O poeta curitibano Paulo Leminski tem um livro intitulado Distraídos Venceremos. Não sou crítico literário e nem especialista em poesia, mas sempre extraí deste título a seguinte lição. Em termos de cultura em geral - e cultura pop em particular - as maiores revoluções não foram pensadas em termos de revolução, elas foram espontâneas, ou seja, os revolucionários nem sabiam e nem queriam ser revolucionários, por acaso eles estavam fazendo a coisa certa, na hora certa e no lugar certo.
Esta é a melhor descrição que encontro para o momento que a Gang do Eletro está vivendo. A música brasileira precisa de pessoas como eles, e digo isso da maneira mais abrangente possível e imaginável, desde essa MPB indie lamurienta, autocomplacente e impotente até essa música pop inexistente, que ainda se mantém na base exploração geriátrica de medlhões do século passado.
Para a MPB o antído virá no novo disco da Gaby Amarantos - escutei uma prévia dele, sei do que falo, mas é assunto para outro texto. Já música pop, pop rock ou sei lá o quê, a Gang do Eletro é um alento. Um sopro de ar fresco, jovem ,paudurescente, divertido e repito, sem que fosse a intenção, transgressor.
Transgressor porque é punk de uma forma que nunca ninguém foi punk aqui no Brasil. Não me venham trazer à baila a cena paulista do início dos anos 80, aquilo lá era uma cópia de papel carbono da cena inglesa. Falo de uma emolução da filosofia punk para os padrões tropicais periféricos.
Falo de se apropriar do que há em termos de tecnologia barata, de aprender a usá-la na marra para criar um som novo, enérgico, pulsante e que faça um jovem pegar dois ônibus para gastar sua merreca da salário ou mesada num show lá na caixa prego.
Maderito, um ex ofice boy de jornal. Waldo Squash, um mecânico industrial já emputecido de se melar de graxa. William Will e Keila gentil, um jovem casal que já na adolescência teve que encarar a dura realidade da criarem um filho sendo cantores de uma, dentre mais de duas mil bandas em uma cidade pobre como Belém. Eles não sabiam que era quase impossível, eles não sabiam o que era do you self do punk. Foram lá e conseguiram.
E conseguiram a despeito de toda a lógica de mercado que até aqui sempre existiu. Nunca procuraram um empresário, uma loja ou gravadora. Nunca se preocuparam em gravar um disco ou até mesmo uma demo para mostrar pra alguém. Foram gravando suas músicas, enviando para as festas e para as turmas de amigos. Com passos de formiga e com muita vontade, construiram sua história.
Agora estão no sudeste. Agora estão sendo paparicados por meio mundo de gente descolada. Certeza que nesse meio encontrarão muita gente com sinceras boas intenções. Também encontrarão muito vampiro sendento pelo seu sangue bom. Estão enfim sendo descobertos. E isso é bom para todo mundo.
Claro, é bom para eles, ter seu trabalho reconhecido e colher os louros do sucesso é o mínimo de justiça que pode esperar neste mundo cão para tamanha carga de talento. Mas é muito mais bom para a música pop brasileira e para o público em geral, que já não aguenta mais ter crises de vômito e confusão mental ao ver as sucessivas listas de melhores do ano dos últimos tempos.
Não quero dizer que a Gang do Eletro seja a última bolacha do pacote. Tem mais gente aí na fila esperando sua vez para ser iluminada pelo holofotes. Mas calhou de eles serem os primeiros a chegar lá, simplesmente pelo fascínio que a expressão 'tecnobrega' e a origem amazônica causam na opinião pública cultural. Lá vem o eletro!
3 comentários:
Finalmente assistir a apresentação da Gang e ratifico o seu texto, Timpin. Valeu!
Demorou, mas os premios estão chegando, Timpin!
Dia desses estava vagueando pela Sky e topei com esse quarteto acho que no multishow, inicialmente fui fisgado pela ginga e beleza diferente da vocalista, depois fui sacando o som..., a música..., cara, fascinante, demais mesmo, que som gostoso, dançante, incrível,...e olha que eu sou metaleiro de primeira grandeza. Já tô atrás do CD dessa turma.
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