terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Sertanejo Play - O SHOW! (Capítulo 4)

Todos os caminhos são iguais, mas somente um tem coração. Apesar de aparecer em uma música de Raul Seixas, essa frase é do sábio índio mexicano Don Juan, retratado nos livros de Carlos Castañeda. Apesar também de, em se tratando do mercado da música sertaneja, nem todos os caminhos serem iguais - uns são mais comerciais, outros mais oportunistas - a verdade é que são poucos os que tem coração. E quando a escolha de um caminho é feita com coração, amor e fé naquilo que se acredita, a tendência natural é que tudo seja encaminhado para que dê certo. Este parece ser o caso do Sertanejo Play. Pois vejamos.



Em um ano em que vicejaram gravações e regravações de músicas com forte apelo comercial e de fraquíssimo valor artístico, ou então de artistas consagrados apropriando-se de criações de novos e ainda obscuros talentos, o Sertanejo Play se sobressai feito uma Supernova em uma região pouco estrelada do céu.

Claro que nem tudo aqui são rosas e nem tudo lá são espinhos. Neste ano tivemos a volta por cima de Victor & Leo, com seu irretocável "Amor de Alma", depois do fraquíssimo (e com o nome agourento) "Boa sorte pra você". E o que dizer dos sensacionais Lados A e B do lançamento duplo de João Carreiro & Capataz? Sem contar com a consagração definitiva de Gusttavo Lima e o despontar de duplas promissoras, como Humberto & Ronaldo e Munhoz & Mariano. Estes últimos presentes no Sertanejo Play como convidados especiais e os únicos nomes mais ou menos conhecidos do grande público. E é justamente este último detalhe que faz deste projeto, algo tão especial. A aposta no novo, o apreço pelo novo, pautado sempre pela qualidade.

Mesmo artistas já com uma certa quilometragem, como o caso das duplas Betho & Menon e Marco Aurélio & Paulo Sérgio, o tesão juvenil transparece. Cada qual com seus próprios motivos e com suas histórias de vida, comportaram-se como renascentes. Os primeiros abriram o show e os segundos encerraram, como que amarrando as pontas do fio de um novelo que, após quase duas horas de show, revelou-se uma bela tricotagem, o produto final superou a soma das partes.

Betho & Menon confirmaram que possuem um público fiel na região, entraram com o jogo praticamente ganho e com a platéia na palma de suas mãos, cantando em uníssono seu sucessos, principalmente o hit "Atrevida". Já Marco Aurélio & Paulo Sérgio protagonizaram e comendaram a grande apoteose da noite, o momento em que todo o cast subiu ao palco para cantarem juntos aquele que entrará para história como o grande hino do evento, a música "Agora é nóis".

Mais do que servirem de cobertura para o recheio representado pela nova geração apresentada ao público, esses quatro artistas emprestaram um característica ímpar para o projeto: a troca de experiências e conhecimentos possibilitada pelo longo período de convivio íntimo. Isso, mais a competência do produtor Ivan Miyazato e do arranjador Eduardo Pepato, possibitaram a realização do que se viu e se ouviu na noite de 15 de dezembro.

No mercado atual da música sertaneja, a vaga de grande crooner da música romântica ainda não foi definitivamente preenchida. Michel Teló, Gusttavo Lima e, de uma certa forma, Luan Santana, ainda são candidatos, mas não vão muito além de suas candidaturas. Rodrigo Marin demonstrou que está nesse jogo para buscar a vitória. A concorrência, como se vê, é pesada, mas o rapaz demonstrou autoconfiança e tudo o que precisava era isso, uma chance de se mostrar ao mundo.

Os sinais de que a música sertaneja é o novo pop brasileiro estão cada vez claros. Aos poucos a crítica especializada está admitindo isso, e não falo apenas da crítica da área sertaneja, falo da crítica em geral. Tivessem eles em Vinhedo e assistisse o show de Karin Garcia, dariam largos passos para admitirem de uma vez por todas essa realidade. A menina é uma estrela nata. Em alguns momentos ela lembra a Rita Lee da fase Build Up, logo que saiu dos Mutantes, em outros Paula Toller, no auge de sua forma nos anos 80, mas o tempo todo deu provas de que assimilou muito bem todas as influências que teve em sua carreira e que está pronta para as luzes da ribalta.

Estar no lugar certo e na hora certa, é algo que não se calcula, mas que faz parte dos inescrutáveis desígnios do destino. Parece ser o caso da dupla Junior & Marconi e da banda Villa Baggage. Depois do estouro de Luan Santana junto ao público adolescente, a ponto de virar álbum de figurinhas e capa de caderno escolar, está mais do que na hora de que uma dupla e uma banda percorram o mesmo caminho.

Algumas duplas já foram lançadas por aí, mas nenhuma tem mais potencial para se tornarem ídolos teen como Junior & Marconi. Eu estava no gargarejo quando eles se apresentaram e fiquei impressionado com o que vi. Fãs de primeira hora empunhando cartazes com mensagens de carinho e inventando um slogan que tem tudo pra colar: "Junior e Marcone / anotem esse nome". E podem anotar mais, pois o mais impressionante é que além de terem apenas dez meses de carreira, aquela era a quarta vez que subiam num palco. A impressão que se tem é que eles devem ter nascido e se criado num palco oculto de todos, tamanha a maneira como estavam se sentindo em casa. Repito, anotem esse nome.

Muitas vezes um jornalista acaba-se descobrindo um tiete. Foi o meus caso com a banda Villa Baggage. Já no ensaio eles conseguiram algo raro, arrancar arrepios em mim. A combinação de violino com sanfona, algo que Fernando & Sorocaba poderiam ter feito, mas que nunca arriscaram, a banda realizou com maestria. A sonoridade do Villa Baggage é totalmente nova, fora o fato de que, além de terem uma cantora charmosíssima, a loirinha Emelyn Maziero, os irmãos Nuto e Gui Artioli, violino e sanfona respectivamente, alternam-se na primeira voz que se perceba. Fora a presença no palco que o trio causa, parecem preencher todos os espaços, não se sabe pra qual deles se olha. Se um metoro de grandes proporções vão atingir a terra e extinguir a espécie humana, estes caras vão bombar.

Depois deste farto banquete de novidades, Munhoz & Mariano representou quase uma chuva no molhado, sendo muito mais uma espécie de faixa bônus, do que um selo de autenticação vindo de um nome já reconhecido no mercado. Mas não fizeram feio e mais uma vez demostraram seu poder de frisson perante a platéia.

Quando o show acabou, toda a produção e o time de artistas pulava e berrava, cantava e se abraçava em cima do palco, enquanto o público deixava a casa de eventos Adler. Pareciam um bando de crianças comemorando a primeira bicicleta da vida. Foi um negócio bonito de se ver, como bonito é ver todas as grandes tarefas executadas com amor. Já que começei com Raul Seixas, vou terminar com ele para tentar manter um mínimo de lógica nesta resenha. "Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, já sonho que se sonha junto é realidade". E ali eu vi um bando de malucos sonhando juntos. Se o sonho deles não virar realidade, não sei mais o que vira.


Links para os capítulos anteriores da SAGA SERTANEJO PLAY

Capítulo 1 (primeiras impressões)

Capítulo 2 (fiz merda)

Capítulo 3 (retratação e novas amizades)

8 comentários:

Arrepia só de ler a sua resenha, imagine vendo tudo isso ao vivo!!

Adorei o relato... senti como se estivesse lá...

Timpim, me emocinonei com seu texto! Parabéns!

amei seu relato Timpim.. muito bom mesmo. emocionante.... sorte pra todos....

Não sou muito de confessar meu caro Tin pão. Eu não tenho palavras, mas você as tem. Sabe como poucos com maestria vocabular sintetizar com uma clareza singela e inteligente o que houve ali, naquelas horas, naquele dia, o que eu chamei de um momento milagre a perfeita sintonia entre a técnica, o profissionalismo e o espírito de união do DVDistas do Sertanejo Play. Mais uma vez meu caro amigo, rendo-me a um dos melhores blogueiros da safra recente. Você mais uma vez me agraciou com o seu talento. Só posso dizer uma coisa MUITO OBRIGADO.

Esse é o grande e querido amigo TinPim. Obrigada pelo texto maravilhoso...

Vamos fazer barulho meu parceiro.. vc falou bonito dmais.. obrigado pelas palavras e pela força que esta dando nesse inicio, ate breve.! Um abraço Rodrigo Marim.

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