O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro

O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.

Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira

Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.

Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3

O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.

Por um Help à Música Sertaneja

Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.

Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos

Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

As apostas para o carnaval baiano de 2011

O Parangolé lançou ontem o clipe da música que deverá subsituir a Rebolation. Me perguntaram se eu não iria postar o clipe no meu blog. Respondi que não. Pra quê? O trabalho de marketing massivo que a mega empresa por trás da banda fará, vai fazer que até aquele juíz de direito do tribunal do Chuí vai conhecer a música involuntariamente. Quiçá vai cantarolá-la, envergonhado, baixinho no chuveiro. Não se trata de marra de minha parte. Até que gosto de Parangolé. Mas é que quando interesses comerciais movem algo, esse algo deixa um pouco de ser divertido.

No Carnaval baiano é assim. São três tipos de bandas que tentam ser o sucesso do verão. Primeiro é o caso supracitado, uma música que todo mundo sabe que vai fazer sucesso porque já viu esse roteiro antes. No segundo tipo uma série de bandas testam suas apostas apartir de agosto, nos ensaios públicos e vão azeitando os arranjso - em alguns casos até trocam de música - e no final de novembro lançam como música de trabalho.

Apostas para esse ano já foram feitas. Edcity vem com sua "Fofinha" piscadinha. Psirico com de deuplo sentido "Chupeta". A Bronkka com seu "Hit do Posto" e por aí vai.

Por último, vem aquelas bandas menores, correndo por fora e com uma música inusitada, na qual ninguém apostaria um centavo sequer em agosto, acaba sendo consagrada pelo gosto popular. Foi assim com a "Lobo Mau" do O'Black e esse ano, se nada de estraordinário acontecer daqui para o final do ano, a bola da vez é "Liga da justiça" do Levanóiz.

Como não sou otário e tenho uma reputação a zelar: porra nenhuma de Tchubirabion! A onda aqui no Cabaré é "foge, foge Mulher Maravilha, foge, foge com Supermen!"

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Wagner Pekois, o novo grupo Tradição e o Troféu Timpin de Topeira do Ano

Já fazia meses que estava tentando conversar longamente com Wagner Pekois, guitarrista do Tradição, sobre os desafios que a banda enfrenta depois que Michel Teló saiu fora, deflagrando uma série de baixas que levou a deixá-lo como único membro da formação original. No último dia 26 eles estariam em Curitiba para se apresentarem no Vitória Villa. Era a oportunidade de ouro. Liguei pro cara, combinamos a entrevista, dei meu telefone e pedi pra que ele me ligasse no dia, dizer onde estava e acertarmos os detalhes.

Quando dei a notícia pros meus filhos eles ficaram mais feliz que filhote de ganso em taipa de açude. Nos últimos dias o Arhur - oito anos e skatista iniciante - já fazia contagem regressiva, falta três dias, falta dois, é amanhã pai! Alice - quatro anos e mala sem alça sênior - consumiu as últimas reservas de paciência da familha cantando a música "Te dou o céu" pra repassar a letra e não fazer feio no dueto que pretendia fazer com o novo vocalista Guilherme Bertoldo.

Até a Mylena, que tem 12 anos e como chegou a pouco tempo do nordeste ainda não teve tempo de ser contaminada pela febre de fanatismo que a galera tem lá em casa pelo Tradição, se empolgou para ir junto.

Chega o bem-dito dia e tô eu lá no Orkut, na hora de meio-dia, o Pekois me encontra on line e em vez de me ligar, o viado resolve combinar tudo por ali mesmo. Sabe como é, o cara quando quer dar uma de bem bom e posar de bem relacionado pros colegas de trabalho, acaba comprando corda para o próprio enforcamento. Falei pra todo mundo:

- Ó vou me encontrar com os caras do Tradição nesse tal de Hotel Bristol hoje de noite!
- Porra, esse hotel aí chique pra cacete, deve ser até seis estrelas, fica ali no lado da Rua 24 Horas.
- Então fechou a polenta, vou filar uma meia dúzia de chopes e um jantar filé num restaurante do meu nível às custas do Tradição.

Daí só fiquei falando merda com o Pekois até que o dono do PC chegasse e me chutasse da cadeira. Liguei pra casa, dei a notícia pro povo e combinamos de nos encontrar as 18:45 no terminal tubo da Estação Central, no alto do Calçadão da XV.Quando o biarticulado encostou e galera desceu, vi que até a Dafne, filha da vizinha, integrou o combo.

- Caralho! Os caras vão pensar que eu trampo numa creche comunitária.

Aí pensei - ah, não dá nada, os caras são gente boa - e começemos a descer o calçadão em direção à 24 Horas. Não tinha anotado o número, mas lembrava que o hotel ficava na rua XV de novembro número mil e lá vai cacetada, então era só ir em frente até encontrar a placa Hotel Bristol. Atravessamos todo o calçadão, atravessamos a Praça Osório, passamos pela rua que ia dar na 24 Horas, andamos mais quatro quadras e nada do lazarento do Hotel. O pessoal já estava começando a ficar impaciente, principalmente minha esposa, sempre respectiva aos mínimos motivos para me encher o saco.

- Pede informação ué, pergunta praquele taxista ali.

O taxista não sabia me informar com precisão onde ficava o hotel. Perguntou se eu não sabia a rua e o número. Disse que só sabia a rua. XV de novembro.

- Ah meu filho, então você está procurando no lugar errado, a rua XV de novembro fica lá pra trás.
- Mas essa aqui não é a XV de novembro?
- Não, essa daqui é a Comendador Araújo.
- Quer dizer que a rua muda de nome depois que passa pela praça
- Sim!
- Mas, mas...tenho certeza que a rua era XV de novembro, numero e alguma coisa...
- Então esse hotel fica no Alto da XV, bem longe - e ficou me olhando como quem diz, opa! ganhei uma corrida, sem imaginar que eu estava liso.

Minha mulher ouviu a conversa toda e ficou me olhando como se eu fosse um inseto. Liguei pro Pekois, fora de área. Liguei pro novo baixista Lelê, desligado. Mas péraí, o cara da firma que tinha me dado a dica da localização era o Saul o mestre da logística que é capaz de achar o Hotel Pindaíba em Bodocó só pelo cheiro, liguei pra ele. Me falou que na verdade o hotel ficava na Visconde de Nacar. Nervoso, peguei todo mundo pelo braço e voltamos as quatro quadras e no local indicado, não achei nenhum Bristol, somente um De Ville. Liguei de novo pro Saul e ele me respondeu que então tinha se confundido com os nomes. E desligou. E eu descobri na prática a diferença entre as palavras logística e etimologia. Era bom com orientação e ruim como nomes, sacou mané?

Estagiários de psicologia sabem que quando o desepero se instaura em uma criatura, o primeiro traste inútil que ela se livra pra não afundar é a racionalidade. Fui perguntando pra cada um que encontrava na rua onde ficava o hotel, recolhendo informações confusas e contraditórias e andando, andando muito. Quando passamos pela terceira vez pela mesma esquina o otimista Arthur falou, entre divertido e apreensivo.

- Papai, parece que estamos perdidos numa floresta, andando em círculos.

E minha ficha e minha casa caíram. A noite estava fadada a passada no sofá. O que restou para tentar me redimir com os moleques foi levá-los para praticar contravenção autorizada, brincarem de patinação no sitio arqueológico da Praça Tiradentes. Lá tem umas ruinas em exposição protegidas por uma chapa de vidro. As acrianças adoram brincar em cima daquilo e de dia sempre tem um guardinha que proibe. De noite não.

Claro, ainda fiquei tentando ligar no celular do Pekois e toda hora conferindo se ELE por ventura não me ligaria notando meu atraso. O puto não ligou. Eu só não me injuriei e dei um Control Del em toda a discografia do Tradição quando cheguei em casa, porque assistimos a apresentação natalina das crianças cantantes e dançantes do Palácio Avenida. Foi emocionante e ora xongas, vamos admitir, a noite até que terminou legal.

Bonde do Maluco no Raul Gil

Vivo dizendo. E repetindo. O Bonde do Maluco é uma das melhores bandas deste país. Todo mundo acha que não precisa de qualidade técnica pra tocar arrocha. Que basta um tecladinho, um cantor que cumpra o feijão com arroz pra que a coisa aconteça. Pois com o Bonde não é assim que a coisa funciona. Os caras tocam bem pra cacete, qualidade instrumental de primeira. E são divertidos, ora xongas!

A pena é que o sul virtualmente desconhece eles. Semana passada tocaram no Raul Gil. Talvez comece a chegar a hora deles. Num país órfão dos Mamonas Assassinas, Bonde do Maluco é a banda ideal pra preencher esta lacuna. Com vocês, a Dança da Galinha:



Aproveitem e baixem o Volume 5 deles, uma dos melhores discos nacionais do ano. E também participem da comunidade Acervo Arrocha, tem tudo lá.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Gang do Eletro - se pudesse, se quisesse e se o dinheiro desse, era um CD triplo por ano

Ser fã da Gang do Eletro é um privilégio. Não dá tempo de enjoar das músicas. Os caras lançam uma música nova por semana. Caso quisesse, Waldo Squash poderia lançar um CD triplo por ano. E não são musicas banais ou Control C Control V. É tudo single singular, artigo de luxo da melhor qualidade.


Waldo Squash e Maderito fazendo pose


Essa semana eles lançaram mais uma, a divertida, dançante e sutilmente sacana Freaktona. Essa grafia do título eu inventei por conta própria, a revelia de Waldo.



Gostou? Então baixe o CD demo de pré estréia da Gang do Eletro que eles lançaram na Internet semana passada. Download free no ling.

Gang do Eletro - Volume Beta - Cd de pré-estréia.

Lá vem o Eletro!!!!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nádila e Dj Juninho Portugal deixam a Djavú e a banda está prestes a se duplicar, num interessante caso de divisão celular


O Sonho acabou - a Djavú se Fú


Entre os Hinduistas exitem duas expressões corriqueiras, carma bom e carma ruim. Grosso modo a coisa funciona da seguinte maneira. Quando você pratica uma boa ação um ciclo cármico é acionado e causa feedback em que boas coisas acontecem na vida de quem praticou, é o chamado carmam bom. Com o carma ruim ocorre o posto, você pratica maus atos e invariavelmente algo ruim vai lhe acontecer. A banda baiana Djavú está provando o gosto amargo do carma ruim.

Durante o ano passado, os paraenses da Ravelly gastaram todas as suas energias tentando provar para Deus e para o mundo que eram os verdadeiros autores dos sucessos que fizeram a fama da Djavú. A saber, as músicas Rubi (Nave do som), Meteoro e Maciota Light. O processo jurídico desta questão de plágio até hoje não chegou a termo, mas o carma ruim parece que fez o serviço. No programa Domingo Legal deste último final de semana a Djavú, sob o comando do cantor Geaderson Rios apresentou-se com uma nova formação.

E Geanderson não estava nem um pouco feliz com isso.

O motivo foi que a cantora Natália Nadila e o DJ Juninho Portugal abandonaram o barco em plena turnê, fazendo escondidos o check-out do hotel onde estavam hospedados e junto com o ex-empresário Paulo Palco cortaram o contato com Geanderson. O plano? Montarem uma banda clone da Djavú. Mais uma. São públicas e notórias as diversas bandas clones da Djavú, com sutis mudanças na grafia do nome, como DJ Javú, Dejavú ou então a mais famosa, a De Javú do Brasil, criada pelo famoso imitador DJ Maluco, que fez fortuna com a banda cover Bonde do Forró.


Se Geanderson observasse fotos como essa, teria reparado que a Nádila já andava com cara de quem comeu e não gostou


No programa do SBT Geanderson não poupou palavras ao se referir aos seus ex-colegas. Segundo ele, Nádila desde o começo do projeto - um eufemismo para plágio da Ravelly - sempre se achou a maioral, a estrela máxima da banda e que por motivos puramente financeiros, acabou por aliciar seu amigo de longa data Juninho Portugal. É certo que existe o dedo de Paulo Palcos por trás desta história.

Natural de Capim Grosso, Bahia, Paulo Palcos coleciona diversas desavenças com empresários e artistas do interior da Bahia. Truculento e fanfarrão, ele também já divertiu muitos jornalistas com suas bravatas, como numa entrevista ao site Bahia Notícias em que afirmava que a Djavú tocaria na abertura da Copa do Mundo da África do Sul (!). A esta altura do campeonato o controverso empresário deve estar procurando letras no alfabeto que ainda não tenham sido usadas pelas outras bandas clones para montar uma que possa chamar de sua.

Já Geanderson não perdeu tempo, escalou uma nova cantora, a belenense Priscila Russo, que já trabalhou na Cia. do Calypso e vestiu um obsucuro Dj com a fantasia de marinheiro que provavelmente Juninho Portugal deve ter esquecido no hotel, na pressa da fuga.

A nova banda Djavú - a de Geaderson - vai dar certo? É complicado, pois era Nádila que cantava os principais sucessos, restando ao cantor a infame Soca Soca. Era Nádila a cultuada pela imensa maioria dos fãs. Eles estavam com um DVD pronto pra ser lançado, gravado em Caraguatatuba com público de 40 mil pessoas. E mais, o nome Dj Juninho Portugal está cimentado na mente dos fãs como complemento ao nome da banda. Vai ser fácil Paulo Palcos vender seu gato como lebre. Some-se a isso o fato de que depois do imenso sucesso conquistado pelas músicas plagiadas da Ravelly, a Djavú nunca mais emplacou um hit de peso. O futuro da banda não é muito promissor.

No que depender do dinheiro que eles ganharam no ano passado, a tentiva de se manter no mercado está garantida. Mas no que depender da Roda Cármica, é bom Geanderson reavaliar a possiblidade de voltar a morar em Capim Grosso na espera de uma nova banda para plagiar.

Ps.: Essa história carrega uma tonelada de ironia do destino. Para entender a fundo o motivo disso, basta ler uma série de reportagens que fiz ano passado para o site BiS MTV. Eis a série:

Watergate do Tecnobrega - parte 1

Watergate do Tecnobrega - parte 2

Watergate do Tecnobrega - parte 3

Também dei uma entrevista ao Bahia Noticias com mais detalhes.

Aliás, Paulo Palcos na época se manifestou sobre o que declarei na entrevista

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A nova Cultura de Massas brasileira e o sucateamento da Escola...de Frankfurt

Em meio a todo o barulho causado pelas críticas à educação púplica no Brasil e o consequente sucateamento de suas escolas, quase ninguém se atentou ao fato de que o povo brasileiro "deseducado", "ignorante" e "malandro", sem nunca ter sido consultado sobre o que pensava sobre a crise da indústria fonográfica ou a questão dos direitos autorais diante das novas tecnologias, não se fez de rogado, fez um admirável uso dessas mesmas tecnologias e mesmo sem saber o que estava fazendo - e talvez, graças a isso - implodiu a Escola de Frankfurt e toda a ideologia que ela exportou para a teoria da comunicação do século XX.

Não. Você não precisa ser formado em comunicação pela USP para seguir lendo esse post. A maioria das teorias, se despidas de sua linguagem empolada, podem ser facilmente explicadas em meia dúzia de linhas. E é isso que este Cabaré vai fazer.


Walter Benjamin, um dos mais encardidos tiozinhos da Escola de Frankfurt em seu ambiente de trabalho


A Escola de Frankfurt era basicamente um grupo de pensadores alemães que viviam nesta cidade e que não viam com bons olhos as novas mídias que emergiam na época - o rádio, a televisão e principalmente as reproduções em disco. Segundo eles, a reprodução em escala industrial das obras de arte destruiria a aura mágica do "original" e do "único" e, num último grau, mataria a diversidade e acabaria por criar uma cultura global homogênia e facilmente controlável pelas forças opressoras das classes dominantes.

Era a emergente Cultura de Massas, baseada no que se chamava de Broadcasting, onde poucos veículos emissores difundiriam a informação que seria consumida por uma ampla massa de receptadores passivos.

Papo de comunista mal amado, eis a verdade. O triste é que esse pensamento contaminou o meio intelectual por mais de meio século - e ainda continua contaminando! - apesar dos surtos de pós-modernismo dos anos 60. Aliás, pós-modernismo é um termo que até hoje ninguém soube explicar satisfatoriamente. Talvez a melhor explicação seja: a tentativa de sintetizar uma cultura que por sua própria natrureza, não pode ser sintetizada. Ou seja, uma desonesta manobra por parte de filósofos e pensadoreas para manterem seus empregos.

Por sorte, nosso populacho, livre de patrulhamentos ideológicos e culturais - posto que o que ele produz não é considerado cultura - conseguiu subverter o termo Cultura de Massas. Tudo porque ele soube, mais do que qualquer outro povo de qualquer outro país do mundo, fazer bom uso das novas mídias digitais.

Enquanto as classes dominantes ficaram enxugando gelo e chorando as pitangas diante da impossibilidade de se criar um mercado viável para a música diante da queda do controle sobre os direitos autorais, o povo não sabia dessa impossibilidade e por isso, conseguiu criar seu mercado.

O inicio da revolução proletária se deu nos camelódromos, no começo dos anos 90. Era a época das fitas cassete, mas somente os durangos consumiam aquelas infames fitinhas, pois a qualidade do som não chegava aos pés dos originais. Com o advento dos CDs o cenário começou a mudar, já não eram só os durangos que frequentavam os camelódromos, mas também os primeiros consumidores pragmáticos que levavam em conta a relação custo/benefício na hora de comprar discos.

Não se sabe se o mercado por si só teria dado conta do recado, o que se sabe é que duas mentes visionárias foram fundamentais para que a revolução tomasse o rumo que tomou - Chimbinha da banda Calypso e Antonio Isaias, empresário dos Aviões do Forró.

Chimbinha não tinha empresário nem gravadora, mas tinha a cara e a coragem. A cara para dar aos tapas batendo de porta em porta das rádios para implorar que tocassem suas músicas e a coragem para reinvestir tudo o que ganhava, em CDs do disco de estréia da sua banda que eram vendidos a preços praticamente de custo para os logistas das cidades em que se apresentava. Foi o primeiro a fazer uso inteligente do barateamento das gravações. Depois de dois anos praticamente passando fome em cidades nem sempre maravilhosas, a estratégia deu certo e hoje ele tem mansão em Alphaville e jatinho particular. Além de fazer de sua banda um paradigma de ruptura dentro da musica brasileira, mas isso já é outra história.

Antonio Isaias foi mais radical. E mais esperto. Ao invés de vender seus discos a preços de custo e esperar pela sorte de alguém comprar em uma loja, resolveu dar os discos de graça para quem fosse aos shows dos Aviões. Eram os Promocionais Invendáveis. A vitória do ovo de um colombo histórico diante do ovo dourado de uma galinha folclórica. E a esperteza residia no fato de que, uma vez que os CDs não eram comercializados, estavam livres para gravar qualquer música, sem o empecilho de ter que pagar direitos autorais. Em menos de dois anos os Aviões passaram a ser a maior banda de forró do mundo e a empresa de Isaias, a mais poderosa do mercado. E a mais polêmica e criticada, mas isso também já é outra história.


Isaias Duarte - ou Isaias CD - o homem forte da A3 Entretenimentos


Paralelamente a estas empreitadas invodoras, popularizava-se no Brasil a banda larga e as redes sociais, que o povo recebeu entusiasticamente, principalmente o Orkut e o MSN. Popularizaram-se os downloads. Os camelôs logo se reiventaram e passaram a trabalhar mais em cima dos DVDs, o que ajudou ainda mais na divulgação dos artistas, pois junto ao som foi adionada a imagem, para beneficio de todo mundo. Nunca tinha se consumido tanta música nesse país.

As classes dominantes continuavam enxugando gelo e a música "séria e de qualidade" produzida e consumida por essas classes permanecia numa espécie de stand by, no aguardo da resolução dos problemas de direitos autorais. O povo, ignorando esses problemas e diante de uma enorme oferta, acabou por obrigar a demanda a se qualificar, ou seja, os artistas se viram forçados a se diferenciarem da grande concorrência, fazendo de nossa música popular a torna-se a mais rica e diversificada do planeta.

O paradigma da Cultura de Massas, aquele onde poucos veículos emitiam uma informação que seria consumida por uma população passiva estava mudando. A informação passou a ser distribuída em rede. O termo hit passou a dar lugar ao viral. Era o começo do fim do Broadcasting.

Só que outra bronca dos malas de Frankfurt continuava de pé: a reprodutibilidade técnica e o fim da aura mágica" do "único" e "original". E não é que o povo brasileiro, com seu famoso jeitinho, conseguiu dar cabo disso?

A coisa toda começou lá no Ceará, no mesmo começo dos anos 90 em que as fitas cassete começaram a proliferar. Foi um cara chamado Chiquinho, da Discofran de Viçosa no Ceará, que começou a gravar os shows a partir da mesa de som onde trabalhava nos eventos. A principio era para ele mesmo escutar em casa e no carro, mas com o tempo, mais pessoas passaram a se interessar pelas gravações e ele passou a vender as fitas - inclusive alguns shows ele lençava em vinil! Inaugurou-se um mercado que foi crescendo aos poucos.

Na verdade era uma bomba relógio esperando o estopim digital para explodir.E a explosão aconteceu.

Foi tudo tão rápido e tão recente que talvez esse seja um dos primeiros artigos da imprensa a abordarem o tema. É dificil rastrear quem foram os pioneiros, isso demandaria uma pesquisa longa que estrapola os limites deste post, mas a coisa começou lá pela metade dos anos 00, quando as máquinas de múltiplos gravadores dos pirateiros passaram a serem usadas para reproduzir em CD as gravações dos shows assim que eles ocorriam. Esses discos eram disponibilizados para venda na saída, como souvenir.

Uma idéia genial, afinal de contas, quem não gosta de escutar no conforto de seu lar aquele show bacana que tanto o divertiu ou emocionou? Surgiam assim os chamados Fulanos CDs, gravadores que passaram a ser tratados como estrelas, disputando entre si quem tinha a fama de melhor qualidade na gravação. China CDs, Gustavo CDs, Clebemilton CDs, surgiram centenas deles. Daí para as gravações cairem nas redes sociais foi um pulo, mais inevitável que uma derrota em Copa do Mundo tendo um Dunga no comando e um Grafitte entre a lista de convocados.

São centenas de comunidades para downloads de shows no Orkut. Além da qualidade de gravação, a velocidade na postagem dos links para download passou a ser fator de concorrência entre os Fulanos CDs, criando entre o público uma nova forma de consumir música. Agora o pessoal não se contenta mais em escutar o último promocional de sua banda preferida, agora a galera quer escutar o show mais recente. E consegue.

Se a banda Garota Safada tocar hoje de madrugada em Patos da Paraíba, o fã que mora Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, pode escutar a gravação - com boa qualidade - antes que o dia amanheça.

Por essa, certamente os sizudos pensadores de Frankfurt não esperavam. Se eles queriam a unicidade de cada apresentação ou apreciação de uma obra de arte, aí está! Com a vantagem de que estas apresentações únicas estão aí para todos, de graça. É a classe operária indo ao paraíso.

É certo que essa cultura libertária ainda não foi disseminada homogeniamente por todo o país. O Sul/Sudeste - olhe que curioso dizer isso! - ainda está muito atrasado com relação ao Norte/Nordeste. Pra se ter uma idéia, o pessoal do Norte, mais especificamente a cena tecnomelody de Belém, a muito abandonou o conceito ultrapassado de disco e trabalha majoritariamente em cima de singles, coisa que as bandas mais descoladas do primeiro mundo estão apenas engatinhando na prática. Enquanto isso, os artistas de sertanejo ou pagode do Sul/Sudeste ainda estão na fase de distribuir CDs de graça nos shows.

Mas é uma questão de tempo. A crônica da morte anunciada da indústria fonográfica é implacável. Os pagodeiros e sertanejeiros - e toda a produção musical do Rio Grande do Sul, infelizmente - ainda estão muito amarrados ao esquema das gravadoras. Falta um Chimbinha ou um Antonio Isaias no setor. O Sorocaba, que faz dupla com Fernando, era um vislumbre de esperaça quando arquitetou na base da independência o fenômeno Luan Santana. Mas foram ambos cooptados pela Som Livre, a gravadora que atualmenta representa o maior perigo para a moderna música sertaneja, mas isso, mais uma vez, é outra história.

O legal de tudo isso é que essa inversão completa do paradigma da cultura de massas não foi empreendida por meia dúzia de intelectuais ou artistas metidos a vanguarda, mas sim por uma massa anônima e caótica, que se auto-organiza espontaneamente, supera as contingências e se diverte pra cacete.

Claro que os repeitáveis acadêmicos estudiosos de Frankfurt torçem o nariz quando alguém passa na frente de sua casa escutando alto no som do carro coisas como "Você diz que não me ama / você diz que não me quer / mas fica pagando pau..." e com certeza se recusarão a admitir que terão que aprender tudo de novo. Claro também que os respeitáveis músicos da MPB também torçem o nariz quando ouvem coisas como "Na sua boca eu viro fruta / chupa que é de uva..." e com certeza se recusarão a admitir que a "linha evolutiva da musica popular brasileira" é apenas uma linha, arbitrária e equivocadamente criada, que não representa em nada a realidade musical desse país.

Azar o deles. Na hora em que eles vierem com a cebola e o tomate, já estaremos com o molho pronto, o churrasco no fogo, a cerveja gelada, o som no talo e fazendo a maior festa sobre os escombros de Frankfurt.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Avesso da Tropicália

Nando Reis é um cara bacana, boa praça mesmo. Seu novo DVD, lançado no final de semana passado está aí para confirmar isso. E mais. Trata-se de uma demonstração de coragem e atitude diante da pasmaceira e mediocridade generalizada que impera entre os artistas da MPB. Para o que ele definiu ampliação de suas próprias fronteiras, chamou para participar do show alguns dos nomes mais desprezados palo status quo: a Banda Calypso e a dupla Zezé di Camargo & Luciano.

O repertório também não foi nada convencional. Tem Roupa Nova – a banda mais subestimada deste país – Calcinha Preta, Wando e também o anátema da crítica especializada: Guilherme Arantes. Não faltou gente dizendo que trata-se de uma suicídio comercial. Balela. É visonarismo dos bons, isso sim. E está faltando gente com visão nesse país.

É chocante constatar que o sexagenário Caetano Veloso seja uma das únicas vozes a afirmar em palestras, congressos e entrevistas que a Banda Calypso é revolucionária, que a nova cena do pagode baiano é riquíssima. Com isso em mente resolvi esse mês reler seu livro Verdade Tropical e acabei por contatar paralelos interessantes entre o cenário musical atual e o do final da década de 60.

Quando Caetano e seus baianos se mobilizaram para criar um movimento que acabou por receber o nome de Tropicália tinham em mente implodir o sectarismo que existia entre a dita MPB séria e engajada, a jovem guarda e a cultura de massas internacional. Se observarmos com atenção, hoje em dia este sectarismo voltou a ocorrer. Esse DVD novo do Nando Reis – por sua pecularidade – e as declações de Caetano – por sua singularidade – são exceções que confirmam a existência de uma regra. Sem medo de errar, afirmo aqui nesta coluna que uma nova Tropicália se faz necessária. Só que com um pequeno desvio de rota.

Ao invés de integrarmos a nossa MPB séria à cultura de massas internacional, devemos integrá-la à cultura de massas interna. Sim, existe uma cultura de massas genuinamente brasileira em plena vitalidade, embora a crítica se recuse a considerá-la como cultura. Igualzinho ao que ocorria nos 60 com relação ao pop americano, era considerado lixo cultural.

Gente! Sertanejo é cultura de massas. Pagode é cultura de massas. Forró é cultura de massas. O nosso Tecnomelody idem. Existe um antagonismo gritante entre esses gêneros e a MPB e tudo o que é considerado de “bom gosto” nesse país.

Não seria bacana se o próprio Caetano se atentasse a isso e fizesse um reload de seu movimento dos anos 60? Para que uma ruptura paradigmática ocorra no senso comum, precisamos de nomes de peso do nosso lado. Estamos entrando nos anos 10, a década da imagem de um Brasil Pop perante o mundo. Amazônia, Pré-Sal, Copa do Mundo, Olimpíadas, as evidências são várias. Todas as atenções estarão voltadas para cá na década que se inicia. E que música pop apresentaremos ao mundo? Essa MPB rançosa que chafurda na herança maldita da bossa nova? Espero que não.

Eu costumo brincar que a Tropicália usava o mote antropogagia para conceitualizar seu movimento e que agora temos que mudar para autopofagia. Expliquei minha teoria para o porteiro do prédio onde eu trabalho. Ele coçou a barba e como é daquelas pessoas que quando se comovem com alguém que tenho um problema sem solução, sempre tentam ajudar, me veio com essa:

- Que tal fazer um Reality Show com essa gente toda? Essa coisa de manifesto, movimento, isso não cola mais hoje em dia com essa moçada que só quer saber de Internet.
- Como é que é?
- Ponha esse povo todo, esses cantores, trancados todos juntos dentro de um estúdio por 90 dias e vê o que eles conseguem fazer.

E não é o que o seu Amaral, mesmo provavelmente não tendo entendido patavinas da minha cantilena sobre Autopofagia e nunca tenha ouvido falar da Semana de Arte Moderna, conseguiu intuir uma parada bacana. Imaginem se um canal de TV abraçe essa ideia e convoquem para um confinamento criativo a Gaby Amarantos, o Maderito, o Waldo, o Chimbinha, o Sorocaba, o Victor Chaves, o Edu Luppo, o Belo...? Seria, no mínimo, interessante, e no máximo, a salvação da MPB

E tudo teria saído da cabeça de um porteiro. Isso não é lindo?

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