quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tecnomelody em Debate - Choro de Perdedor

Como falei no post anterior (Tecnomelody e o direito constitucional), o veto do governador do estado do Pará ao projeto que tombava o tecnomelody e as festas de aparelhagem como patrimônio artístico e cultural, só trouxe benefícios para o movimento. Um amplo debate está se formando com diversas personalidades expondo suas opiniões. O texto do post anterior saiu estampado nas páginas do jornal O Liberal. No topo de cada coluna, sempre é colocada uma legenda com meus contatos, caso algum leitor queira se manifestar de alguma forma.

Já recebi alguns retornos, mas como o de ontem, nunca. Um texto bem redigido, fundamentado e extenso. Pedi autorização do emitente para a sua publicação em nosso estimado Cabaret. Ele aceitou e provavelmente vocês leitores vão poder acompanhar mais um debate público. Com vocês, as palavras do leitor Artur Dias. O texto é original, não mexi em uma vírgula sequer

Choro de derrotado

De tudo o que se pode saber sobre o tecnobrega, a principal conclusão a que se chega é que nunca existiu o tal "preconceito" de que a coluna se queixa, a cada vez que precisa fazer a defesa das aparelhagens e seus chegados. Em primeiro lugar, o fato de um jornal reservar quase meia página para patrocinar, através desta coluna, o tecnobrega, além das propagandas diárias sobre as festas, impressas em suas páginas, já mostra o crescimento e a profissionalização deste tipo de atividade. Nem cola mais dizer que porque é "cultura popular" o brega é perseguido e vítima do preconceito. Se com o termo "cultura popular" se quer definir cultura do "povo pobre", isso não tem as mínimas condições de ser aceito, pois é recorrente ver pelas ruas pessoas a bordo de picapes enormes a contribuir com a poluição sonora, através de caixas de som ligadas a todo volume, tocando tecnobrega (o policial que apreende essas fábricas de barulho também não é um perseguidor, mas cumpridor das leis que proíbem emissão de ruído acima do permitido).

Da mesma forma, os chamados DJ's, proprietários dessas parafernálias eletrônicas dificilmente podem ser considerados pobrezinhos malsucedidos vítimas de preconceito.


DJ Juninho, do Super Pop, fazendo um "S a dois" com o colunista, blogueiro e cafetão Timpin


Curiosamente, a coluna, que vinha festejando a lei do tecnobrega, mesmo sabendo da possibilidade do veto, agora a despreza, como todo mau perdedor: "Também, quem foi que disse que eu precisava dessa porcaria?". Para dar um ar de legitimidade ao tecnobrega, a coluna sugere que, ao contrário dos administradores públicos, uma maioria virtual reconhece a necessidade da lei - imaginem só, um candidato a DJ, pobre que, graças à lei, se aprovada, poderia obter recursos públicos para montar a sua... aparelhagem! Então se poderia sugerir aos traficantes pobres que, caso não tivessem o recurso para abastecer sua boca, que propusessem lei tornando as drogas legais, afinal, há consumidores para drogas tanto quanto para o brega.

Continuando a tentativa de se mostrar como uma vítima dos poderosos, a coluna procura se contrastar a supostos "assessores sentados no frio europeu das splinters"... Marxismo de meia pataca! Ou mistura de marxismo de panfleto com discurso religioso: "a voz do povo é a voz de Deus" - a grande vantagem é que na figura do "ser superior" se podem colar todas as imbecilidades possíveis, como prova a história dos massacres motivados por disputas religiosas.

Chega a ser deprimente a descrição da "tradição" como algo em que os DJs se comportam como verdadeiros debilóides. Em que contribui para a melhoria do ser humano um indivíduo que, a pretexto de animar a "massa", inventa palavras de ordem vazias, grita o tempo inteiro, e, como diz a própria coluna, "macaqueia"?? E tudo isso com as sobrancelhas tiradas e um corte de cabelo digno das páginas do caderno policial!

Como poderia o estado dar status de atividade artística a uma atividade que promove a formação de “galeras”, grupos que mais se assemelham a bandos, cuja maior característica é uma mentalidade vesga, expressa em seu vocabulário pobre e nas aspirações a ser DJ ou “a namorada do DJ”? Não vi ainda como pode o tecnobrega ser “música”, e nem o “apesar de ser barulho” pode ser justificado. Afinal, faz sentido um DJ se desculpar por estar infernizando a vizinhança, porque a cultura dele exige infernizar os outros? Creio que não.

A coluna tentou, tentou, mas não consegui dar o verniz intelectual pretendido ao tecnobrega. Colocou-se como porta-voz de uma “vanguarda” artística, supostamente desprezada pela “elite” que tem vergonha da “cultura” do seu Estado. Envereda mesmo pela defesa do plágio, como se fosse a coisa mais natural alguém pegar a obra de outra pessoa, distorcê-la e sair vendendo. Pior ainda é que, essa prática de colocar letra em melodia feita por gringos escancara a incompetência dos DJs e seus parceiros em produzir algo novo. Até onde se sabe, artista é o que cria, é o que traz o novo. É muito fácil comprar, como eles mesmos dizem, toneladas de equipamentos, aprender a distorcer a voz em algum software, despejar tudo nos ouvidos até de quem não pediu para tocar, e depois dizer que isso é arte de vanguarda, porque se trata também de “formação de redes colaborativas” “realocação produtiva do centro para a periferia”.

O tecnobrega exprime, na realidade, uma degradação cultural que começou na performances auto-depreciativas, do tipo que o “anormal do brega” fazia, chegando ao cúmulo de fazer papel de palhaço em programas em cadeia nacional. Exprime o rebaixamento da mulher a pedaço de carne que se come, como no brega da “marmita”, ou guardanapo em que se limpa a mão. Exprime a estreiteza intelectual do indivíduo para o qual a única coisa a se fazer no final de semana é ficar bêbado, escondendo, nas “letras” dos bregas, que o bêbado do fim de semana é o mesmo que espanca a mulher e os filhos, mata o vizinho (ou é por ele morto), atropela, perde a dignidade.

Têm razão os que se envergonham de ter sua terra associada a tanta coisa ruim.

2 comentários:

a velha lenga-lenga daqueles que acham que possuem a verdade, o bom gosto. que preguiça.

letras na maioria plagios, degradação miséria. o melody corre no mesmo caminho do rap Paulista. poucas pessoas com talento nato como Racionais mcs, que sabem oque estão falando lutando por cultura e o restante embarca pensando que estão fazendo o mesmo, mas na verdade estão derrubando o movimento com letras vazias !

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