Coluna publicada no jornal O Liberal em 27/04/2011
O governador do estado vetou a lei que tomba o tecnomelody como patrimônio cultural. A lei está morta. Viva a lei! O governador não poderia ter feito coisa melhor para o movimento. Manchetes espalhafatosas, gritos de indignação, slogans em nicks de redes sociais e muito preconceito saindo do armário pra bater palmas na sala de estar. Ótimo! Tudo o que o tecnomelody precisava era isso, ser pauta de um amplo debate com todas as cartas na mesa.
A razão para o veto escancara o amplo desconhecimento por parte dos gabinetes da administração pública e dos salões de coqueteis da alta sociedade belenense à cerca do que acontece de verdade nas ruas de sua cidade. Um desconhecimento voluntário de uma classe que sente medo e faz questão de fugir de uma realidade sobre a qual pesa uma responsabilidade e uma má vontade de mudá-la. O decreto no diário oficial diz com todas as letras que as festas de aparelhagens são apenas exibições de tecnologia e que nada tem de manifestação cultural e declara o projeto inconstitucional.
Os assessores do governador, a estas alturas, devem estar sentados em seus caríssimos estofados e batendo com as palmas nas coxas afirmando sorridentes: - Ra´! Rá! Sacaneamos os caras, cheque-mate! É a realidade superando a filmografia de Felline. Para estes nobres senhores, eu gostaria de fazer o seguinte questionamento, se me permitem.
Em qual outro estado, região, país ou continente existe uma festa popular, que remota uma tradição de décadas, onde a atração, o foco de atenção e idolatria, não são os músicos, mas sim os DJs que colocam para tocar e remixam músicas de terceiros. Ah! Essa é fácil, qualquer rave do planeta, dirão os apressados. E em qual rave os DJ sobem em cima da mesa de som, pulam, convocam a massa para o coro, fazem performances pirotécnicas, dançam, pulam, macaqueiam, chupam manga e assobiam ao mesmo tempo? Só no Pará, ora xongas...
É uma cultura local, não tem como se negar isso. O tecnomelody não é somente música, apesar de todo o barulho que faz, é um estilo de vida. São as aparelhagens, são os frequentadores formando as famosas equipes - existem centenas delas, Irmãs Tavares, Galera da Barca, Os Vigaristas - é o jeito de se vestir, as gírias, os slogans. E as aparelhagens são os eventos aglutinadores de todas essas facetas. Qualificá-las como simples exibicionismo tecnológico é de um simplismo atroz.
Houve gente que falou que a redação do projeto foi equivocada. Bobagem. Foi má vontade de executivo que na gafe que foi esse veto acabou por revelar quem ele realmente representa, uma elite que se evergonharia, ao viajar para poder vestir seus adoráveis casacos de pele importados, serem questionados nas festas chiques se são oriundos do estado que criou o tal tecnomelody.
Mal sabem eles o quanto o tecnomelody significa em termos de vanguarda artística, o quanto ele personifica as questões mais debatidas e pertinentes da era digital do século XXI. Estética do plágio, formação de redes colaborativas, distribuição descentralizada, realocação produtiva do centro para a periferia e por aí vai. Por isso que os gringos se encantam tanto o ritmo e a cena.
Por isso repito, o veto foi bom. Tivesse sido sancionado, todos esses esqueletos ainda estariam escondidos. Sem contar com a possibilidade de que o debate entre em pauta nacional. Deste mato ainda podem sair muitos coelhos.
1 comentários:
Deixa de conversa fiada Tinpim. Cadê os cd's da promoção?
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