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Vocês querem saber o que euzinho mais do que o resto da humanidade inteira? Eu tenho mais é que me fuder mesmo. Descobri isso às 07:23 do dia 26/12/2009. Após ter sido sumariamente expulso de minha residência por determinação expressa de minha cônjugue (detalhes no post anterior), havia pernoitado na cada de meu vizinho e acordado abraçado com os cachorros. Enquanto sorvia uma fumegante chícara de café forte e aguardava afoito que a Neosaldina aplacasse a dor de cabeça da ressaca, meu E71 da Nokia adquirido no mercado negro e com chip Tim, tocou.
Meu chefe me convocando para trabalhar no sábado, dia 26. No sábado e no domingo. Existe uma maneira pior de começar um 25 de dezembro?
- Existe!
- E é? Diz como negão!
- Começar com Banda Djavú e Dj Juninho Portugal.
Foi eu botar meu chapéu na cabeça que Élcio fincou o pendrive na entrada USB 2.0 do carro dele para as caixas acústicas emitirem o infame refrão: "O que pensa que eu sou / se não sou o que eu pensou / me libera / não insista / Vai buscar um outro amoooooor".
E pensar que fui eu quem apresentou Djavu pro cara. Tenho pesadelos teríveis até hoje por causa dessa cagada. Acordo suando e febril imaginando Paulo Palcos e Geanderson escondidos debaixo da cama, cada um com uma carabina de cano duplo com cartuchos entupidos de chumbo grosso.
É que a Djavú é de Capim Grosso. Vai ver por isso que meu subconsciente que emerge nos sonhos faz essa associação retardada. Gostaria que Carl Gustav Jung estivesse vivo para descascar esse abacaxi.
Não! E tem mais. Nádila surge de dentro do guarda-roupa com um vestido preto, um chapéu de mesma cor em formato de cone, com dentes poniagudos emitindo um apavorante kááá kia kia kia kia! enquanto viro uma peneira loira e magra ao som da marcha fúnebre de Wolksque sai dos teclados de Juninho Portugal.
É mole? Chupa que é de uva, meu amigo.
Estudantes de psicologia em particular e curiosos em geral que quiserem saber mais detalhes dessa minha fobia, podem conferir o Watergate do Tecnobrega, partes: um, dois e três.
Claro que eu ali, hospedado de favor, não podia interferir na programação do cara, limitei-me a escutar resignado o disco tocar três vezes. No local. Mais duas na hora de ir no mercado comprar carne e cerveja para alimentar e embriagar os convidados que viriam para o almoço. Como convidado não é hospedado, foram eles que me liberataram do jugo e pediram pra trocar o som.
Convidados e meus filhos. Arthur e Alice correram para meus braços, acompanhados por Victor e Leo, minha recém adquirida dupla de vira-latas. Acontece que tanto Victor e Leo quanto Sofhia Loren e Ringo Starr são um mando do moleques. Só que os meus são vira-latas enquanto os do vizinho são pastores alemães. A diferença de tamanho é desproporcional. Como cantam João Carreiro & Capataz: nessa relação eu tive que opiniar. Separei as duplas.
- Victor e Léo, já pra casa!!
Acho que agora já dá pra falar do meu chapéu.
Todos os presentes na confraternização deram muitas risadas ao saberem do nome de meus cães. Pediram que eu contasse porque aquele nome. quer saber porque? Clique aqui. Todos puxavam assunto comigo e eram simpáticos. Só que isso não mérito exclusivo de Victor e Leo. Meu chapéu também tem seus méritos. Antes dele, com minhas madeixas loiras compridas, meu visual largadão e jeito de andar todo errado, era o típico estereótipo de roqueiro. E roqueiros não inspiram nem confiança e nem simpatia em não-roqueiros. Com o chapéu eu passei de drogrado, adrógino e encrenqueiro Axl Rose para bruto, rústico, sistemático.
Com meu chapéu fiquei "xique bacanizado, um ambisurdo nota dez, a vida meiorou demais, a vida deu um revestréz". Passei a ser o cara. As pessoas passaram a me cumprimentar, insistir para que eu contasse minhas piadas e minhas histórias. E o melhor, deixaram eu executar meu playlist continental, abrangendo músicas de todo esse Brasilzão véio sem porteira.
Claro que além do chapéu, meu bom senso contribuiu para essa liberdade toda. Durante o churrasco e as primeiras cinco grades de cerveja, toquei só o status quo musical local: sertanejo básico e umas pontuais vaneiras, dando preferencia para as da região do Mato Grosso do sul. A saber: Grupo Tradição, Alma Serrana e Zíngaro. Outra sacada foi escalar a existência dos meus filhos para pedirem músicas. A sacada três foi escalar a carismática Alice pra pedir sua banda predileta.
- Papai, bota Bonde do Maluco?
"Cadê os cachaçeiros? / Como é que é / Tão tudo dormindo / Tão lá no cabaré". O refrão de fácil assimilação, aliado à performance dançarina executada por escriba e filha, arrancaro risos e coros de quase todos os presentes. Ao final da música, queriam saber que raio de estilo e de dança era aquilo. Após um breve resumo da gênese do gênero, botei pra tocar "Pisa na Barata", a música ideal para dar um Curso Intensivo de Dança de Arrocha.
Os machos ficaram meio cabreiros de tentar aquele rebolado todo que eu estava empreendendo, mas a muierada acanaiada não se fez de rogada e quando toquei "Sai da frente rapaz" a reboladera e arrochadera desgovernada já era generalizada. No final do set, a consagração final com a versão arrocha de Don't Matter, do Akon, com um dos coros mais lindos escutados no Bairro São Dimas: Ôooo / Ôoooooooooo / Não vale mais chorar por ele / eles jamais te amou / jamais de te amou.
Dan Ventura? Depois te mando a fatura.
Arthur já estava me cutucando a algum tempo. Não que ele não goste de Bonde do Maluco, ele adora também, mas é que como Alice tinha feito o pedido, meio que mecheu com os brios do moleque e ele estava afim de recuperar sua auto-estima mostrando a todos que sim, ele sabe dançar capoeira. E para dançar capoeira, a trilha sonora que Arthur não abre mão é Fantasmão e Edcity.
Mais uma vez tive que palestrar sobre o gênero, apesar de desconfiar que aquele bando de manguaçado não estava mais lá prestando muita atenção. Quando falei que aquilo que eles ouviriam era meio que culpa do É o Tchan a situação chegou inclusive a ficar meio tensa. De nada adiantou citar samba de roda. Resolvi agir. Por própria conta e risco.
"Quem cola comigo / comigo não cola / pra colar comigo tem que seeeeeeeeer..." (Arthur põe-se em posição de pré-combate) "tem que seeeeeeeer..." ( olhares alternam-se entre a posição de Arthur e minha pessoa física) "tem seeeeeeeeer..." (transcorre então o segundo mais longo de minha carreira de disque jóquei e carreira de disque jóquei tem essas coisas e estou enchendo linguíça aqui pra simbolizar o segundo mais longo da minha carreira de disque jóquei e se você é disque jóquei ou um dia já foi disque jóquei sabe do que cacete esse blogueiro mala está falando)
"Viola / tem que ser viola / tem que ser viola / tem que ser viola"
Foi um treco impressionante. A tensão psicológica acumulada, o salto mortal que Arthur deu, seguido de uma estrela tripla, foi como uma flecha sendo arremessada, passando por um milímetro de distância da cabeça de todos os presentes. A simbiose entre a dança do Arthur e a música do Fantasmão foi perfeita. Ninguém conversava nada. Eram todos olhos e ouvidos. Ninguém esperava nem ver, nem ouvir aquilo. Choque cognitivo total. Hipnose coletiva.
Na hora pus-me a procurar desesperadamente no ipod uma música que fizesse jus àquele evento ímpar da história da evolução humana. Alguma entidade dos Orixás deve intercedido em meu favor. Fiz a coisa mais inusitada e fora de lógica que poderia ter feito. Baixei o nível de pressão tensorial e gravitacional, colocando uma música malemolente: "No Break", já da nova fase do cantor Eddy com a persona Edcity.
A música tem uma levada maneira, onde mesmo sem abrir mão da cadência do samba de roda é passível de ser dançada com os movimentos de Michael Jackson. Coisa que meu filhotão, o Tucão que de tão clone de mim, para sempre me eximirá de gastar dinheiro com exames de DNA, sabe fazer com maestria. Ele já passou horas estudando os movimentos do Rei do Pop. Deu certo. Deu tão certo, que quando Alice me chamou para dançar sua música, "Pivetona", a platéia já estava ganha. "Essa menina é uma onda / Pivetona / Pivetona / ela chama pra ondaaaa".
Falei platéia, porque pedir que os paranaenses eurodescententes, sem um pingo de sangue negão na veia, dançem swuingueira, aí já é pedir demais. Depois da "Pivetona", resolvi aliviar com o funk do Bonde do Tigrão, que já é mais familiar aos ouvidos e que também serve de chute-do-pau-do- barraco-que-funciona-como-deixa-pra-mudar-de-música-depois-de-tocado. Pelo menos ali naquele ambiente.
Para aplacar a adrenalina, entornei três garrafas de cerveja seguidas e perdi a coordenação visual e motora para operar o ipod. Coloquei Jorge & Mateus à pulso, disco inteiro para tocar e ainda consegui encontrar espaço em minha agenda para fazer mais uma cagada. Minha capacidade de encontrar novas e piores maneiras de fazer cagadas não demonstra o mínimo sinal de arrefecer. Atravessei a rua e fui azedar os filhos da cabelereira. Acabei azedado.
Me ofereceram um copão de conhaque, que durante a primeira metade usei de combustível para contar a eles todas as merdas pelas quais estava passando. A segunda metade? Usei para baquear-me de vez enquanto ouvia a metralhada de chacotas proferidas por aqueles malditos malinhas, nenhum deles com mais de dez anos.
- Pô Timpas, já que tu tá tão sem moral, me vende esse papel por um Real
- Moral? O Timpas tá tão sem moral que se dormir na rua amanhece tapado de terra por que os gatos pensaram que era um cagalhãozinho estacionado na calçada.
- Pior que é mesmo! Se eu fizer um risco de giz aqui no chão, o Timpas passa por baixo.
- Acho que se o Timpas cruzar com um carro funerár...
...Huahuahua....O Timpas tá no farelo do cac...
...amnésia alcoólica...
1 comentários:
Ê Timpiin Timposoo .. só occ mesmoo .. mas o bãão é que pelo menos nessas festaa doiida suua, dá pra divuulgá os MELHOOOOOORES ESTIILOS DO BRASIIL .. aaah e adooreii a historiia do Victor e Léo! deeu pra veer que além doo Timpin escraxadoo q a gnt conheece teem o PAI .. acima de tudoo né .. pelo exemploo caara =)
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