda mesmo nem foi isso, o foda foi, bêbado, achar o maldito caminho de volta pra seresta, no escuro, cheio de cachorros latindo nervosamente e no cagaço de que algum me confundisse com um ladrão de galinhas ou de cabras. Só consegui voltar pra mesa quarenta minutos e só o que encontrei foi uma mesa vazia com um garçon ao lado com uma conta na mão. Nunca mais encontrei a Thais Araujo e ainda tive que inventar uma histórinha bem nonsense no hotel para justificar as roupas rasgadas. Porque se contasse a história real as camareiras não acreditariam. Seria nonsense demais.
O show nessa noite foi do Dorge. O Dorge era um cara bacana pacas, vivia passeando pela cidade, no caso Salgueira, terra da Limão com mel, escutando o próprio CD. No encarte do CD tinha uma foto enorme da mãe dele. Na cidade rolava uma cena bacana, com diversos cantores fazendo shows quase toda a semana.
Lembro do Jayroka, Sabonete, Claudiméria Gordin, mas Dorge era o grande astro. Sua "Mulher Bandida" era hit absoluto. Quando tocava essa música nos shows eu tinha que segurar a garrafa de cerveja e os copos com a mão, pois o povo batia com as mãos nas meses e não ficava nada de de pé. Era um fenômeno de histeria coletiva.
Em diversas regiões do sertão nordestino acontecem cenas semelhantes e com o barateamento dos custos de gravação, vários profissionais chegam ao seu Volume 1. O blog que achei ontem é sobre essa gente. O www.mundodoarrocha.blogspot.com
Me diverti muito vendo as fotos dos figuraças nas capas dos discos, os nomes e codinomes e os frequentes erros de grafia. Não se trata aqui de rir no sentido de escárnio uma cultura menor. Nada disso. Essa cultura que se desenvolveu à margem dos grandes holofotes é riquíssima e resistente. É que lá tudo é divertido e descontraído. Os caras conseguem destilar alegria, do que no sul só se consegue destilar tragédia, que são os casos de infidelidade.
Mas aí já entrar no terreno da antropologia e deixemos isso para os intelectuais franceses efeminados.
O correto é descer o dedo no clique de download now do 4shared e recolher material para afogar na cachaça a mágoa de que prpvavelmente nunca mais terei a oportunidade de chavecar com chances de êxito uma mina que é a cara da Thais Araújo.
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