O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro

O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.

Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira

Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.

Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3

O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.

Por um Help à Música Sertaneja

Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.

Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos

Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A nova Cultura de Massas brasileira e o sucateamento da Escola...de Frankfurt

Em meio a todo o barulho causado pelas críticas à educação púplica no Brasil e o consequente sucateamento de suas escolas, quase ninguém se atentou ao fato de que o povo brasileiro "deseducado", "ignorante" e "malandro", sem nunca ter sido consultado sobre o que pensava sobre a crise da indústria fonográfica ou a questão dos direitos autorais diante das novas tecnologias, não se fez de rogado, fez um admirável uso dessas mesmas tecnologias e mesmo sem saber o que estava fazendo - e talvez, graças a isso - implodiu a Escola de Frankfurt e toda a ideologia que ela exportou para a teoria da comunicação do século XX.

Não. Você não precisa ser formado em comunicação pela USP para seguir lendo esse post. A maioria das teorias, se despidas de sua linguagem empolada, podem ser facilmente explicadas em meia dúzia de linhas. E é isso que este Cabaré vai fazer.


Walter Benjamin, um dos mais encardidos tiozinhos da Escola de Frankfurt em seu ambiente de trabalho


A Escola de Frankfurt era basicamente um grupo de pensadores alemães que viviam nesta cidade e que não viam com bons olhos as novas mídias que emergiam na época - o rádio, a televisão e principalmente as reproduções em disco. Segundo eles, a reprodução em escala industrial das obras de arte destruiria a aura mágica do "original" e do "único" e, num último grau, mataria a diversidade e acabaria por criar uma cultura global homogênia e facilmente controlável pelas forças opressoras das classes dominantes.

Era a emergente Cultura de Massas, baseada no que se chamava de Broadcasting, onde poucos veículos emissores difundiriam a informação que seria consumida por uma ampla massa de receptadores passivos.

Papo de comunista mal amado, eis a verdade. O triste é que esse pensamento contaminou o meio intelectual por mais de meio século - e ainda continua contaminando! - apesar dos surtos de pós-modernismo dos anos 60. Aliás, pós-modernismo é um termo que até hoje ninguém soube explicar satisfatoriamente. Talvez a melhor explicação seja: a tentativa de sintetizar uma cultura que por sua própria natrureza, não pode ser sintetizada. Ou seja, uma desonesta manobra por parte de filósofos e pensadoreas para manterem seus empregos.

Por sorte, nosso populacho, livre de patrulhamentos ideológicos e culturais - posto que o que ele produz não é considerado cultura - conseguiu subverter o termo Cultura de Massas. Tudo porque ele soube, mais do que qualquer outro povo de qualquer outro país do mundo, fazer bom uso das novas mídias digitais.

Enquanto as classes dominantes ficaram enxugando gelo e chorando as pitangas diante da impossibilidade de se criar um mercado viável para a música diante da queda do controle sobre os direitos autorais, o povo não sabia dessa impossibilidade e por isso, conseguiu criar seu mercado.

O inicio da revolução proletária se deu nos camelódromos, no começo dos anos 90. Era a época das fitas cassete, mas somente os durangos consumiam aquelas infames fitinhas, pois a qualidade do som não chegava aos pés dos originais. Com o advento dos CDs o cenário começou a mudar, já não eram só os durangos que frequentavam os camelódromos, mas também os primeiros consumidores pragmáticos que levavam em conta a relação custo/benefício na hora de comprar discos.

Não se sabe se o mercado por si só teria dado conta do recado, o que se sabe é que duas mentes visionárias foram fundamentais para que a revolução tomasse o rumo que tomou - Chimbinha da banda Calypso e Antonio Isaias, empresário dos Aviões do Forró.

Chimbinha não tinha empresário nem gravadora, mas tinha a cara e a coragem. A cara para dar aos tapas batendo de porta em porta das rádios para implorar que tocassem suas músicas e a coragem para reinvestir tudo o que ganhava, em CDs do disco de estréia da sua banda que eram vendidos a preços praticamente de custo para os logistas das cidades em que se apresentava. Foi o primeiro a fazer uso inteligente do barateamento das gravações. Depois de dois anos praticamente passando fome em cidades nem sempre maravilhosas, a estratégia deu certo e hoje ele tem mansão em Alphaville e jatinho particular. Além de fazer de sua banda um paradigma de ruptura dentro da musica brasileira, mas isso já é outra história.

Antonio Isaias foi mais radical. E mais esperto. Ao invés de vender seus discos a preços de custo e esperar pela sorte de alguém comprar em uma loja, resolveu dar os discos de graça para quem fosse aos shows dos Aviões. Eram os Promocionais Invendáveis. A vitória do ovo de um colombo histórico diante do ovo dourado de uma galinha folclórica. E a esperteza residia no fato de que, uma vez que os CDs não eram comercializados, estavam livres para gravar qualquer música, sem o empecilho de ter que pagar direitos autorais. Em menos de dois anos os Aviões passaram a ser a maior banda de forró do mundo e a empresa de Isaias, a mais poderosa do mercado. E a mais polêmica e criticada, mas isso também já é outra história.


Isaias Duarte - ou Isaias CD - o homem forte da A3 Entretenimentos


Paralelamente a estas empreitadas invodoras, popularizava-se no Brasil a banda larga e as redes sociais, que o povo recebeu entusiasticamente, principalmente o Orkut e o MSN. Popularizaram-se os downloads. Os camelôs logo se reiventaram e passaram a trabalhar mais em cima dos DVDs, o que ajudou ainda mais na divulgação dos artistas, pois junto ao som foi adionada a imagem, para beneficio de todo mundo. Nunca tinha se consumido tanta música nesse país.

As classes dominantes continuavam enxugando gelo e a música "séria e de qualidade" produzida e consumida por essas classes permanecia numa espécie de stand by, no aguardo da resolução dos problemas de direitos autorais. O povo, ignorando esses problemas e diante de uma enorme oferta, acabou por obrigar a demanda a se qualificar, ou seja, os artistas se viram forçados a se diferenciarem da grande concorrência, fazendo de nossa música popular a torna-se a mais rica e diversificada do planeta.

O paradigma da Cultura de Massas, aquele onde poucos veículos emitiam uma informação que seria consumida por uma população passiva estava mudando. A informação passou a ser distribuída em rede. O termo hit passou a dar lugar ao viral. Era o começo do fim do Broadcasting.

Só que outra bronca dos malas de Frankfurt continuava de pé: a reprodutibilidade técnica e o fim da aura mágica" do "único" e "original". E não é que o povo brasileiro, com seu famoso jeitinho, conseguiu dar cabo disso?

A coisa toda começou lá no Ceará, no mesmo começo dos anos 90 em que as fitas cassete começaram a proliferar. Foi um cara chamado Chiquinho, da Discofran de Viçosa no Ceará, que começou a gravar os shows a partir da mesa de som onde trabalhava nos eventos. A principio era para ele mesmo escutar em casa e no carro, mas com o tempo, mais pessoas passaram a se interessar pelas gravações e ele passou a vender as fitas - inclusive alguns shows ele lençava em vinil! Inaugurou-se um mercado que foi crescendo aos poucos.

Na verdade era uma bomba relógio esperando o estopim digital para explodir.E a explosão aconteceu.

Foi tudo tão rápido e tão recente que talvez esse seja um dos primeiros artigos da imprensa a abordarem o tema. É dificil rastrear quem foram os pioneiros, isso demandaria uma pesquisa longa que estrapola os limites deste post, mas a coisa começou lá pela metade dos anos 00, quando as máquinas de múltiplos gravadores dos pirateiros passaram a serem usadas para reproduzir em CD as gravações dos shows assim que eles ocorriam. Esses discos eram disponibilizados para venda na saída, como souvenir.

Uma idéia genial, afinal de contas, quem não gosta de escutar no conforto de seu lar aquele show bacana que tanto o divertiu ou emocionou? Surgiam assim os chamados Fulanos CDs, gravadores que passaram a ser tratados como estrelas, disputando entre si quem tinha a fama de melhor qualidade na gravação. China CDs, Gustavo CDs, Clebemilton CDs, surgiram centenas deles. Daí para as gravações cairem nas redes sociais foi um pulo, mais inevitável que uma derrota em Copa do Mundo tendo um Dunga no comando e um Grafitte entre a lista de convocados.

São centenas de comunidades para downloads de shows no Orkut. Além da qualidade de gravação, a velocidade na postagem dos links para download passou a ser fator de concorrência entre os Fulanos CDs, criando entre o público uma nova forma de consumir música. Agora o pessoal não se contenta mais em escutar o último promocional de sua banda preferida, agora a galera quer escutar o show mais recente. E consegue.

Se a banda Garota Safada tocar hoje de madrugada em Patos da Paraíba, o fã que mora Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, pode escutar a gravação - com boa qualidade - antes que o dia amanheça.

Por essa, certamente os sizudos pensadores de Frankfurt não esperavam. Se eles queriam a unicidade de cada apresentação ou apreciação de uma obra de arte, aí está! Com a vantagem de que estas apresentações únicas estão aí para todos, de graça. É a classe operária indo ao paraíso.

É certo que essa cultura libertária ainda não foi disseminada homogeniamente por todo o país. O Sul/Sudeste - olhe que curioso dizer isso! - ainda está muito atrasado com relação ao Norte/Nordeste. Pra se ter uma idéia, o pessoal do Norte, mais especificamente a cena tecnomelody de Belém, a muito abandonou o conceito ultrapassado de disco e trabalha majoritariamente em cima de singles, coisa que as bandas mais descoladas do primeiro mundo estão apenas engatinhando na prática. Enquanto isso, os artistas de sertanejo ou pagode do Sul/Sudeste ainda estão na fase de distribuir CDs de graça nos shows.

Mas é uma questão de tempo. A crônica da morte anunciada da indústria fonográfica é implacável. Os pagodeiros e sertanejeiros - e toda a produção musical do Rio Grande do Sul, infelizmente - ainda estão muito amarrados ao esquema das gravadoras. Falta um Chimbinha ou um Antonio Isaias no setor. O Sorocaba, que faz dupla com Fernando, era um vislumbre de esperaça quando arquitetou na base da independência o fenômeno Luan Santana. Mas foram ambos cooptados pela Som Livre, a gravadora que atualmenta representa o maior perigo para a moderna música sertaneja, mas isso, mais uma vez, é outra história.

O legal de tudo isso é que essa inversão completa do paradigma da cultura de massas não foi empreendida por meia dúzia de intelectuais ou artistas metidos a vanguarda, mas sim por uma massa anônima e caótica, que se auto-organiza espontaneamente, supera as contingências e se diverte pra cacete.

Claro que os repeitáveis acadêmicos estudiosos de Frankfurt torçem o nariz quando alguém passa na frente de sua casa escutando alto no som do carro coisas como "Você diz que não me ama / você diz que não me quer / mas fica pagando pau..." e com certeza se recusarão a admitir que terão que aprender tudo de novo. Claro também que os respeitáveis músicos da MPB também torçem o nariz quando ouvem coisas como "Na sua boca eu viro fruta / chupa que é de uva..." e com certeza se recusarão a admitir que a "linha evolutiva da musica popular brasileira" é apenas uma linha, arbitrária e equivocadamente criada, que não representa em nada a realidade musical desse país.

Azar o deles. Na hora em que eles vierem com a cebola e o tomate, já estaremos com o molho pronto, o churrasco no fogo, a cerveja gelada, o som no talo e fazendo a maior festa sobre os escombros de Frankfurt.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Avesso da Tropicália

Nando Reis é um cara bacana, boa praça mesmo. Seu novo DVD, lançado no final de semana passado está aí para confirmar isso. E mais. Trata-se de uma demonstração de coragem e atitude diante da pasmaceira e mediocridade generalizada que impera entre os artistas da MPB. Para o que ele definiu ampliação de suas próprias fronteiras, chamou para participar do show alguns dos nomes mais desprezados palo status quo: a Banda Calypso e a dupla Zezé di Camargo & Luciano.

O repertório também não foi nada convencional. Tem Roupa Nova – a banda mais subestimada deste país – Calcinha Preta, Wando e também o anátema da crítica especializada: Guilherme Arantes. Não faltou gente dizendo que trata-se de uma suicídio comercial. Balela. É visonarismo dos bons, isso sim. E está faltando gente com visão nesse país.

É chocante constatar que o sexagenário Caetano Veloso seja uma das únicas vozes a afirmar em palestras, congressos e entrevistas que a Banda Calypso é revolucionária, que a nova cena do pagode baiano é riquíssima. Com isso em mente resolvi esse mês reler seu livro Verdade Tropical e acabei por contatar paralelos interessantes entre o cenário musical atual e o do final da década de 60.

Quando Caetano e seus baianos se mobilizaram para criar um movimento que acabou por receber o nome de Tropicália tinham em mente implodir o sectarismo que existia entre a dita MPB séria e engajada, a jovem guarda e a cultura de massas internacional. Se observarmos com atenção, hoje em dia este sectarismo voltou a ocorrer. Esse DVD novo do Nando Reis – por sua pecularidade – e as declações de Caetano – por sua singularidade – são exceções que confirmam a existência de uma regra. Sem medo de errar, afirmo aqui nesta coluna que uma nova Tropicália se faz necessária. Só que com um pequeno desvio de rota.

Ao invés de integrarmos a nossa MPB séria à cultura de massas internacional, devemos integrá-la à cultura de massas interna. Sim, existe uma cultura de massas genuinamente brasileira em plena vitalidade, embora a crítica se recuse a considerá-la como cultura. Igualzinho ao que ocorria nos 60 com relação ao pop americano, era considerado lixo cultural.

Gente! Sertanejo é cultura de massas. Pagode é cultura de massas. Forró é cultura de massas. O nosso Tecnomelody idem. Existe um antagonismo gritante entre esses gêneros e a MPB e tudo o que é considerado de “bom gosto” nesse país.

Não seria bacana se o próprio Caetano se atentasse a isso e fizesse um reload de seu movimento dos anos 60? Para que uma ruptura paradigmática ocorra no senso comum, precisamos de nomes de peso do nosso lado. Estamos entrando nos anos 10, a década da imagem de um Brasil Pop perante o mundo. Amazônia, Pré-Sal, Copa do Mundo, Olimpíadas, as evidências são várias. Todas as atenções estarão voltadas para cá na década que se inicia. E que música pop apresentaremos ao mundo? Essa MPB rançosa que chafurda na herança maldita da bossa nova? Espero que não.

Eu costumo brincar que a Tropicália usava o mote antropogagia para conceitualizar seu movimento e que agora temos que mudar para autopofagia. Expliquei minha teoria para o porteiro do prédio onde eu trabalho. Ele coçou a barba e como é daquelas pessoas que quando se comovem com alguém que tenho um problema sem solução, sempre tentam ajudar, me veio com essa:

- Que tal fazer um Reality Show com essa gente toda? Essa coisa de manifesto, movimento, isso não cola mais hoje em dia com essa moçada que só quer saber de Internet.
- Como é que é?
- Ponha esse povo todo, esses cantores, trancados todos juntos dentro de um estúdio por 90 dias e vê o que eles conseguem fazer.

E não é o que o seu Amaral, mesmo provavelmente não tendo entendido patavinas da minha cantilena sobre Autopofagia e nunca tenha ouvido falar da Semana de Arte Moderna, conseguiu intuir uma parada bacana. Imaginem se um canal de TV abraçe essa ideia e convoquem para um confinamento criativo a Gaby Amarantos, o Maderito, o Waldo, o Chimbinha, o Sorocaba, o Victor Chaves, o Edu Luppo, o Belo...? Seria, no mínimo, interessante, e no máximo, a salvação da MPB

E tudo teria saído da cabeça de um porteiro. Isso não é lindo?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fabio Elias e as voltas que esse mundão véio sem porteira anda dando

Tá vendo esse cara empunhando uma guitarra?



Ele é Fábio Elias, ele era vocalista da banda de rock n´roll mais legal que já existiu em Curitiba, a Relespública. Era um rock inspirado na cena mod londrina do final dos anos 60. A banda inclusive gravou um DVD ao vivo pela MTV. Pois eu falei ERA vococalista da Reles. Pois o cara chutou o balde e virou cantor sertanejo, numa clara demonstração do atual zeitgeist e do quanto esse mundo dá voltas.

Essa semana ele lançou um clipe com a música de trabalho de seu novo disco. Uma vez eu entrevistei ele por MSN sobre sua mudança, sobre o cenário musical brasileiro da atualidade e também algumas futilidades, porque a gente também é gente. Infelizmente, por causa da Macumba de Marcio Victor, tive que formatar meu computador e a entrevista se perdeu.

Apresento pra vocês o clipe em primeira mão. Sai do corpo Muié!!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tributo a Carmem Miranda - o Pós-Tropicalismo Desguiado de Waldo Squash



Na hora em que bati os olhos e li na tela "Tributo a Carmem Miranda" já pensei de cara - Agora é que fudeu tudo! Isso não tem a mínima chance de dar certo, ops! errado. Foram os três minutos de espera para completar o download mais tensos dos últimos vinte e três decênios. Estou falando do link pro 4shared que estava no nick do alquimista parense Waldo Squash, o homem por tras da Gang do Eletro, apresentando o novo silngle da banda.

Ouça AGORA! enquanto prossegue a leitura deste post

Gang do Eletro - Tributo a Carmen Miranda by dafnesampaio2

Ele já tinha marcado um gol de placa com sua versão para o hit "Panamericano", só que dessa vez ele definitivamente se superou. De onde saiu a idéia maluca de criar um eletro melody em cima de músicas de Carmem Miranda provavelmente nunca vai se saber. O que está provado com o resultado que ele alcançou é que esses caras, Waldo o garoto alucinado Maderito estão prontos para os holofotes.

Inclusive recentemente eles foram citados na revista de vanguarda inglesa Wire. E olhe que a música citada foi umas primeiras da Ganga - que é como eles se autoreferem em algumas vinhetas - e considerando-se a evidente evolução constante na qualidade da produção desde então, imaginem se cai nas mãos dos gringos este "Tributo a Carmem Miranda"!

Claro que sem entender o português, um eventual inglês que escute a música vai ficar privado do humor involuntário que a simples escolha do tema possibilitou. Transpareçe na música inteira que Waldo e Maderito devem ter se divertido pacas enquanto recortavam os samples e faziam as colagens e mixagens. Mas a maestria em que o samba arcaico foi costurado com as batidas aceleradas do eletro melody garantem a qualidade internacional do produto final.

Quando apresentei o som a um amigo do MSN ele reclamou - Pow Timpas, foda pra caralho, pena que é tão curta! Eu nem tinha me ligado nisso. São tantas as referencias e nuances que nem tinha reparado que tudo se passa em pouco mais de dois minutos. Me ocorreu a lembrança dos singles do Pink Floyd na época do Syd Barret. Mas aí prensei: Nãã! Aí já é viajar demais...

Ou será que viajar demais não existe no universo da Gang do Eletro? Como dizia Napoleão Bonaparte no Sermão da Montanha:

- Vai saber...

Ps.: O amigo do MSN que falei me furou ozóio e postou um texto sobre a música no blog dele antes de mim com o título Waldo Squash, o fenômeno. Clique e leia

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Swingueira - A psicologia, a política e a economia do pagode baiano

Há de se entender o pagode baiano. Desde os tempos de bunda music do É o Tchan e de muitas descidas na boquinha da garrafa, as coisas mudaram muito. O cantor Xandy não só casou com Carla Peres como, com seu Harmonia do Samba, como acabou por catalizar um salto qualitativo impressionante na modernização do samba de roda do Recôncavo Baiano.


Xanddy à frente do Harmonia do Samba - um divisor de águas no pagode baiano


No começo quase ninguém notou. Parecia apenas um desvio do foco de atenção das bundas das dançarinas para a cintura dos cantores. Só que a transferência da batida da viola para a linhas de contrabaixo fizeram a cabeça de uma geração inteira de músicos e não tardou para que surgissem artistas revolucionários. Dois nomes se destacam nessa categoria, Marcio Victor do Psirico e Edcarlos Conceição, o Ed do Parangolé, depois Eddy do Fantasmão e agora Edcity em carreira solo.

Só que a única coisa que aproxima essas duas pessoas é o fato de dividirem a pecha de gênios revolucionários. Marcio Victor com seu samba fortemente percussivo e Edcity com seu groove arrastado. De resto, um abismo separa os dois. E esse abismo reflete muito as contradições sociais da Bahia em geral e de Salvador em particular.


Marcio Victor, o homem por trás do samba percussivo do Psirico


Na esteira da gravação de seu novo DVD, Psirico apareceu no programa da Xuxa, no Hoje em Dia na Record e em mais uma série de veículos de mídia. Já Edcity, após participar do conceituado festival Percpan - Panorama Percussivo Mundial, que visa mapear o que o planeta Terra anda inovando em termos de batucadas, obteve não apenas repercussão nula, como ainda uma nota negativa no jornal A Tarde.

Desde que Edcity deixou o Parangolé para tocar seu projeto conceitual Fantasmão que passou a ser perseguido, ignorado e muitas vezes sabotado pelo mercado do pagode em Salvador. É incompreensível que nenhum jornalista sério de nenhum veículo de imprensa local nunca tenha levantado a questão: porquê Edcity causa tanto medo no status quo pagodeiro. Em quê ele representa uma ameça?

Qualquer um - até mesmo quem não está habituado a escutar Swingueira (é assim que o pagode baiano é chamado por lá) reconhece que se trata de um som muitíssimo superior ao resto dos artistas do gênero. O Psirico também é muito superior, mas porque tudo para um e nada para o outro.

As coisas começam a fazer mais sentido quando analizamos a personalidade de cada um. Os dois vieram do gueto, só que Edcity ainda carrega o gueto dentro de si, tatuado na alma e expressa o gueto com maestria em suas composições. Já Marcio Victor é um deslumbrado. O sucesso despertou nele uma vaidade que talvez estivesse encubada desde os tempos de gueto. E a manipulação de uma vaidade alimentada por exposição midiática requer que se façam concessões.

Marcio Victor é um cara que faz conceções, já Edcity... bom, esse não capitula nunca.

Mas atribuir à vaidade de Marcio Victor todas as causas das contradições seria, além de uma injustiça - afinal o cara é muito boa gente e é dono de um enorme coração, uma análise muito rasa. Existem mais coisas embaixo deste angú.

Há algo de podre no reino de São Salvador. A capital baiana é mundialmente famosa por ser sede do maior carnaval do mundo. A festa movimenta um bilhão de dólares na economia local entre os meses de outubro e março. Acontece que esse rentável mercado só pode ser construido às custas de uma privatização que foi sendo feita aos poucos apartir da profissionalização dos blocos após a consolidação da axé music nos anos 90.

Como de resto em todo mercado que envolve grandes fortunas, não tardou a se formarem cartéis, redes de corrupção e o encrudescimento de interesses puramente comerciais em detrimento da música, da festa e da alegria, que em tese deveriam ser os fatores a nortearem um carnaval. Aqui já podemos vislumbrar o perigo que Edcity representa para esse sistema, assim como a inofensividade do Psirico.

Um mercado que fatura milhões com porcarias do tipo Rebolation, tem medo que Edcity estoure nacionalmente e revele a todos que não é necessário consumir coisa ruim, que existem produtos de qualidade nas prateleiras do carnaval baiano. Uma mentalidade rasteira, certamente, mas quando as possibilidades em jogo envolvem queda no faturamento, melhor não arriscar.

O pior é que está todo mundo envolvido no esquema. Agências de eventos, artistas, veículos de mídia e formadores de opinião. Qualquer um que se levante contra isso e tente desafinar o coro dos contentes é imediatamente censurado, ignorado e imediatamente excluído do circuito de shows e eventos. Numa terra que ainda lembra do horror da era Antonio Carlos Magalhães todos sentem medo.

Quer dizer, nem todos. Edcity está na luta. Enquanto assistimos o talento de Marcio Victor a serviço das forças do mal, quando lança como música de trabalho para o verão 2010 que com um verso que fala "chupeta na boca e na buchecha", Edcity lança o single "Nossa City" onde implora a Deus que proteja a cidade da tragédia do crack.


Edcity e cantora Aila Menezes, do novo grupo Groove de Saia numa confraternização no backstage


Uma luz de esperança para esse triste quadro revelado nessa matéria também pode ser vista na nova banda Groove de Saia, inédito exemplo de banda de pagode com vocal feminino. A cantora Aila Menezes é jovem, carismática e combativa. Com sua banda ela luta pela autovalorização da mulher, tão denegrida na imensa maioria das letras de pagode, mas sem deixar de ser alegre e dançante.

Edcity e Aila Menezes, o futuro do pagode baiano como força de expressão dentro da música popular brasileira depende muito do impacto que esses dois causarão no carnaval de 2011. Para eles, nenhuma vela acesa terá sido em vão.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quem são as caras do forró?

Um babado forte agitou os bastidores do forró este ano, envolvendo o casal de vocalistas da banda Calcinha Preta. Em plena colheita dos louros do sucesso de "Você não vale nada, mas eu gosto de você", a banda encontrava-se em turnê pelo sul do país, quando - segundo consta na blogosfera marron - o cantor Marlus Viana flagou sua esposa, a também cantora Paulinha Abelha, em plena fornicação com outro homem.


Marlus Viana e sua digníssima esposa Paulinha Bee, ops! Abelha

A traição resultou na saída do cantor, que transferiu-se para a banda Forró GDO. Ocorre que passado pouco tempo os dois se reconciliaram e Paulinha também passou a integrar a GDO. Muita gente ficou sem entender. Tudo não passou de uma encenação, como notícias falsas plantadas na mídia para gerar marqueting para a nova banda? Configura-se o clássico caso de estarmos diante de um corno manso? Ou trata-se novamente do habitual troca-troca de cantores de bandas de forró?

Como este distinto Cabaré ainda não alimenta pretenções de integrar a blogosfera marron, não vamos ficar aqui comentando as infidelidades de Paulinha Abelha. Nem vamos ficar especulando se foi marketing ou não. O mais provável é que tenha sido mesmo mais uma dança da cadeira nos microfones de mais uma banda de forró. É impressionante a frequência com que isso ocorre. É só dar uma zapeada pelos sites de notícias de forró para constatar que mais da metade das notícias é sobre novos cantores ou cantoras.

O que se comenta no meio é que esse trânsito todo se deve a questões salariais, já que quase a totalidade das bandas de forró são propriedade de empresas e os músicos são tratados como meros funcionários. À parte do que a classe trabalhadora possa estar perdendo em termos de renda pessoal, quem perde mesmo com isso é a cena forrozeira como um todo, pois as bandas deixam de possuir uma identidade própria que garantam uma identificação forte com o público.

Fora alguns dinossauros como Mastruz com Leite, Calcinha Preta, Magníficos e Limão com Mel, são pouquíssimas as bandas novas que possuem uma liderança de palco sedimentada na consciência do público.


Batista Lima, vocalista da Limão com Mel, que além de completar 20 anos de carreira, tem uma sorte da desgrama na pescaria.

Por sorte, alguns sinais indicam que este cenário está mudando. O primeiro deles foi a gravação do primeiro DVD decente dos Aviões do Forró em Salvador no último final de semana. Que Xandy Avião e Solange Almeida não sejam figuras reconhecidas por qualquer brasileiro nas ruas - como Joelma e Chimbinha são - é uma das maiores injustiças desse país. Agora com a Som Livre se comprometendo a divulgar a banda, talvez a dupla finalmente conquiste o reconhecimento merecido.

A única coisa a se lamentar no evento foi a infeliz escalação de Dorgival Dantas como participação especial. Nada contra esse talentosíssimo compositor, autor dos maiores hits do forró da última década. A questão é: porquê não chamaram o Forró do Muído para a festa? Simone e Simaria são ícones na acepção do termo. É dar dois cliques nelas que o forrobodó está aberto. E são virtualmente desconhecidas no sul e sudeste. Desperdiçar a oportunidade de apresentá-las ao Brasil é imperdoável.

Outra banda que está conquistando seu espaço graças a um estilo bem particular aliado a figura marcante de seu vocalista é o Arreio de Ouro. Com seu vozeirão rouco e seu forró de vaquejada, o cantor Buscapé é umas das figuras mais folclóricas surgida nos últimos anos. Não se pode dizer que a banda faça um sucesso estrondoso, mas preenche uma lacuna que permanecia vazia a muito tempo, aquela parcela do público que aprecia um forró de raiz.

Por fim temos a estrela em ascenção Wesley Safadão, da banda Garota Safada. Seu mega hit "Tentativas em Vão" foi regravado pelas duplas Bruno & Marrone e Maria Cecilia & Rodolfo, o que pode catalizar o sucesso nacional da banda. Se a estratégia da Som Livre com os Aviões der certo, a Garota Safada tem tudo pra pegar carona nesse bonde.


Wesley Safadão, proprietário da bunda mais cobiçada entre as menininhas fãs de forró

Faz anos que o forró tenta sair do nicho Norte/Nordeste. Para ocorrer, basta os empresários darem um tratamento mais artístico e menos empresarial. Claro que o sul ainda associa muito o ritmo às correntes migratórias da população pobre nordestina, mas o fato de que um estado como o Rio Grande do Sul possuir várias boates forrozeiras, é um sinal de que esta percepção está mudando.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Especial Dia das Crianças

E nesse 12 de outubro, o Cabaré do Timpin comemora o Dia dos Pentelhos apresentando algumas das músicas prediletas dos filhotes do cafetão do estabelecimento.

Para começar, o primeiro áudio disponibilizado para audição da história deste blog: Gang do Eletro & Banda Eletrohits com o sensacional single "Joãozinho e Mariazinha"!!!





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Agora uma notícia: estreou ontem o Clubinho da Maria Cecília & Rodolfo. Lá tem karaoke, um joguinho onde a criança pode vestir a dupla e também um teste pra saber se o internautinha sabe as letras das músicas. Confiram clicando no link!

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Agora um vídeo. A música da menininha é uma das mais tradicionais do Forró do Muído. Simone consegue imitar a voz de uma criançinha tão bem que se um dia a banda acabar, sem dúvidas ela tem emprego garantido como dubladora de desenho animado. Não entendo como a A3 entretenimentos (empresa dona da banda) ainda não fez um clipe decente dessa música.



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E pra finalizar, um clipe feito por fãs da banda mais subestimada do Brasil, o sempre genial Bonde do Maluco com a obra prima "Barata". Boa diversão!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tom Black - Do que a Bahia tem vergonha?

O Cantor baiano Tom Black perdeu a final do Ídolos. Mas o que quase ninguém sabe é que quem perdeu mesmo, na verdade, foi um ritmo musical extremamente popular no interior da Bahia e nas periferias das principais capitais do litoral do nordeste: o arrocha.



Na seção Biografia do site oficial do cantor, consta que ele construiu sua carreira tocando soul music nos barzinhos de Salvador. Achei muito estranho. Explico. Sou fã do trabalho de Tom black, mas não foi em barzinho que conheci seu trabalho, mas sim através da comunidade do Orkut Acervo Arrocha. Tom Black era cantor de arrocha.

Não bastasse a omissão deste dado em seu site, o cantor simplesmente nunca se referiu ao arrocha no programa da Record. Porquê isso? Por vergonha? Tá certo que seus arrochas tinham uma forte pegada de soul music - tanto que ele usava o jargão "groove" em suas vinhetas - e era justamente essa mistura que fazia com que eu gostasse de seus discos. Mas mesmo assim eram discos de arrocha.

O arrocha ainda é um gênero muito marginalizado e essa oportunidade perdida de chamar os holofotes para si, foi um fato lamentável em sua história. Mas não foi a primeira. O arrocha já teve outros momentos em que tinha tudo para chamar a atenção da mídia, o que infelizmente não ocorreu.

O primeiro foi a estréia do Bonde do Maluco. A originalidade dos arranjos, a qualidade instrumental, o carisma de seus cantores, a presença de palco nas performances ao vivo aliadas à quantidade absurda de hits do disco - isso para me ater apenas a essas poucas características, existem bem mais - tudo isso seria mais do que suficiente para que a obra fosse aclamada como a mais nova obra prima da música baiana.



Só que não foi assim que as coisas aconterceram. Não só Bonde do Maluco não causou o frisson que deveria ter causado na mídia, como teve suas estréia prejudicada apropriação eticamente duvidosa de suas músicas por parte de uma das maiores bandas de forró da atualidade. Foram tantas as músicas copiadas que numa determidada época os CDs promocionais da banda cearense bem que podia levar o título "Aviões do Forró cantam: Bonde do Maluco".

Sem sombra de dúvidas, para qualquer pessoa com um mínimo senso de justiça foi um escândalo. Só que a imprensa baiana ignorou isso e o Bonde até hoje tem que escutar pessoas dizendo que são eles que fazem covers dos Aviões. Porque a imprensa baiana não defendeu o Bonde do Maluco como deveria? Por vergonha? Por achar que o arrocha é uma música pobre, produzida e consumida por uma população pobre que ela gostaria que não existisse.

O axé hoje em dia rende milhões de Reais em lucros nos carnavais. Se os Aviões copiasse a maioria do repertória de uma banda de axé nova e promissora, a mídia silenciaria como fez com o Bonde? É de se duvidar.

Outra oportunidade perdida pelo arrocha também envolve o Bonde do Maluco. Foi no último Festival de Verão de Salvador. O evento contou com a presença do cantor americano Akon. O maior hit do disco de estréia do Bonde era justamente uma versão em português da música "Don´t Matter" do Akon. Ao saber disso, o americano fez questão de cantar a versão no show.



Colocar Dan Ventura do Bonde do Maluco e Akon no mesmo palco, seria um acontecimento único na história brasileira. Seria a prova dos nove quanto a quem rebola mais. E até mesmo, se permitido fosse que o Bonde tocasse a música com a sua batida e seu suíngue, um teste pra saber quem tem mais groove, o R&B do americanos ou a pisadinha dos brasileiros. Qualquer empresário visionário faria isso.

Mas não foi o que fizeram. O que os empresários do Festival fizeram foi chamar Claudia Leite. Por MSN Dan Ventura fez piada comigo dizendo que a banda não pode ir pro Fesstival de Verão porque tinha que fazer um show no interior do Piauí. A verdade é que nem telefonaram pra saber se banda podia participar.

Hoje em dia o axé gera uma lucratividade de milhões, um forte argumento para que se engula a vergonha. O pagode baiano ainda é um pouco marginalizado, mas o sucesso da "Rebolation" aponta para uma mudança no rumo do vento, mas o arrocha, esse continua sendo a vergonha velada da Bahia.

Tom Black renegou seu passado no arrocha, isso é claro. O que talvez não seja claro pra ele é que quem perdeu uma oportunidade de se destacar fazendo algo diferente foi ele. Ao contrario do que pensa o senso comum intelectual baiano, o arrocha não é um ritmo carente de qualidade. O Bonde do Maluco está aí pra confirmar isso. Apenas é um ritmo em que pouca gente arrisca na qualificação.

E Tom Black estava com a faca e o queijo na mão para conseguir isso. Seus discos eram calcados no romantismo do novo pagode paulista, com um vocal fortemente influenciado pela soul music, algo diferente e empolgante. Bastava a busca por uma batida perfeita, que acentuasse seu groove e casasse melhor com seus metais e estaríamos diante de algo muito bom.

Mas não. Tom Black se envergonha de seu passado de animador de serestas. Prefere inventar um passado fake de cantor de barzinhos.

Isso sim é uma vergonha.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sertanejo Pop

Pessoal, meu post de hoje foi uma contribuição para o site Blognejo, um dos melhores sites de música sertaneja da Internet brasileira. Confiram clicando aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Jorge & Mateus consagram o Sertanejo Pop



Fazia um tempão que não escutava um disco tão perfeito. O lançamento promete ser um divisor de águas no segmento sertanejo. Morre o Universitário e nasce o Sertanejo Pop, uma cena que já começa a crescer e inclui nomes como João Bosco & Vinicius, Luan Santana. Michél Teló, todas as produções do Sorocaba - incluindo a dupla Fernando & Sorocaba - e agora Jorge & Mateus.

Eu iria escrever sobre o disco aí já era, mas o Marcus do Blognejo publicou hoje uma resenha completíssima, que apresentarei pra vocês aqui.

Leiam> Jorge & Mateus no Blognejo

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fugidinha - A música do ano

A música brasileira, por sua rica diversidade e pelo instinto antropofágico do povo que a produz, costuma nos brindar com agradáveis surpresas. A bola da vez é o hit Fugidinha, cantada por Michel Teló, ex-vocalista da banda sul-matogrossense Tradição. Muito mais do que um sucesso nacional, a música é praticamente um dos maiores acontecimentos culturais da história recente.



A idéia a principio apontava para um resultado indigesto: um cantor sertanejo gravar uma balada composta para ser gravada por um grupo de pagode. No entanto, o talento do produtor Dudu Borges - o homem por trás do sucesso de nomes como João Bosco & Vinicius ou Jorge & Mateus e o artesão mór do sertanejo pop - fez toda a diferença. Nada de pagode vanerado ou vanera apagodada, Dudu concebeu o arranjo mantendo a extrutura padrão de ambos os gêneros, com um resultado inédito.

Mas não são os aspectos técnicos que tornam a música Fugidinha tão especial e sim o fato de que ela faz a ponte entre os dois gêneros musicais mais ouvidos pelo povo na atualidade. Basta conferir as listas de execução em rádios de todo o país, de Belém a Porto Alegre. Só que existe uma diferença fundamental entre os dois gêneros: a maneira como são percebidos pela mídia e pela crítica cultural.


O produtor Dudu Borges

A música sertaneja, graças a imensa popularidade obtida pela modernização empreendida pela chamada geração universitária, livrou-se do rótulo pejorativo de breganejo e hoje até já flerta com a MPB, como se pode conferir pelo trabalho recente da dupla Victor & Leo. Inclusive para o disco que está por ser lançado, Victor compôs uma música em parceria com Sergio Reis e Renato Texeira. Mas o ponto principal é que o sertanejo passou a ser consumido por uma juventude que não sente mais vergonha assumir isso.

Com o pagode o mesmo não ocorre. Praticamente não se vê músicas desse gênero em trilha sonora de novela. O pagode ainda é vítima de um preconceito fortíssimo. Tanto é que no verbete sobre samba na Wikipédia encontra-se uma decrição nada imparcial para seu surgimento, no inicio dos anos 90. "A indústria fonográfica, já amplamente orientada para a globalização pop, usurpou o termo pagode, batizando com ele uma forma diferente de fazer samba que guardava poucos elementos com o samba inovador da década anterior, massificando-o de forma enganosa"

Por "pagode inovador da década anterior" entenda-se a geração de Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, que estão aí até hoje, fazendo o mesmo som sem um pingo de renovação. Aqui nos deparamos com aquela tecla que já está gasta, de tanto que eu bato. A mentalidade tacanha de uma elite cultural proviciana que despreza a arte popular e que aguarda ansiosamente que esse mesmo deixe de praticá-la, torne-se uma peça de museu para assim apreciá-la em suas estantes de luxo.


O pagodeiro Rodriguinho

Negar a qualidade de produção recente das bandas de pagode é produzir material para um ensaio sobre a cegueira. O disco Ao Vivo na Ilha da Magia é um dos clássicos do cânone do samba e foi o disco mais escutado nos últimos dois anos no Brasil. O recente lançamento do Jeito Moleque, intitulado Cinco Elementos é de uma vanguarda absurda, com arranjos sofisticadíssimos. Já Rodriguinho, em seu novo trabalho, resgata a black music dos anos 70 não ficando nem um pouco atrás dos hoje cultuados discos de Cassiano e Hyldon. Os exemplos são inúmeros e por limitação de espaço vou citar apenas estes.

Nesse ponto volto a ressaltar a importância da "Fugidinha" de Michel Teló, composta por Thiaguinho e Rodriguinho e que será regravada no novo DVD do Exaltasamba. Que ela sirva como holofote que permita lançar um feixe de luz sobre o pagode e que permita um novo olhar, despido de preconceito e muito mais atento. A Musica Popular Brasileira encontra-se a anos em um estado de catatonia criativa em que nada de relevante e empolgante nos chega ao ouvido. Procura-se saídas importando referencias externas como o hip hop e a música eletrônica.

A saída, no entanto pode estar aqui meses, debaixo de nossos narizes. O Victor já está interagindo com Renato Texeira, que tal o Rodriguinho dividir uma roda de samba com Paulinho da Viola?

domingo, 3 de outubro de 2010

Movimento Fora Dagmar (fãs de Luan Santana querem a demissão de sua assessora de imprensa)



Mais de três mil fãs de Luan Santana aderiram a Campanha Fora Dagmar. Praticamente 10% da comunidade do cantor no Orkut. No Twitter o assunto bombou, através da Tag #ForaDagmar. Enquanto o assunto era discutido no tópico [notícias] da comunidade, um membro questionou se uma Tag poderia derrubar uma assessora de imprensa. É uma questão interessante.

Caso os fãs consigam derrubar a assessora de imprensa de Luan Santana, um novo precedente na história da música pop será aberto. Demonstraria não só o poder das redes sociais, como o surgimento de uma nova maneira de um astro se relacionar com sua rede de fãs. No caso específico de Luan Santana, caso a produção do cantor atendesse a esse anseio de seus fãs, seria uma atitude extremamente inteligente, pois foram os fãs que fizeram com que ele atingisse todo o sussesso que tem hoje.

Por mais que na época em que Sorocaba gerenciava a carreira de Luan CDs eram distribuídos gratuitamente nos shows, foi o boca-a-boca na Internet que fez que quando Luan se apresentasse no Faustão, a platéia inteira soubesse cantar suas músicas de cór.

Hoje em dia com as redes sociais os fãs clubes adquiriram um poder muito grande. Antigamente, quando a produção de algum artista destratava algum fã, dificilmente o fato chegava ao conhecimento do resto dos fãs. Agora não, no outro dia todo mundo estava sabendo.

Ano passado a produção da dupla Victor & Leo estava fazendo algumas coisas erradas, os fãs se mobilizaram e este texto que pode ser lido clicando aqui, fez com que suas atitudes fossem modificadas.

A quantidade de manifestações a favor do Movimento fora Dagmar é um claro sinal de que a assessora de imprensa de Luan Santana está sim prejudicando a imagem do cantor. Os depoimentos de fãs do KLB e do Jeito Moleque, bandas que ela também assessorou e também prejudicou, só vêm comprovar a incompetência de Dagmar Alba.

Por isso repito, a demissão da assessora por parte dos produtores e empresário de Luan Santana não só é necessária. Seria a maior prova de respeito aos fãs na história da musica brasileira.

Acorda Luan Santana!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Acorda Luan Santana! Manifesto pela emergência do movimento FORA DAGMAR!



Dagmar Alba. Anotem esse nome. Esta criatura certamente entrará para a história da musica brasileira. E por diversos méritos. Mas antes de listá-los, vamos fazer um breve resumo biográfico da figura.

O KLB era uma banda com um investimento milionário, alta exposição na mídia, uma banda-família extremamente carismática e com um vocalista bonito e talentoso, com milhares de fãs adolescentes. Dagmar Alba conseguiu destruir a carreira da banda.

Graças as qualidades profissionais de suas costas quentes, conseguiu ser indicada para assessorar uma emergente banda de pagode, o Jeito Moleque.

Na época os caras tiveram uma idéia genial: compensar com o plantio de árvores o gás carbono emitido em seus shows, assim como reciclar todo o lixo produzido em suas apresentações. Projetos semelhantes a esses só se encontram no primeiro mundo, em bandas como Radiohead e Pearl Jam. Pois os caras gravaram um DVD em Manaus pra consagrar seu projeto ambiental e advinhem. Ninguém ficou sabendo. A repercussão na mídia foi NULA.

A produção do Jeito Moleque, naturalmente, recindiu o contrato da assessora. O contrato era de trabalho temporário. Insultada - e talvez até mesmo surpresa - pelo fato de que o talento profissional de suas costas quentes tivesse sido tão aviltosamente posto em cheque, colocou os pagodeiros no que ela julgou ser o seu devido lugar, na Justiça Trabalhista.

Mas a estrela de Dagmar Alba não é de pouca magnitude. O talento profissional de suas costas quentes não se deu por rogado e lhe conseguiu uma indicação para assessorar outro talento emergente. O futuro ídolo teen sertanejo que até a cadela da minha vizinha sabia que tinha 110% de chances de estourar, Luan Santana.

Quando Luan caiu nos braços de Dagmar, estava em plena ascensão, oriundo de uma ótima produção e gerenciamento de carreira do escritório do cantor Sorocaba, que faz dupla com Fernando e com um ótimo DVD gravado em Campo Grande, que seria divulgado pela Som Livre. Um trabalho que não tinha como dar errado. Certo? Errado!

No começo tudo parecia estar indo bem. Luan Santana na Hebe Camargo, no Raul Gil, no Faustão, no Fantástico, na Malhação e por fim no coração de mais de 300.000 seguidores no Twitter. Aí os problemas começaram a aparecer. Fãs sendo impedidas de entrar no camarim e ainda sendo tratadas com violência pelos seguranças. Jornalistas sendo distratados - um inclusive um teve seu microfone jogado no chão pela própria Dagmar. Micos em programas de rádio. Veículos de mídia sendo desprezados. Blogueiros de destaque sendo desprezados. Mas o pior, a cereja do bolo embatumado de Dagmar Alba. O fracasso em encerrar o debate em torno da sexualidade de Luan Santana.

Já se passou um ano e a expeculação não acaba. Mancadas extratégicas pantagruélicas foram cometidas no processo. O plantio na mídia de fotos com uma falsa namorada. Presença no multishow com uma monera acompanhante fake. Pose de cachorro que muito late e pouco morde no domingão do Faustão. Minha vovó já dizia: muito mel, pode ser fique doce demais. E é justamente o que está ocorrendo.

Todo esse falatório de Luan Santana na mídia, se reafirmando constantemente um machão galinha e traçador de fãs, está arruinando sua imagem e sua reputação. Se considerarmos aquele jovem cantor, competente e carismático, que gravou seu DVD para uma platéia de mais de 70.000 pessoas, nunca se imaginaria que em um ano enfrentaria problemas de imagem. Pois é meus queridos leitores, Dagmar Alba consegue. Dagmar Alba tem o poder.

Estou falando tudo isso porque Luan Santana não mereçe tamanho infortúnio. Nem Luan, nem sua legião de fãs e muito menos a música brasileira em si. Luan Santana é de extrema importância para a música brasileira. Luan Santana é o futuro, ele representa a salvação da música pop nesse país. Por mais que seu som tenha sido concebido por Sorocaba, é Luan Santana o ícone que representa um novo tempo. Um tempo em que a música sertaneja evoluiu para se tornar o novo ritmo consumido pela juventude. Um ritmo que, ao contrário do rock, é genuínamente nacional e com potencial de exportação.

Que uma única pessoa - e ainda por cima com um nome esquisito desses: Dagmar Alba - atrapalhe isso, é algo inadmissível. Uma campanha, movido pelos inumeráveis fãs clubes que o cantor tem pelo Brasil afora, é de extrema urgência. Fora Dagmar! Esse é o grito de guerra que toda a família Luan Santana deve fazer. No Orkut, no Twitter, no Facebook, em todas as redes sociais possíveis e imagináveis.

Arruinar a carreira de Luan Santana. Esse mérito Dagmar não pode acrescentar ao seu imenso currículo de patuscadas.

Por fim, e também para que isso tudo não soe trágico demais, na semana passada algo cômico se passou nos corredores de um hotel de Belém do Pará. Um cantor de um anacronismo crasso, totalmente soterrado nas areias do esquecimento, o lambadeiro Beto Barbosa, deu um chute em Dagmar Alba. Não foi de uma eficiência desejável, acertou apenas o braço dela, mas materializou o desejo de muita gente desse país.

Agora só falta Luan Santana chutar ela. Mas não no braço e sim na bunda. Atenção Família Luan Santana. Uní-vos! Twitter Now!! Fora Dagmar!!!

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Para acompanhar o decorrer da campanha FORA DAGMAR! sigam este blog no Twitter

Parece que o Luan já está meio que perdendo a paciência com a Dagmar, vejam este divertido vídeo:

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Luan Santana virou álbum de figurinhas (enquanto Dagmar Alba quer deixar de ser figurante)



Pode ir conferir nas bancas. figurinhas, adesivinhos e o cacete de asas. Nunca, na história da música sertaneja, um artista atingiu tamanha proporção de sucesso. E nunca, na história da música brasileira, um artista foi tão mal assessorado. Dagmar Alba, a assessora de imprensa do gurizinho, de tantas cacas que faz e de tantas aparições na mídia que está conseguindo atualmente, está precisando de uma assessora de imprensa.

O Blognejo - principal site de musica sertaneja do Brasil - Está com esse tema no post de hoje. Não deixem de conferir, o título (e o link) é 5 erros de Luan Santana.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Conflito de gerações na musica sertaneja & O desabafo de Victor Chaves

Pessoal, apresento pra vcs mais uma coluna minha que foi publicada no jornal Liberal. Essa saiu na semana retrasada. Após o texto, vou fazer um PS.: com algumas considerações que faz horas que eu queria fazer acerca de Victor & Leo.

Conflito de gerações na musica sertaneja

O prêmio Multishow deste ano incluiu a categoria música sertaneja. Os vencedores foram os dois maiores nomes do segmento na atualidade: Luan Santana e Victor & Leo, como revelação e artistas do ano, respectivamente. A premiação foi o reconhecimento da nova geração da música sertaneja, os chamados universitários – rótulo que muitos rejeitam.

O resultado não causou muita surpresa entre o público, afinal de contas o disco Borboletas de Victor & Leo desde que foi lançado figura entre os mais vendidos e Luan Santana tornou-se um astro que arrasta multidões de adolescentes histéricas que lotam seus shows e é figurinha fácil em diversos programas de televisão.

Entre os alguns artistas sertanejos no entanto, o resultado não foi muito bem recebido. Luciano, que faz dupla com Zezé di Camargo, fez uma crítica dura em seu Twitter, reclamando que apesar da premiação se dizer baseada em votação popular, no final quem escolhe os premiados é a produção do evento. Já o cantor Eduardo Costa praticamente surtou no seu microblog. Soltou uma série de mensagens – algumas francamente ofensivas – contra os novatos sertanejos.

Numa delas afirmou textualmente que sertanejo de verdade “...tem que ter raiz, tem ter tocado uma vaca, tirado um leite, tem que saber a lua certa pra se plantar”. Em outra, destila seu veneno caipira afirmando que “...vou dizer, música sertaneja e muito mais que um premiozinho ou noticiazinhas idiotas por ai, aprende primeiro…”

Não é de hoje que existe um certo conflito de gerações na área. Diante de uma pergunta provocativa durante uma entrevista, Luciano já tinha dito que se esse povo se diz universitário, eles – no caso sua dupla com Zezé – poderiam se considerar doutores.

O que o ocorre é que com os novos tempos houve uma significativa mudança na dinâmica da coisa toda. Com a queda brusca na venda de discos, os artistas passaram a sobreviver basicamente de shows. Até as gravadoras se adpataram e passaram para o terreno de gerenciamento de carreiras. O artista arca com os custos das gravações e elas trabalham a divulgação e embolsam um valor percentual da arrecedação das bilheterias.

Num cenário assim, quem dita as tendências acaba sendo o público dos shows, composto essencialmente por jovens. Daí o gosto por músicas mais agitadas, dançantes e com letras que retratam menos desilusões amorosas e mais situações do cotiano da juventude. Esse poder decisão sobre que músicas entrarão no repertório e quais artistas se destacarão é amplificado pelo fato de que as rádios perderam status de ditadoras de tendências.

Por sorte, o choque de gerações não é regra. A dupla mais antiga ainda em atividade, Chitãozinho & Chororó, na gravação do DVD em comemoração de seus 40 anos de carreira, convidou vários artistas da nova geração, de Luan Santana a João Bosco & Vinicius. Já o cantor Leonardo fundou recentemente uma editora para ajudar novos artistas a buscarem seu lugar ao sol.

Os cães ladram, mas a caravana premiada pelo Multushow não pára. Tanto Luan Santana quanto Victor & Leo merecem colocar em sua estante os troféus que ganharam. Até porquê eles são significativos representantes de um último aspecto dos novos tempos que eu gostaria de abordar aqui.

Luan Santana preenche um vácuo criado pela ausência de lançamentos relevantes na área do pop rock, daí sua aceitação imediatada junto ao público adolescente, enquanto Victor & Leo preenche o vácuo criativo da MPB. O que explica a presença da música “Anunciação” de Alceu Valência em seu disco mais recente, assim como o dueto com Alcione em “Deus e eu no sertão”.

No mês de Setembro a cidade de Belém terá a oportunidade de conferir o show dos dois vencedores do Multishow 2010, no dia 16 Luan se apresentará no Cidade Folia e logo depois, no dia 24, teremos Victor & Léo no Hangar. Pelo visto, o orçamento mensal de muita gente estará comprometido.

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Post Scriptum de um Timpin deveras insistente em bater em uma mesma tecla

Victor & Leo ganharam o prêmio Multishow na categoria de música sertaneja. Ponto. Muita gene alegou que não foi justo, que o ano em que eles bombaram foi o passado e não esse, que o disco Ao Vivo e Em Cores foi um fracasso comercial e mais um monte de coisa. Não vou discutir isso aqui. O que quero discutir foi o discurso de Victor ao receber o troféu.

Ele falou que quem estava ganhando na verdade era a música brasileira como um todo, que está aos poucos aceitando o sertanejo moderno como manifestação cultural digna de ser considerada parte da chamada Musica Popular Brasileira. Ele não usou essas exatas palavras, mas ao citar o antigo e pejorativo rótulo de breganejo, o argumento que falei ficou implícito.

A verdade é que isso de fato ainda está longe de acontecer. Apesar de Victor ultimamente andar compondo músicas em parceria com Renato Teixeira e Sergio Reias (esses sim, que tocam modas antigas, são considerados "MPB"), a dupla Victor & Leo são exceção e não regra.

Que a música sertaneja irá conseguir se impôr como "cultura" entre a classe "bem pensante" desse país é só uma questão de tempo. O delay será de no máximo uma geração, provavelmente menos, como se pode observar pelo a inclusão a fórceps de Luan Santana na grande midia.

De minha parte, aguardo esse grande evento com uma impaciência que já atinge as raias da impaciência. E não falo só do sertanejo. Falo do Axé, do forró, da vanera, do funk, do tcnomelody, do arrocha, do pagode paulista, do pagode baiano e mais uma cacetada de manifestações culturais desprezadas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Gang do Eletro, a banda mais internacional do Pará

Matéria publicada hoje (28/09/2010) no jornal O Liberal, do estado do Pará

Alguns encontros costumam mudar o rumo da história. Na Londres do começo dos anos 60 Keith Richards estava em um trem quando os discos que carregava debaixo do braço chamaram a atenção de um outro rapaz que viajava junto. O rapaz se chamava Mick Jagger, que puxou assunto e a conversa virou amizade e a amizade virou os Rolling Stones.

No final de 2008, num restaurante perto do terminal de ônibus do São Bráz, na periferia de Belém, dois rapazes com gosto musical semelhante partilhavam uma carne assada e o almoço virou amizade e a amizade virou a banda Gang do Eletro, umas das mais originais e promissoras bandas surgidas do cenário do Tecnomelody paraense.



O nome dos ingleses dos Stones são de conhecimento público no mundo inteiro, já os paraenses ainda são pouco conhecidos fora do circuito do tecnomelody, mas tem tudo para conquistarem seu lugar ao sol. Estamos falando do DJ Waldo Squash e do cantor Marcos Maderito.

Maderito já cantava melodys desde 2002, depois de ralar pesado como roadie da banda Açaí Machine, do seu tio Tony Brasil e debutar como backing vocal da Banda Bundas. Através de parcerias com DJs como Betinho Isabelense e Rafael Teletubies, dentre outros, Maderito foi afinando seu talento como compositor usando o mote de Garoto Alucinado, até em em 2007 teve o insight que o distinguiria dentre as centenas de artistas de tecnomelody. Acelerar as batidas, inserir elementos da eletro-dance européia e samples de techno, inaugurando assim uma nova vertente da música eletrônica paraense, o Eletro Melody.

A aceitação por parte do público que frequenta as aparelhagens foi imediata. A música "Galera da Laje" foi um dos maiores sucessos do verão de 2008. Mas foi após o encontro com Waldo Squash e a criação da Gang do Eletro que as coisas realmente começaram a dar certo.

Waldo é um daqueles típicos casos de self-made man, um autodidata que começou a discotecar muito cedo, com os equipamentos de som de seu pai, aprendendo aos poucos as técnicas de compasso musical, harmonia e tempos de mixagem. Mesmo sem curso de computação, foi se familiarizando com softwares como Sound Forge e Vegas até chegar ao ponto de poder colocar em prática suas idéias de melodias.

Seu talento acabou por levá-lo a trabalhar como locutor e produtor de algumas rádios FM do interior do Pará. E foi quando trabalhava na rádio Sorriso FM de São Miguel do Guamá que teve a idéia de adaptar o flashback "Don Pichote" para a aparelhagem Super Pop. O resultado foi a música "Super Pop é curtição" que estourou no estado inteiro e chegou aos ouvidos de Marcelo Maderito, que gostou tanto que primeiro propôs a carne assada no São Braz e depois a criação da Gang do Eletro.

A parceria dos dois comprova a tese de que o todo é maior que a soma das partes. O talento de Maderito para inventar rimas em ritmo industrial e o fantástico senso intuitivo de Waldo Squah ao caçar referências sonoras na Internet faz da Gang do Eletro uma banda internacional. Suas músicas podem perfeitamente serem tocadas numa boate de Nova York ou nas raves da praia de Ibiza, na Espanha.

No ano passado a Gang emplacou o sucesso "Eletro da Indiana", mas foi em 2010 que a banda deu salto qualitativo impressionante ao inserir samples de Cúmbia Villera argentina em seu som. O golpe de mestre que elevou a banda ao patamar da genialidade reside no fato da Cúmbia Villera ser justamente a música produzida nas periferias pobres de Buenos Aires. Qualquer semelhança com o tecnomelody não é uma mera coinscidência.

Esse link cultural pode ser ouvido em singles como "Arrazadora Sanfona Mix", "Tecnocúmbia Colombiana", "Galera da Barca" e até mesmo em seu mais recente sucesso "Panamericano", uma divertida versão do sucesso que toca sem parar nas baladas eletrônicas do mundo iteiro.

A Gang do Eletro, por mais impressionante que isso seja, ainda não tem empresário. Para contratar os caras para alucinar uma festa, tem que falar diretamente com os rapazes. O Maderito através do 8144 7575 e o Waldo do 8853 9364. Os dois também são costumazes ratos de Internet e são facilmente encontrados on line nos MSNs maderitolucinado@hotmail.com e djwaldosquash@hotmail.com. Mas já vou avisando, o Maderito tecla pra cacete e vai torrar seu precioso tempo on line se você adicionar o figura.

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Abaixo um scan parcial da publicação. Estou orgulhozão de ter conseguido colocar os caras no Liberal, afinal de contas é o maior jornal do estado do Pará.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Expulsaram Marcus Blognejo do backstage de Luan Santana

Marcus, o homem por trás do Blognejo, foi expulso do camarim de Luan Santana, após um show do astro na cidade de Uberlândia. Antes de qualquer coisa, ao se analizar a atitude dos assessores de imprensa tanto do evento, quanto do cantor, deve-se levar em conta quem é Marcus e o que o Blognejo representa não só para o segmento da música sertaneja, mas para a música popular brasileira como um todo.

Marcus é um pioneiro. Ele foi o primeiro a ter a compreensão de que os ritmos populares - no caso dele, a música sertaneja - estavam carentes de uma cobertura decente e de uma crítica séria. Ao se pesquisar na Internet à procura de notícias e reportagens, só se encontrava releases e muito amadorismo. Quando não o mais puro jabá.

Motivado por essa percepção começou seu blog, na época ainda no portal NoEmbalo. A recepção foi tão positiva, que logo os acessos se multiplicaram e mais pessoas resolveram seguir o exemplo, como o caso de André Piunti - que acabou se formando em jornalismo e sendo contratado pelo UOL - e Fábio Dorneles, que tocava o finado Território Sertanejo e atualmente vive um momento sabático em sua vida.

Hoje Marcus tem seu próprio site, o Blognejo, que recebe milhares de visitas diárias e é lido com atenção não só por ouvintes de música sertaneja, como por cantores, músicos e produtores. E falo de gente grande.

Uma vez apresentado o trabalho do rapaz, passamos a expôr o quanto a expulsão do camarim de Luan Santana é particularmente algo lamantável.

Quem acompanha a história do rapaz de Campo Grande sabe que o sucesso que ele conseguiu na atualidade não foi uma coisa que ocorreu da noite pro dia. Luan Santana não foi um produto fabricado pela mídia. Luan Santana é um produto da Internet. Foi no boca a boca virtual que aquele disquinho produzido pelo Sorocaba foi sendo escutado, fazendo que os shows fossem mais frequentes e mais lotados. E nesse boca a boca o Blognejo teve um papel crucial.

Muita gente, mas muita gente mesmo, ouviu falar pela primeira vez de Luan Santana no Blognejo. Que a assessoria do cantor deveria dar prioridade de atendimento ao Marcus é uma questão de justiça. De ética, até mesmo.

Mas ocorre que Luan Santana foi "devorado pelo monstro" ao fechar acordo com a Som Livre. O controle sobre sua carreira saiu de suas mãos e passou para as mãos nem sempre eficientes de produtores e assessorias. No caso expecífico de Luan Santana a escolha da assessoria foi particularmente infeliz.

A assessora de imprensa Dagmar Alba - e nos bastidores todos sabem disso - não foi indicada por sua competências, mas sim por apadrinhamento, numa operação típica dos corredores de Brasília.

Em seu emprego anterior assessorava a banda de pagode Jeito Moleque. Em 2005 a banda criou um projeto ecológico fantástico, nos moldes do que o Radiohead e Pearl Jam faz, a compensação das emissões de carbono produzidas nos shows através do plantio de árvores. O DVD gravado em Manaus foi feito assim e graças a total incompetência da assessora, a repercussão na mídia foi nula.

O fracasso lhe custou o emprego. E a demissão custou ao Jeito Moleque um processo na justiça trabalhista.

Recentemente a assessoria - muito provavelmente por parte de Dagmar - afirmou que a recusa de Luan em aceitar gravar a música que faria parte da abertura da próxima novela das seis da Rede Globo se deve ao fato de que o público daquela novela não ser o seu.

Quando fui escalado para editar uma revista pôster do Luan pela editora Tambor Digital, ela me disse que não poderia me ajudar, pois tinha fechado acordo de exclusividade com outra revista. Um cantor limitando sua aparição na mídia? Exclusividade com apenas um véiculos? Não fazia - e não faz! - nenhum sentido. Um mês depois estava lá nas bancas: Luan Santana na capa da Billboard. O que isso impediu que ela me ajudasse na revista pôster é algo que nem Freud explica.

Mas provavelmente a maior prova da incopetência de Dagmar Alba seja o fato de que mesmo após um ano de trabalho intenso, ainda não conseguiu calar as especulação sobre a sexualidade de Luan Santana. Luan Santana é gay? Essa pergunta não quer calar. Ao invés de simplesmente ignorar a questão e ganhar pelo cansaço, Dagmar teve a infeliz idéia de insistir na imagem de pegador.

Em uma gravação para o programa do Faustão que ainda não foi ao ar, Luan Santana afirmou que transa com fãs antes, depois e inclusive durante os shows. Pelo que eu saiba, nem o Mick Jagger faz isso. Na Internet a repercussão foi negativíssima.

O que a Dagmar tem talento mesmo é gerenciamento de backstage. Definir quem entra e quem não entra no camarim. Qual fã clube tem moral e qual não tem. Essas coisas. Em outras palavras: tráfico de influência.

Talvez ela esteja metendo os pés pelas mãos justamente para ganhar a conta e depois colocar a Globo na justiça.

Talvez.

O que é certo é que o potencial artístico de Luan Santana não pode ser posto em cheque por incompetência de assessorias de imprensa. E também é certo que pessoas como o Marcão, que com o mérito de seu trabalho competente, não podem ser tratadas com desrespeito e esnobismo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tecnomelody: Arte ou Crime Ambiental? - Debate entre Timpin e Rejane Bastos

Segue aqui o debate em torno do Tecnomelody do Pará. Legítima manifestação cultural e artística ou pretexto para a baderna e ultrapassagem dos limites do bom senso. Desta vez a palavra é da advogada Rejane Bastos, presidente da Associação Amigos do Silêncio.



Para quem quiser acompanhar a discussão desde o começo, aqui está a parte um, a parte dois e a parte três. Esta é a quarta.

Com a palavra, Rejane Bastos.

Olá Timpas,

Acabo de inventar o instituto jurídico "quatréplica" para dar seguimento ao debate.

Agora sim, sem alfinetadas desnecessárias, vamos para o salutar campo dos argumentos.

Comecemos pela discussão sobre classes. Estas existem desde que o mundo é mundo, é fato inconteste, e até hoje não se pode afirmar com precisão o porque desse fenômeno. Até no mais puro comunismo existiam classes: A Dominante ( com subdivisões hierárquicas dentro dela) e o proletariado. Portanto, assumir que se pertença a uma classe com poder aquisitivo maior não é nenhuma novidade reveladora, isto é evidente. Agora, daí a decretar que a classe quer mandar e desmandar no que é bom ou não em termos culturais, assim como, rotular as "elites" dentro de uma visão discriminatória colocando a todos no mesmo balaio de esteriótipos vai uma distância muito grande, Ate porque, como eu já disse, existe uma infinidade de pessoas ricas que gostam de brega, assim como, uma infinidade de pobres que detestam.

Deixei claro também, que a opinião não era da Presidente dos Amigos do Silêncio, para não misturar as estaçõs, a instituição não atribui classe , ritmo, cor, raça ou credo ao barulho.A opinião sobre o ritmo é da pessoa física Rejane que nunca teve receio de irritar confrarias, adeptos ou simples induzidos pela mídia do que quer que seja com sua opinião. Quase me bateram certa vez quando eu disse que não gostava de João Gilberto, considerado gênio, afinal, não consigo nem ouvir o que ele canta! Que genialidade é esta? Não gosto e pronto. Critiquei certas melodias ridículas da Bossa Nova e fui considerada herege. Mas insisto: "O pato, vinha cantando alegremente..qué...qué...", só com muito álcool para achar isso o máximo.

Tive a ousadia de dizer que "Cats", o musical sensação da época não era lá essas coisas, me olhavam com espanto e desprezo. E assim sigo, não me rendendo aos que querem impor algo como sendo bom, e neste diapasão, o tcnomelody na minha opinião não passa de um ritmo voltado exclusivamente para venda, enjoativo ,com letras vulgares e sem a menor arte. Aliás, tem pré requisitos suficientes realmente para estourar no Brasil e no mundo, quem disse que europeus e americanos não gostam de coisa ruim? Quanto ao resto do Brasil isto ainda é mais fácil, no país do Axé, do Tchan, do Funk, do´"só no sapatinho" ," baba baby", entre tantos outras lástimas da mídia, qualquer coisa tem chance, é questão, repito, de uma Marlene Matos na administração.

Na Europa lhe digo que as chances são grandes, nos EUA as coisas complicam, são mais seletivos e preconceituosos, entretanto, a coisa é assim, ele gostam de curtir a bagunça no quintal dos outros. Vem aqui, fazem farra de todo tipo e voltam para seus países quietinhos e santos mantendo as leis e a normalidade. Quem se atrever a alucinar e colocar som alto em casa ou bares abertos, recebe em cinco minutos a visita da polícia. Certa vez em Daytona Beach, conhecida figura paraense pensou que estava em Salinas e ligou o som do carro, em minutos os robocops que patrulham a praia avisaram, ou desliga ou vai preso e fica sem o carro, simples assim.

A diferença é esta, Europa e EUA chegaram à excelência do cumprimento às normas e respeito ao próximo. Existem atividades para todos os tipos e gostos, entretanto, a regra basilar é não incomodar. Tem boates na Espanha que começam às 6:00 da manhã, porém, na rua não se ouve um ruído sequer e nada de gente na porta ou carro com som alto - ou entra ou sai - e lá dentro é só piração com direito a palco móvel. O sujeito alucina sem incomodar ninguém.

Voltando ao barulho em Belém, é inegável que sempre foi uma capital festeira, porém, não era barulhenta. Esse fenômeno foi recente e começou, justamente, com a onda das aparelhagens. O som era moderado e não incomodava tanto. Eu mesma sou testemunha da evolução do barulho. Morava no último andar de um edifício e na rua ao lado havia um barzinho que nem teto tinha. Ali o dono ligava um "três em um" e a turma se divertia muito. Com o som controlado ninguém precisava gritar para falar e o bar não incomodava ninguém, para se ouvir qualquer coisa tinha que ficar na janela, entrou em casa acabou. O sujeito começou a faturar um pouco , comprou um equipamento mais caro e colocou um teto de sapê, ainda assim, mantinha os decibéis e a frequência aumentava. O tempo passa, eu grávida da minha segunda filha vejo chegar umas caixas de som, mas, não imaginei o que vinha pela frente. Fui ter a criança e na primeira noite do bebê em casa aquele som de estremecer todas as janelas anuncia a desgraça: " Mestreeeeee soooommmmm". Daí para frente foi um inferno. Um dj ensandecido não parava de berrar madrugada à dentro e o ritmo - brega. O volume das vozes aumentou na mesma proporção e o local se tornou a filial do inferno para a vizinhança com direito até a tiros e muita brigalhada.

De fato, existem dois focos de discussão: A qualidade do brega como ritmo e a poluição sonora. Fato é que - inexoravelmente - estas estradas se encontram. O que toca nas festas de aparelhagem? O que toca nestes carros/boates que circulam criminosamente acordando todo mundo de madrugada? O que toca naquele vizinho que insiste em obrigar a toda vizinhança a ouvir o som dele? O que toca nas orlas? Garanto que não é rock, bossa nova, tecno, carimbó etc... é o brega, e às vezes ,um goiano perdido com o sertanejo. Por esta razão o brega chama a atenção para si e causa toda essa celeuma. Se não estivesse ligado umbilicalmente com milhares de reclamações que enchem o CIOP, a DPA e a DEMA de denúncias, talvez nem estivéssemos aqui falando dele. Ocorre que é um ritmo tocado nas alturas que incomoda horrores e que corre o risco de ser tombado como patrimônio, isto sim assusta e provoca a polêmica, pois, daí para termos um carro de som em cada esquina é um passo.

Se hoje o cidadão para conseguir a tutela do Estado quando está sendo vítima de poluição sonora já é uma dificuldade, imagina com o tombamento. A polícia quando chamada - se aparecer - vai dizer: " Mas o senhor está reclamando contra um patrimônio histórico tombado, que absurdo!". Vamos correr o risco de responder ação penal sob a capitulação da Lei 9605/98 se quebrarmos o cd da periquita. Imagina o som ambiente de uma cerimônia oficial de Estado: " vou te comer...vou te comer...vou te comer...

Olha Timpas, vamos falar sério, quem quiser faturar horrores com o ritmo que fature, nada contra, Nós já sobrevivemos à "boquinha da garrafa" , " só as cachorras", "créu" e tantas outras bizarrices. Só nos façam um favor, mantenham dentro dos limites das normas federais determinadas pelo CONAMA aquela vozinha prá lá de chata das interpretes do gênero feminino do brega, é só isso que pedimos, de resto, não existe uma guerra em prol da estigmatização de um ritmo, só uma chamada à realidade e ao bom senso, afinal, só aqui inventaram essa graça de se atribuir status de tombamento a um ritmo musical - me perdoe a franqueza - de gosto para lá de duvidoso como tantos outros que já surgiram.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Debate entre Timpin e Rejane Bastos, presidente da Associação Amigos do Silêncio

Segue aqui minha tréplica, no debate com a Advogada Rejane Bastos. Para quem está pegando o bonde andando, tudo começou com um texto publicado na minha coluna jornal O Liberal, do estado do Pará, que pode ser lida clicando aqui. O blog publicou a réplica da advogada, que pode ser lida aqui. Eis então minha tréplica:

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Fiquei feliz quando recebi a resposta da advogada Rejane Bastos, referente às minhas criticas que fiz com relação a uma carta aberta que ela havia divulgado na imprensa. É urgente que se abra uma linha de debate em torno do reconhecimento do Tecnomelody como autêntica manifestação cultural do estado do Pará.

Digo isso porque o ritmo está na eminência de estourar nacionalmente - quiçá globalmente - e continuar marginalizado no seu local de origem acabaria por revelar a todos as contradições de uma sociedade paraense com dificuldades em lidar com sua identidade. Por isso, comento aqui os argumentos da Dra. Rejane, na esperança de que no final deste debate, ambas as partes saiam ganhando.

A resposta começa com a alegação de que criou-se no Brasil um preconceito contra as supostas "elites" (aspas dela). No mesmo parágrafo, afirma que o que eu falei sobre "uma elite que nega seus traços de índio, pinta o cabelo de loiro e sonha em morar em condomínios, passar frio e usar casaco" (aspas minhas) é preconceito de minha parte. Só que no final de seu texto ela afirma que sente orgulho de pertencer à alta sociedade e ter condições de viajar pelo país para sentir frio. Onde está meu preconceito então? Afinal de contas ela assumiu que existe sim uma elite como a que textualmente foi citada por mim.

Mas o cerne da questão é tocado no seguinte trecho de uma frase da Dra.Rejane: "...trabalhadores que chegam exaustos em casa e sequer podem ver uma televisão, porque os Timpins da vida querem impor sua cultura em decibéis criminosos". Essa argumentação toca em dois pontos chaves nessa discussão.

O primeiro é a associação de que o problema de Belém ser uma cidade barulhenta deve-se exclusivamente a um ritmo específico, o Tecnomelody. O que eu quero dizer é que a luta contra a poluição sonora de Belém é uma causa de relevância incontestável e não está em questão. O que está em questão é essa associação direta, assumida reiterada vezes. E não só isso, o tempo todo o juízo de valor está lá, reafirmando que se trata de "letras ruins, melodia enjoativa". É novamente uma elite que se acha na consdição - ou no conhecimento de causa - de definir o que é bom, o que é ruim e o que é correto o povo ouvir.

O segundo ponto é tentar entender o que fez com que Belém se tornasse uma cidade tão barulhenta e o que é humanamente possível para remediar isso. Não se pode dizer simplesmente que o povo é ignorante e que uma boa educação resolveria. Ignorancia e falta de educação existem em todas as capitais, entretanto só Belém ergue a taça do Campeonato Brasileiro da Zoeira.

O hábito de se ouvir música na rua - e alto - surgiu lá nas décadas de 60 e 70 nos bairros pobres. Em parte para mostrar aos vizinhos que ele conseguiu ter um aparelho de som (naquela época um status absurdo), em parte porque em Belém faz muito calor e na periferia da cidade ir para a rua ouvir música nos finais de semana é uma forma de escapar do ambiente sufocante das casas de madeira e alvenaria sem ventilação dos bairros mais pobres.

Some-se a isso o fato de que o morador da periferia é de origem negra e indígena - povos de uma extrema musicalidade - e de que devido à localização geográfica, acabou por ter acesso a diversos ritmos. Desde os anos 50 se contrabandeavam discos de rock dos Estados Unidos e discos de cumbia, soca e merengue do Caribe e das Guianas. Foi o que possibilitou, por exemplo, a criação da guitarrada e da lambada, ritmos nascidos do contato da periferia da cidade com ritmos criados em outros países. Isso acabou por gerar um ambiente em que a música tem um papel muito forte.

Resumindo: existem fortes razões culturais, sociais e geográficas para Belém ser o que é. Diante de tantas contingências, sair por aí decretando leis que impeçam as aparelhagens de tocarem, apreendendo equipamentos de som ou fechando bares apartir de um certo horário, não resolve a questão. Muito pelo contrário. Corre-se o risco de se criar um estado policialesco que, diante do quadro agravante do aumento da criminalidade, pode ser muito perigoso.

São essas reflexões que os senhores deputados devem se fazer na hora de aprovar leis que se refiram ao mercado de consumo do Tecnomelody. Não esse debate acadêmico e vazio que quer tornar o Tecnomelody patrimônio cultural. Isso não faz o menor sentido. Um patrimônio cultural é algo construído com o tempo e o Tecnomelody é muito novo. Seria como se os baianos decretassem que Rebolation é patrimônio cultural do estado da Bahia.

O argumento decisivo contra o tombamento do Tecnomelody - e o termo tombamento aqui adquire até um duplo sentido - é que uma prática dessas visa a proteção de uma cultura contra infiltrações externas que denigram sua pureza. Ora pois, o Tecnomelody é um ritmo em constante inovação e sem nenhum pudor em importar samples de sanfona sertaneja, refrões de Cúbia Villera argentina ou fazer versões de hits americanos.

Para finalizar, volto a agradescer à advogada Rejane Bastos por ter aceitado esse debate. Em tempos de falência da dialética, onde a facilidade de emissão de opiniões muitas vezes vem mais para prejudicar de que para ajudar a resolver questões de suma importância para a sociedade, debater em um ambiente saudável e civilizado, é extremamente construtivo.

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