quarta-feira, 29 de abril de 2009

Stefhany: muito além dos virais e dos gaviões

Gugu Liberato, Preta Gil e Cláudia Leitte formam a Demoníaca Trindade do oportunismo e da desonestidade com seu público. A mais nova vítima dessa quadrilha de gaviões reside em Inhume, interior do Piauí, e se chama Stefhany. Com apenas 17 anos e dona de uma voz poderosíssima, é sucesso no interior do Estado e reúne mais pessoas do que a população de sua cidade em seus shows.

No último Domingo Legal, do SBT, ela estava lá, pela terceira vez consecutiva. Cláudia Leitte e Preta Gil têm cantado o hit "Eu sou Stefhany" em seus shows. O motivo? Mamarem nas tetas do sucesso que o clipe fez na internet. Um dos mais bem sucedidos virais de 2009, o clip aconteceu na web pelo mais puro acaso. Um anônimo qualquer postou o vídeo no Youtube e, devido aos méritos inusitados do clipe, alastrou-se rapidamente e já chega a mais de trezentos mil acessos.

Por méritos inusitados entenda-se uma produção altamente tosca e uma citação, tanto na letra (versão em português de "A Thousand Miles", de Vanessa Carlton) quanto no clipe do Volkswagen Cross Fox.



Nas poucas citações feitas pela imprensa on-line, Stefhany costuma ser enquadrada na categoria das celebridades instantâneas que conquistam fama passageira por causa das facilidades de produção e divulgação de conteúdo proporcionadas pelas câmeras digitais e os programas caseiros de edição.

Só que Stefhany não é um viral, Stefhany é muito mais. Ao contrário da dupla Valmir e Josy ou do rapper brasiliense Hungria Hip Hop, que fizeram seus clipes visando o sucesso nesse novo nicho de celebridades de clipes caseiros, Stefhany já tinha sua história e seu viral foi um daqueles azares que se transmutam em sorte.

Na primeira vez que se assiste a um vídeo dela é fácil tomar um susto com a discrepância entre o que se vê e o que se ouve. Seu corpo e jeito de menina e sua voz de mulher, como diria Reginaldo Rossi, surpreendem. Não é possível, alguém deve estar dublando. Mas não, além de ter mesmo aquela voz, a menina ainda compõe as músicas que canta.

Stefhany começou a cantar aos oito anos de idade, fazendo backing vocal para sua mãe Nety, que era cantora. Depois fez parte da "banda" Tonivan dos Teclados, que ao saberem dos planos da menina de seguir carreira solo, a dispensaram sem dó nem piedade. Ao notar a repercussão que a demissão teve, Nety decidiu empresariar a carreira da filha e começaram juntas a compor o repertório do futuro disco de estréia. Com o disco produzido de forma independente, partiram para a divulgação.

Como disse o presidente americano Barack Obama, "o mundo mudou", então ao invés de darem com os burros n'água batendo nas portas das rádios, as duas largaram o disco nas mãos dos pirateiros, pois como a própria Stefhany diz, "cantor não ganha dinheiro com CD e DVD. Até gente rica prefere um pirata. Pra mim o importante é que as pessoas conheçam minhas músicas e que eu consiga fazer show por todo o Brasil." Em três meses, o disco vendeu mais de treze mil cópias.

Mesmo com todo o sucesso que a cantora está fazendo pelo interior do Piauí, a estrutura dos shows, que já conta com 14 pessoas, continua familiar e inclui sua mãe (que é empresária, assessora, compositora e backing vocal), irmã (dançarina) e tio (montador de palco). O som segue a linha do forró romântico e integra o cânone inaugurado pela Banda Calypso. Sei que posso colocar minha cabeça a prêmio junto à nação fanática por Calypso, mas arrisco a dizer que o vocal da Stefhany é tecnicamente superior ao de Joelma.

Com dois CDs e um DVD lançados, a cantora tem um público em seus shows composto em sua maioria por crianças, logo, munida de sua juventude, beleza e talento, ela sobreviverá a Preta Gil, Cláudia Leite e Gugu Liberato, pois sua vaga no coração da próxima geração de jovens do sertão nordestino está garantida. Stefhany pode ficar tranquila e não precisa se preocupar com as pessoas que riem de seus clipes, pois quem ri por último, ri melhor. Stefhany está muito além dos virais e dos gaviões.


originalmente publicado no site Bis

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