segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tecnobrega e o Neocolonialismo Musical

Na revista Veja desta semana um matéria com a seguinte manchete: Tecnobrega - a nova música de exportação brasileira. Até aí, tudo ok, afinal não é de hoje que se aponta esse potencial para a nova música paraense. O problema é que ao se ler o corpo da matéria algumas coisas saltam ao olhos e demonstram que a coisa não é assim tão simples e bonita quanto o título sugere.



Já no primeiro parágrafo a referência como tóxica ao se referir a mistura de carimbó, brega e eletrônica do tecnobrega já entrega o jornalismo parcial da revista, que não se limita a noticiar, mas sempre que possível emitir juízo de valor. O juízo de valor de sua linha editorial, importante ressaltar. Em seguida um erro de pesquisa e apuração primário, afirmando textualmente que Wanderley Andrade e a Banda Calypso tocam tecnobrega. Essa poderia motivar Chimbinha a processar a revista por difamação, posto que o guitarrista é um dos principais detratores do ritmo, não perdendo uma única oportunidade na mídia para falar mal. O caso de Wanderley Andrade, além dele não tocar tecnobrega, é preguiça de pesquisar, o cantor a anos caiu na irrelevância e hoje em dia só toca em muquifos de quinta categoria em cidade do interior.

Mas o mais grave na matéria nem é a matéria, como eu posso a estar dando a entender. O grave é que a música está sendo exportada uma pinóia! Pelo que a matéria revela, o que está acontecendo é que os DJs Europeus estão vindo ao Brasil, visitando nossas periferias (o funk carioca tabém é citado), comprando CD nos camelôs e levando de volta pro velho mundo para remixar e tocar em suas festas. Qualquer semelhança com o período colonial, quando os portugueses vinham aqui para buscar nosso pau brasil, açucar e café, não é mera coincidência. É bem isso que está acontecendo.

E isso só está acontecendo por conta da mentalidade de nossa elite cultural, tão emblematicamente representada pela Veja em matérias como essa. Uma elite que não dá valor ao que é produzido em seu quintal, por achar que se trata de uma coisa menor, fruto da ignorância e rusticidade de um povo feio e incapaz. Porque não se engane, quanto estampa uma foto bonita da Gaby Amarantos na publicação, a revista não está ratificando a cantora paraense por seu talento. A prova está na seguinte frase: "A versão de Águas de Março, imortalizada por Tom Jobim e Elis Regina ganhou uma versão estridente e frenética da cantora paraense".

Estridente? A voz de Gaby Amarantos estridente? Certamente o autor escreveu, mas não ouviu.

Leia aqui a matéria original da Veja

3 comentários:

Caro, Cabaré... eu não entendo muito esse negócio de creative commons, mas não é essa liberdade, essa troca de informações que o povo do tecnobrega quer? A galera que revolucionou a indústria da música nacional deveria se tocar que gringo só tem aquele jeitão de otário, mas quando eles vem aqui é pra fuder (literalmente). E nós com a nossa ginga, nosso jeito malandro vamos sempre sobrar quando o "porco" estiver realmente gordo. Há 500 anos é assim. Portanto, vamos nos contentar com os espelhinhos e os pentes.

Concordo também que ao falar do gringo que veio pra cá pegar cd's e mixar parece mais "lavagem de dinheiro". O tecnobrega aqui é "sujo", mas depois que um gringo gostou, ele é "limpo" e lindo. Ao mesmo tempo é preciso o ritmo ir além do Brasil pra ser valorizado é? Coisa feia mesmo! Só porque o francês, o espanhol, o chinês ou sabe lá mais quem gosta, aí o brazuca "aaah, agora eu vou gostar também".
Sem contar que citar Águas de Março como referência vem muito da ideia de MPB como a música fina, ou seja, o tecnobrega pra ser fino precisa de tais regravações. Entendi bem? rsrs

ô timpim, esse negócio dos gringos roubarem eu acho meio coisa do passado. primeiro, que eles não precisam vir aqui pra pegar as músicas. a internet taí pra isso, e os paraenses, jogam a música pra todo mundo, brasileiros e gringos, o que consequentemente não lhes dará nenhuma grana de direito autoral.
acho interessante esse fascínio gringo pela nossa música, e ainda mais por essa "música periférica", o que acaba levando o pessoal pra tocar fora do brasil e quetais. a música entra numa coletânea de guettotech e eles ainda ganham uma graninha. quer dizer. tem muito maius angu nesse caroço.
acho ruim é da matéria começar pelo gringo, o que mostra desconhecimento mesmo, já que o pará vem reinventando a roda comercial musical do brasil tem uns 10 anos já.

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